O jantar de fim de ano no meu condomínio foi
pleno de final da Copa do Brasil. Os coxas com seus sorrisos indecifráveis, os
atleticanos que foram comemorando a excepcional participação da torcida, as
lendas pipocando, os sons do vestiário ouvidos de mil maneiras, o que o
Petraglia disse, o que não disse, a decepção com a equipe, com as atuações
individuais, as diversas opiniões sobre Paulo Baier.
Ao amigo que tem a paciência de me acompanhar
tenho o dever de dar minha opinião sobre a atuação de Paulo Baier. Ressalto que
não conheço o velhinho, nada ganho para dar lustro à sua história, nem me
incomoda opinar negativamente sobre sua participação em campo, limite imposto
ao julgamento de todos nós.
Paulo Baier não fez uma boa partida
tecnicamente, errou passes, quando o Atlético suspirou no Maracanã, conseguiu
atacar minimamente, o armador errou cobranças de falta que pareciam ser a
salvação da lavoura. Entretanto, PB jamais se escondeu do jogo, foi
participativo, voltou para buscar, tentou armar o time, todos sabemos, não conseguiu.
Num time acuado, escondido, Baier foi corajoso, fez o que a braçadeira de capitão
lhe condenava, se a vitória faltou, não foi por falta de seu empenho.
Alguém dirá que Petraglia estava certo ao
dizer que Baier nunca ganhou nada. Só alguém que nunca jogou a pelada da sua
vida, tendo que colocar a bola de plástico entre dois tijolos colocados no meio
da rua, e não conseguiu transformar seu sonho em realidade, poderá imaginar que
um jogador sem a adequada cooperação de seus companheiros é capaz de,
solitariamente, fazer milagres. Se alguém avançou nessa linha de pensamento,
cometeu erro grave.
Paulo Baier cumpriu o seu dever como capitão.
Devia sonhar com a vitória como todos nós. Todos nós não conseguimos, nem
Baier, nem eu, nem você, nem Mancini, nem Petraglia. Fim de uma bela história.
Ficam as lendas, as frases, os sussurros, que fazem parte, mas a nada levam. Os
ódios momentâneos, as palavras ditas ao arrepio do bom senso devem ser
esquecidas, uma análise fria das condições que levaram à derrota conduzida
profissionalmente.
Enfim, a vida continua. No inesperado dia de
sol em que eu estava simplesmente triste, nasceu na cidade do México meu neto
Leonardo, um menino lindo, um presente de Deus para adoçar meu coração, dizer
que sou eterno, que minha filha de olhos de jabuticaba está feliz. É meus
irmãos, Deus sabe a hora para tudo, ele nos sustenta a cada passo. No dia em
que eu estava simplesmente triste, Ele resolveu me colocar no colo.
Passei o dia longe da bola, dei apenas um
rápido olhar no furacão.com, tentei ler com rapidez as declarações de Mancini e
fui acometido por indignação indigna de alguém tão resignado com a derrota
quanto eu. Vou registrar frases retiradas do conteúdo “Foi um Atlético
diferente, lamenta Mancini” para que o amigo possa entender, concordar ou
discordar do meu ponto de vista. Diz seu Vavá:
“Não vimos o Atlético jogando com velocidade,
sendo aquela equipe que finaliza bastante. O ritmo de jogo foi ditado pelo
Flamengo. O Atlético foi perdendo o ímpeto... De certa forma, jogamos
diferente. Por isso, fez um jogo tão abaixo”.
“Ficamos muito morosos no que diz respeito à
transição de bola, que demorava muito a sair de trás. O meio-campo não atuou da
forma como normalmente atua. A bola chegou pouco ao ataque. Foi um Atlético
diferente. O que fica é que foi um jogo atípico... Foi um jogo moroso, onde o
Atlético aceitou o ritmo que o Flamengo desejava, segurando o 0 a 0 e, no
final, nossa equipe acabou tomando os dois gols”.
Fosse eu repórter, perguntaria ao seu
Mancini: “E o que você, o comandante dessa equipe morosa, fez para mudar a
situação?”. A meu ver, o treinador passa a ideia de que a partir do
apito inicial o destino da partida está nos pés dos jogadores.
