Vou à cidade – cidade para os velhos como eu é o centro de
Curitiba – e passo para conversar com meu amigo pipoqueiro paranista. O
companheiro está meio desolado, teve perdas com a greve dos transportes, morre
de saudades dos militares. Falamos de vagabundos em geral, roubos, trapaças,
cinismos, mulheres feias, línguas de serpente e estacionamos no futebol.
Ele gira a manivela e as danadas explodem dentro da panela
reluzente de alumínio polido. “E o Paraná, candidato ao título?”, pergunto
irônico, inebriado pelo aroma delicioso. “Claro, é só o que se pode ganhar, o
caneco é nosso”, responde tirando a panela do fogo. Dá uma vigorosa sacudida,
despeja o conteúdo fumegante no carrinho envidraçado e continua: “Só vocês para
rebarbar a única coisa que se pode ganhar”.
O amigo é um sábio. Realmente, o que um time paranaense pode ganhar
além do regional? Digo que Coxa e Tubarão vêm fortes, brinco que o Furacão está
na Europa, prefere canecos espanhóis, feitos com o mais puro aço de Toledo. Ele
ri, passa às minhas mãos um pacote da salgada coroada com pedaços de coco
queimado e tripudia, diz que se não ganharmos hoje do time coreano, vamos para
a segunda divisão de Marbella, tudo com um sorriso de malignidade infinita.
É irmãos, hoje jogamos contra o Suwon Samsung Bluewings. Já
perdemos para angolanos, chineses e agora temos no horizonte os coreanos. Se
passar no site do clube, vou assistir. Se o jogo complicar e alguém resolver
fazer uma inodora e insípida pipoca de micro-ondas, vou ter saudades do amigo,
do seu sorriso tão maligno quanto a língua das serpentes.