sábado, 31 de janeiro de 2015

LÍNGUA DAS SERPENTES

Vou à cidade – cidade para os velhos como eu é o centro de Curitiba – e passo para conversar com meu amigo pipoqueiro paranista. O companheiro está meio desolado, teve perdas com a greve dos transportes, morre de saudades dos militares. Falamos de vagabundos em geral, roubos, trapaças, cinismos, mulheres feias, línguas de serpente e estacionamos no futebol.

Ele gira a manivela e as danadas explodem dentro da panela reluzente de alumínio polido. “E o Paraná, candidato ao título?”, pergunto irônico, inebriado pelo aroma delicioso. “Claro, é só o que se pode ganhar, o caneco é nosso”, responde tirando a panela do fogo. Dá uma vigorosa sacudida, despeja o conteúdo fumegante no carrinho envidraçado e continua: “Só vocês para rebarbar a única coisa que se pode ganhar”.

O amigo é um sábio. Realmente, o que um time paranaense pode ganhar além do regional? Digo que Coxa e Tubarão vêm fortes, brinco que o Furacão está na Europa, prefere canecos espanhóis, feitos com o mais puro aço de Toledo. Ele ri, passa às minhas mãos um pacote da salgada coroada com pedaços de coco queimado e tripudia, diz que se não ganharmos hoje do time coreano, vamos para a segunda divisão de Marbella, tudo com um sorriso de malignidade infinita.

É irmãos, hoje jogamos contra o Suwon Samsung Bluewings. Já perdemos para angolanos, chineses e agora temos no horizonte os coreanos. Se passar no site do clube, vou assistir. Se o jogo complicar e alguém resolver fazer uma inodora e insípida pipoca de micro-ondas, vou ter saudades do amigo, do seu sorriso tão maligno quanto a língua das serpentes.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

GASOSA DE FRAMBOESA

Diz a máxima do Barão da Água Verde: “Quando o Petraglia pensa, a coxarada treme”. Os piás de prédio que assumiram o Coritiba – o adjetivo me foi passado por um coxa roxo – mostraram coragem, resolveram se unir ao Furacão na obtenção de patrocínio da TIM. Já estava na hora dos arquirrivais se unirem pelo crescimento mútuo. Excelente.

Assisti Brasil 2, Paraguai 0, seleções sub 20, o segundo gol de Marcos Guilherme, que já havia acertado a trave cara a cara com o goleiro. O jogo confirma a ideia de que Marquinhos não é armador, é atacante. Próximo jogo contra a Argentina. Se não se cuidar o Brasil leva um sapeca-iaiá.

Confirmada a entrega do teto retrátil para 15 de março. Leio que os ânimos entre a empresa espanhola e o Atlético foram apaziguados, o cronograma está sendo mantido. Ótimo. A paz é sempre bem-vinda.

O Atlético anuncia inúmeras vantagens para o sócio Furacão, todas elas listadas no site oficial. Guloso, me interesso pela melhoria nos serviços de alimentação, que terá “o cardápio ampliado e melhorado”. Precisamos voltar aos intervalos gordurosos, aos encontros calorosos, à volta da vida na Arena magnífica. Dá-lhe Holzmann.

Discute-se no Brasil o preço dos ingressos nos regionais. Penso que o regional é o aperitivo. Barato, faz o cliente conhecer o restaurante, se animar a reservar mesa para o resto do ano. Caro, empurra o cliente para a televisão, para o sofá, difícil de abandonar. Fosse eu o dono do boteco, além do ingresso de pai para filho, o freguês ainda ganharia pão com bife regado a gasosa de framboesa.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

DESEJO BOA SORTE

O amigo quer que eu viva seu sonho, esqueça a minha a realidade.  Impossível, sinto muito. Busco outras realidades e assisto aos componentes da bancada do “Redação Sportv” chegar à conclusão que teremos uma temporada tecnicamente modesta, inferior à do ano que passou. Justificam a hipótese com o fim dos investidores, o baixo volume de recursos disponíveis para as transações, a saída dos nossos melhores jogadores para o futebol chinês.

O amigo já percebeu que o destino dos nossos craques não é mais a Europa? Tardelli, Everton Ribeiro, Ricardo Goulart estão rumo ao reino dos mandarins, à terra de Mao, tão mau que com sua revolução matou mais de trinta milhões de chineses. Sinal dos tempos, os europeus não nos querem mais, o sete a um deixou sequelas.

Se a temporada modesta acontecer – é esperar para ver –, os times valerão muito mais pelo trabalho coletivo do que pela capacidade individual de seus jogadores. Vale dizer, o trabalho dos treinadores terá importância capital. Então, estamos nas mãos do seu Claudinei.

Acho Claudinei bom treinador. Vai precisar trabalhar duro, buscar na base o armador indispensável, testar esquemas, fechar a defesa, acertar passes, a pontaria, perder gol feito nem pensar. O mais importante é entender o nível do material humano disponível, ter os pés no chão. A longa pré-temporada vai lhe dar tempo. Do meu posto de observação, confiando, lhe desejo boa sorte. 

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

VOLTAR PARA A PRAIA

Amigos de sofrimento, não tenho boas notícias. O nosso Furacão de 2013, que virou um tornadinho em 2014, agora é uma tempestade tropical que não assusta nem time chinês. Só para que o irmão possa sentir a temperatura do time atual, no jogo em que o Atlético perdeu de 2 a 0 para um certo Benfica Luanda, seu Claudinei sentiu falta de Paulinho Dias. “Vige!”

Observada a penúria do elenco rubro-negro, o sentimento do treinador tem tudo para ser verdadeiro. As contratações até agora apresentadas são de time caído para a segunda divisão com graves problemas de caixa, que tenta se reforçar fazendo apostas, trocando figurinhas com irmãos de bom coração.

Acabo de assistir Guangzhou 2, Atlético 1. Aí vem o pior da história. Perdemos a noção da realidade, nos achamos a baguete da padaria, tentamos jogar no ataque e vamos tomando gols com falhas bisonhas da defesa. Claudinei tem que imediatamente colocar os pés no chão, voltar a jogar por uma bola, defender e atacar quando possível, é o que dá para fazer.

Para que o amigo vá preparando seu coração, vou lhe dizer que aos 76 minutos, para salvar a lavoura, seu Claudinei trocou Bady por Felipe, o clássico seis por meia dúzia. Releio meu texto e fico com a ideia de que para quem anda trocando Guerron por Rincon é muita certeza, deve haver uma saída. Mesmo assim, olho para a mala ainda meio feita, meio desfeita, e penso: Melhor voltar para a praia.