Isso podia acontecer nas décadas de
cinquenta, sessenta, quando os craques e seus virtuosismos ganhavam partidas,
pouco incomodados com seus técnicos a ressonar nos toscos bancos de madeira.
Hoje não mais, existem as substituições, o treinador joga com o time em espaço demarcado
para isso, conta no banco com dezena de jogadores a utilizar. Os técnicos
passaram a ser venerados, ganham fábulas pelo protagonismo assumido.
Mancini podia ter modificado posicionamentos
individuais, avançado a defesa, exigido movimentação, trocado Felipe aos quinze
minutos quando ficou claro que estava dominado pela marcação, esperneado ao
lado do campo exigindo empenho. Da minha poltrona nada vi, alguém à beira do campo
pode me contestar com veemência e eu me curvarei aos novos fatos, embora as
câmeras não tirassem os olhos do treinador rubro-negro.
Mancini tem a seu favor o minguado elenco, as
saídas de Léo e Everton fizeram estrago tremendo. Tem ainda rendimentos nulos,
atuações dedicadas, mas tecnicamente deploráveis a lastimar. Porém, colocar-se
como assistente do desastre não fica bem. Podia ter cumprimentado o seu Jayme,
assumido que tomou um baile do vovô treinador. Acontece. Aconteceu. Ninguém
jamais lhe exigiu a vitória.
Na derrota no Maracanã, seu Mancini tem
participação efetiva, está de braços dados com os jogadores. Posso incorrer em
erro grave ao pinçar declarações e analisá-las sem maior aprofundamento. É um
risco, porém, impossível deixar passar. Aprendi que o comandante é o
responsável por tudo que acontece ou deixa de acontecer. Se você quer comandar
tem que assumir o bom e o ruim, em terra de Marlboro é assim que se faz.
Se nada além da bela festa, do lindo uniforme
branco atleticano merece o elogio, que não se gastem palavras com defeitos. Proclame-se
logo o herói da merecida glória, aquele, que com Carlos Eduardo em campo, jogou
com dez duas partidas, deu o título ao Flamengo, salvou o ano do Fla do seu
coração. Parabéns vovô Jayme.
Insisto aqui em não apontar defeitos, e foram
tantos e de tantos tipos, que nem às lágrimas dei direito de sulcar a face. Desejo
apenas o espantar dos erros, a volta justa ao cenário vivo, à busca firme pela
vaga incerta.
O calendário pré-Copa 2014 será desértico para
os times fora da Libertadores. Um estadual, que desdenhamos, poucas partidas
pelo Brasileiro. Estamos a um passo da imprescindível América, só me faltam
agora abalos pela derrota reta, um jogo fraco contra o Santos sem vontades.
Esse Atlético, que levou sete mil atleticanos
ao Maraca, com todas as dificuldades e perigos, para jogar vinte minutos decidido,
tem o dever de conquistar a vaga, premiar com raça o povo rubro-negro.
A vida continua, foi só mais um jogo, dos
tantos que vi, dos tantos que perdi. A camisa jogadeira volta a conviver com
outras, os netos ficam sem possível título, eu vou sair sem espalhar orgulho,
sem qualquer trinca na paixão imensa, triste, simplesmente triste, num, até
quando, inesperado dia de sol.
Tirei o dia para passear com minha camisa
jogadeira, ouvir os gritos dos atleticanos passando em seus carros, as buzinas
imitando o hino, entrar na loja de produtos naturais, sentir o natural
desconforto de seu dono, um coxa rápido em fazer o troco, os olhos baixos como
se meu colorido impactante estivesse próximo do invisível.
Fiz minha entrada triunfal no supermercado,
polegares erguidos, sorrisos confiantes por todos os lados, o menino especial
pede um gol logo no começo, um senhor mais do que simpático avança o placar,
segundo ele dois a dois, eu sapeco um excelente como resposta.
Vou ao a quilo e não me incomodo com a menina
catando alface por alface, com a mãe convencendo o menino a comer berinjela,
com o engravatado gastando todo o azeite na sua salada mediterrânea, com a
velhinha hipnotizada entre a maminha na mostarda e o peixe grelhado. Hoje nada
me incomoda.
Quero estar ali de outdoor, mostrando meu
orgulho, procuro o coxa que todo dia está vestido de begônia e o encontro no
escanteio, metido num pretinho básico, comendo de frente para a parede. A
menina me diz, “hoje não deu, mas amanhã eu venho com a minha camisa”, e eu
recomendo, “não esqueça a faixa”.
Chego em casa e o telefone toca, é o amigo
convidando para o almoço de fim de ano, incrédulo com a minha presença em
Curitiba. Digo que não deu, a cirurgia de catarata, que fiz para ver o Furacão
campeão no melhor do seu colorido, pede repouso, vou ver pela TV, pronto para
ir à janela gritaaaaaaar campeão.
Curitiba está tensa, as flores de campo
secam, é pouco em relação a botafoguenses, vascaínos, tricolores e corinthianos
gritando “Atlllééético! Atlllééético!”. Confortado por tanto apoio, estou
relaxado dentro da minha camisa só se veste por amor.
Os foguetes espocam aqui e ali, é a festa em
preparação. Quem não marchou sempre cantando o hino do Furacão, prepara o
ambiente, bota a bandeira na janela, acende a vela para o santo, prepara os
salgadinhos, a cerveja, o refri para os noventa minutos de encantamento, agarrado
às glórias do passado, pronto para comemorar o especial feito do presente.
É rubro-negro de todos os matizes, de todos
os quadrantes, fora de campo, dentro de campo, só por que conheço o teu valor,
só por que sou um orgulhoso rubro-negro de fé, te digo de coração, prepara para
pular.
A escalação do Flamengo não é difícil
adivinhar. Felipe; Léo Moura, Wallace, Samir e André Santos; Luiz Antônio,
Amaral e Elias; Carlos Eduardo; Hernane e Paulinho. É o time que jogou contra o
Furacão em Curitiba. No jogo contra o Corinthians no domingo, vovô Jayme colocou
para descansar Léo Moura e André Santos, substituídos por Digão e João Paulo, e
entrou com Gabriel no lugar de Luiz Antônio ausente por amarelos. A forma de
jogar continuou a mesma, nada mudará no jogo de hoje.
O Urubu que viu na marcação do gol seu
principal objetivo fora de casa, agora deverá ter como prioridade evitar o gol
atleticano. Isso não significa jogar na defesa, o Maracanã não entenderá um
Flamengo defensivo, por mais que os adoradores da torcida do Fla a elogiem pela
sua participação proativa em quaisquer condições. Jogar na defesa contra o
Atlético está fora de cogitação.
Então é repetir o jogo contra o Timão, atacar
com reposicionamento defensivo rápido, oito atrás da linha da bola, Carlos
Eduardo e Hernane na frente para o início do contra-ataque.
Por que o Corinthians não conseguiu marcar,
empatar o jogo definido por gol de fora de Paulinho ainda no primeiro tempo? O
Timão foi lento na troca de passes, quando tentou acelerar errou, seus homens
de frente foram desarmados inúmeras vezes, deram o contra-ataque ao Fla. Essa é
virtude do time carioca, é rápido no roubo da bola, bobeou ficou sem a
carteira. A Interpol já avisou.
A rapidez na recomposição defensiva, a força
do desarme flamenguista, indicam o rumo da atuação atleticana. Sair para o
ataque em velocidade. Daí, começo a ver Weverton dando chutões para frente.
Calma! Em três bons passes pode-se chegar ao ataque com a mesma velocidade.
Ficamos então na dependência de jogadores eficientes na execução desses três
bons passes.
Outro caminho é copiar a força de desarme da
ave agourenta e voar para o gol de Felipe, sem demoras, sem erros,
movimentar-se, puxar a marcação, abrir a brecha e passar enquanto se tem meio
metro para agir com correção. Voltamos à necessidade de jogadores com
características específicas.
Então imagino como Mancini vá escalar o
Furacão: Weverton; Juninho, Manoel, Luiz Alberto e Pedro Botelho; Deivid e João
Paulo; Baier e Zezinho; Marcelo e Éderson. Esqueci o Felipe da ótima atuação de
domingo? Esqueci, penso que Zezinho pode ajudar no desarme, conhece melhor a
função de Everton, avançado pode enfiar boas bolas.
Com Baier na frente dos zagueiros, fazendo
pivô para a infiltração de quem vem de trás, ou para o chute de fora, daí a
escalação de João Paulo, Marcelo alternando com Éderson pelos lados do campo,
as paradas vão acontecer, o gol é certo. Baier tem que observar a posição de
Felipe nas faltas e escanteios. O goleiro costuma adiantar-se, o velhinho
saberá se aproveitar da situação.
O que eu gostaria que fosse dito na preleção?
Que o jogo é de noventa minutos, seja qual for o resultado é lutar
obstinadamente até o apito final. Em futebol um minuto é uma eternidade,
pode-se fazer muito, ou perder muito. Então é atenção, garra, foco no coletivo,
apareceu a chance, bola na rede.
Vai dar, a taça é linda, tem passagem
assegurada no voo de volta. A meteorologia já avisou, hoje é dia de Furacão na
capital fluminense, é dia de surf, dia de urubu chorar.
A mala está sobre a cama, o atleticano joga
uns poucos pertences necessários e acomoda delicadamente sua camisa jogadeira
ao lado do santo de devoção. Ela faz a viagem captando bons augúrios da
santidade, se energizando para vestir o corpo atleticano ainda no hotel,
minutos antes de sair para o jogo histórico. Vestida a camisa, protegido contra
tudo, uma pequena prece e lá vai o irmão rubro-negro rumo à van que o conduzirá
ao lendário Mário Filho.
No coração vai a dúvida – Vai dar, não vai
dar? –, a esperança, eterna amiga do atleticano de fé, vai junto. Como posso acalentar
a esperança baleada pelo empate em Curitiba? Lembrar ao amigo que o esporte é o
futebol é o primeiro passo. O jogo da bola é o mar das incertezas, o
regulamento da Copa do Brasil encrespa suas ondas, a cada minuto, a cada
instante, os ventos mudam, são noventa minutos de instabilidade, o caneco
volúvel, irreverente, brinca com os oponentes, escolhe abusado as mãos a se entregar
definitivamente.
O amigo vai dizer que é muito pouco. O
Flamengo jogou bem em Curitiba, teve personalidade, controlou o andamento da
partida, andou para vencer, o que não fará no aconchego do Maraca? Dar mérito
ao Urubu é reconhecer sua boa partida, exagerar no reconhecimento é dar crédito
a antagonista que finalizou três vezes contra o gol de Weverton, duas delas
para fora. O bicho não é tão feio assim, ter isso bem claro é imprescindível.
O Atlético penou para entrar no jogo, fez seu
gol, e quando estava melhor sofreu o empate fruto de mau posicionamento defensivo.
A maximização do valor do tal gol fora abalou a equipe, contaminou a torcida,
fortaleceu o Flamengo, o Furacão não conseguiu voltar às redes de Felipe,
embora tenha feito o goleiro flamenguista trabalhar em três lances importantes.
Eu diria que para o primeiro combate, o Urubu estava mais bem preparado
psicologicamente.
Amanhã, o Furacão a entrar em campo terá seu
emocional fortalecido. Já passou pela difícil primeira experiência, o Maracanã
é templo de todos os brasileiros, o Flamengo é o mesmo com suas virtudes e
defeitos, o time do seu Jayme pouco oferece em alternativas, Mancini deve ter
encontrado soluções para os problemas enfrentados na Vila Caldeirão. Enfim, é
outro jogo, com um Atlético melhor, mais capaz que em Curitiba.
O futebol é um duelo de vontades. Não vejo no
Flamengo nenhum craque para desequilibrar a partida, é um bom time, bem
organizado, que faz poucos gols, se garante na defesa, nem poderia ser
diferente armado por zagueiro da qualidade do vovô Jayme. Chegou à final pelo
calor da sua vontade.
Despidos dos traumas do primeiro jogo,
movidos por vontade insuperável, a raça que nos fez suplantar tantos inimigos, os
guerreiros atleticanos vão para o jogo confiantes nas suas capacidades, prontos
para fazer a história, com sabedoria, paciência e garra escrever em noventa
minutos mais uma página de imorredoura glória.
Vamos guerreiros! Aqueles que seguem seus
passos esperam noventa minutos de coragem e fé! A vitória está ao nosso alcance!
É possível! Vamos Furacão!
Quem viu o resultado de goleada, jamais
imaginaria meu desconforto nos primeiros vinte minutos de jogo. O início do
Furacão foi tudo o que eu não gosto, pautado no lançamento longo, por incrível
que pareça a partir de Weverton. O Náutico marca a saída de bola, a zaga recua
para o moicano, lá vai o pombo procurando o erro da defesa. Em que momento o
Atlético inventou essa modalidade de sair para o ataque. Mas... Mas... Paremos
de lamentações, vamos comemorar a vitória, a maior goleada do atual Brasileiro.
Aos vinte e cinco, Zezinho avançou, passou a
Everton pela esquerda e entrou na área para cabecear e marcar. Por que será que
eu gosto de Zezinho avançado? A jogada lembrou seu gol no 3 a 1 histórico do
Super-23 contra o Coxa, seu passe para alguém livre na direita, o cruzamento,
Edigar Junior finaliza na trave, volta na cabeça do pequeno Zé, gol do garoto.
Mais uns minutinhos, Marcelo rouba bola,
passa a Éderson, daí a Baier, 2 a 0. A troca de passes resolveu o problema,
trouxe luz ao jogo rubro-negro. O gol do Náutico logo ao primeiro minuto da
segunda fase me inquietou por pouco tempo. O gol de Felipe em chute de fora definiu
os rumos da partida. Daí foi aumentar com a penalidade sobre Baier, batida por
Éderson, cada vez mais artilheiro, o segundo de Felipe com belíssimo passe de
peito de Baier, o sexto da partida com oportunismo de Cleberson, retornando
depois de quase um ano afastado. Bom retorno Cleberson. Fez falta o ano todo.
Ótimas atuações de Baier, um gol, um pênalti,
uma excepcional assistência, Éderson, uma assistência, um gol, o passe para
Baier assistir Felipe, Felipe com dois gols, Manoel com participação impecável.
A maior aproximação de Baier da área foi fundamental.
Quem atentar para a escalação atleticana – Weverton;
Juninho, Manoel, Luiz Alberto e Zezinho; Deivid, Felipe, Everton e Paulo Baier;
Marcelo e Éderson – vai encontrar somente três jogadores não componentes da
equipe que subiu para a primeira divisão, Juninho, Everton e Éderson.
Comparando-se com as dezenove contratações do Cruzeiro, fizemos um milagre.
No que o jogo contra o Timbu contribuiu para
a partida de quarta-feira. O amigo sabe que eu quero mais posse de bola, jogo
lateral, entendido como mais troca de passes na frente da área, menor
utilização da bola espetada. A participação do toque-toque Felipe no lugar de
Everton pode ser solução interessante. Baier como segundo atacante é outra boa
possibilidade. Se é para jogar um toque, talvez seja melhor ali na entrada da
área.
Penso que a escalação do Furacão para
quarta-feira depende muito da recuperação de João Paulo. O fraco Náutico deu ao
Atlético a chance de jogar futebol, trocando bolas, algo que estava caindo no
esquecimento. Neste aspecto o jogo foi excelente. O atleticano que já está de
malas prontas ganha um alento, é bom ter em final time que saiba alternar bolas
longas com boa troca de passes.
Mancini já tem seu time na cabeça, o torcedor
leva o time no coração. Até quarta-feira, coração e jogadores serão carinhosamente
levados na mão.
A vitória do Vasco contra o Cruzeiro mostra o
caminho que o Atlético tem que evitar hoje contra o Náutico. A Raposa começa em
ritmo de campeão, leva um gol aos dois minutos em escanteio, começa a se
arrumar em campo, em chute louco o almirante faz o segundo aos trinta e dois e
torna o placar irreversível. A torcida coxa reza por Marcelo Oliveira.
O treinador troca, o Cruzeiro joga no ataque,
domina, exagera na costura, Everton Ribeiro dá balão, mas os cruzmaltinos com
sangue nos olhos impedem até o empate. Bobeou,
o futebol castiga. Nossos jogos contra Criciúma e Botafogo seguiram mais ou
menos esse roteiro. O Tcheco capricha na preleção.
Só assisti um jogo do Náutico, justamente contra
Criciúma, em que o Timbu andou para ganhar a partida nos primeiros minutos e
perdeu no segundo tempo com gol de longa distância de Wellington Paulista. Já
na época, o time pernambucano estava de treinador novo e testando jogadores
para enfrentar a segunda divisão em 2014. A inexperiência dos vários meninos da
base facilitou para o Tigre. Hoje, a equipe deve estar mais arrumada, depois de
tantos jogos o treinador provavelmente encontrou um onze para pelo menos dar
trabalho ao adversário.
Aí que mora o perigo. Busco coragem nas
palavras de Mancini, o time vai “com força total”, está preparado para fazer de
“cada jogo uma final”. Muito bem. É o que todos esperamos, um Furacão pronto a
resolver desde o início, construir o placar e afastar adversários na luta pelo
G4.
O Vitória empatou ontem com o Criciúma,
vencendo hoje ficamos seis pontos à frente do time do seu Ney Franco, tiramos o
inimigo feroz do nosso encalço. O Cuca fez seu dever de torcedor rubro-negro,
deu uma varada no Goiás, estacionou o time do Gordito, uma boa vitória em
Joinville e ultrapassamos outro rival incansável. Se a Macaca armar uma
traquinagem contra o Grêmio, pulamos mais um.
Tudo depende da vitória contra o Náutico.
Parece tão fácil, o coração do torcedor quer que o tempo passe rápido, a
vitória se materialize num átimo, transforme todas as projeções em realidade.
Além da força máxima, o Atlético tem que usar
o jogo para testar algo novo para a partida contra o Fla. Ou não? Ou só a
vitória basta, como disse ontem, uma coisa de cada vez? Então vamos a Joinville
com foco único nos três pontos, comemorar a provável vitória como se fosse um
título.
A desgraça de um é a felicidade do outro. O
atleticano olha desconfiado para o jogo de quarta-feira, o coxa vibra intensamente,
antecipa o Fla campeão. Para ele, com a corda no pescoço, só falta o Atlético
vencer no Maraca, trazer o título que por duas vezes jogou fora no treme-treme.
O rubro-negro vingativo, espera o título no Maraca, ou vencer o Náutico, o
Santos e jogar contra o Vasco podendo perder, assistir de camarote as flores do
campo rumando para a segunda divisão.
O torcedor pode tudo, está nas redes sociais
destilando seus ódios, antecipando tragédias, imaginando surpresas, o verbo
torcer permite que a imaginação e a paixão trafeguem sem limites.
O meu porteiro coxa, demitido a pedido, precisava
de algum para dar um trato na casa, deve estar levantando paredes de orelha
quente. O Tcheco recebeu a missão impossível e só fala no motivacional. O dileto
amigo sabe que o Geraldo motivado no máximo pode chegar ao boteco da esquina para
comprar um chicabon. Motivar o Lincoln é tarefa para o seu Freud. O Alex, que
levanta todo dia pensando no Cruzeiro onde estaria comemorando o título, olha
para o lado e não vê o Robinho para carregá-lo nas costas. Prezado amigo de
tantos papos e alegrias, este poodle velho que vos fala, com o coração cheio de
pena, não inveja tua sorte.
O atleticano de braços cruzados, afundado na
cadeira, mais ressabiado que capiau na frente de escada rolante, enxerga à sua
frente dois cenários que podem levá-lo ao sonho da Libertadores. O sucesso na
final contra o Urubu, definitivo, o passaporte para as Américas na carteira, os
três jogos finais do Brasileiro, um passo de cada vez, ambos possíveis.
Os sete mil atleticanos que estarão no Maraca
para a final contra o Urubu acreditam no título, por qualquer desses artifícios
matemáticos que a Copa do Brasil possibilita. É outro jogo, que pede outro
Atlético. Os primeiros noventa minutos mostraram a marcação da ave agourenta
perfeitamente encaixada aos nossos movimentos ofensivos. O seu Vavá tem que
aprontar alguma novidade, o Atlético tenta medida cautelar para o retorno de
Léo ao time, fica a minha pergunta, por que só agora?
O primeiro passo do segundo cenário será dado
amanhã contra o Náutico em Joinville. A vitória possível, se bem me lembro, só
o Coxa perdeu para o Timbu, pode nos colocar entre os três primeiros. O
rubro-negro Cuca vai exigir a vitória do Galo contra o Goiás. Fica a dúvida
sobre a atuação da Ponte Preta contra o Grêmio. Terá a Macaca jogado a toalha
no Brasileiro, estará focada unicamente na Sul-Americana depois de deixar os
bambis aos prantos no Morumbi? Vou deixar esta tarefa para Elias, trocado pelo
lateral Rodrigo Biro, quase uma Conceição, se subiu, ninguém sabe, ninguém viu.
O Furacão tem que entrar com força máxima
contra o Náutico, resolver logo este problema, deixar a quarta-feira para
depois. Um passo de cada vez.
A final no Mário Filho fica para segunda-feira,
quando o cenário no Brasileiro estiver mais claro, as necessidades mais específicas.
Finais são jogos para se ganhar com o coração, com a sorte, a sorte acompanha os
audazes. O segundo passo pode dar caneco. Os coxas tremem, não querem. Eu quero,
eu posso.
Alguém pensou que a final contra o Fla seria
fácil? Pois eu achei que fácil não seria, mas, confesso, tinha cá comigo que
venceríamos a primeira partida na Vila Caldeirão. Quando se faz qualquer
análise tem-se que estabelecer como parâmetro inicial que o adversário joga. No
caso do jogo de quarta-feira, o Flamengo jogou.
Se desde o início da partida procurava manter
a tranquillidade, controlando a posse de bola, o gol de Amaral acalmou os nervos
dos ainda tensos, a missão fazer o gol fora de casa foi cumprida, os restantes
minutos serviriam para manter ou aumentar o placar. Calmo, o Flamengo sofreu na
defesa, Felipe fez ótimas defesas, e saiu de Curitiba se proclamando campeão antecipado.
O segundo tempo da final é outro jogo, tudo
pode acontecer. Eu tenho minhas convicções que vou passar ao amigo.
Primeira. Botelho não dá. Botelho é mau
marcador, se o Fla tivesse investido mais sobre o seu setor, Léo Moura avançado
um pouco mais, a viola já estaria em cacos. Neste aspecto tivemos sorte. Penso
que Mancini tem que improvisar na esquerda, colocar ali bom marcador, alguém
que faça o simples, deixe Botelho no banco, caso a coisa engrossar, precisando
atacante, deixa entrar.
Segunda. A saída de Everton pode mudar muito
o ataque do Atlético e se revelar positiva. Temos que jogar menos vertical,
mais lateral. A investida vertical em velocidade sobre a defesa do Flamengo só
aproxima o atacante do defensor com mais rapidez, facilita a retomada da bola.
Maranhão entrou e foi na mesma balada, perdeu a bola, deu contra-ataque. O
avanço de Zezinho, por favor, deixem o Zezinho jogar no ataque, pode permitir a
troca de passes na frente da área, obrigar o movimento dos zagueiros, permitir
a bola tocada para o atacante.
Terceira. Marcelo tem que jogar sobre os
zagueiros. Marcelo pela ponta ultrapassa e cruza mal. Pelo meio incomoda todo
mundo, sofre faltas, chuta de fora, tem rendimento muito superior.
Quarta. O cruzamento longo nas costas do
zagueiro dá resultado, tem que ser mais explorado.
Quinta. Baier tem que acertar as paradas
frontais à área. Está atrasando bolas para Felipe. Ou acerta a cabeça de
atacante, ou vai para a área cabecear.
Sexta. Éderson tem que acordar, sua chegada
rápida na bola cruzada, antecipando o marcador, sempre foi seu forte. Está
chegando atrasado, eu sei, os zagueiros jogam, mas ele tem que estar mais
atento. É final.
Sétima. O ataque tem que se movimentar,
alternar posições, criar problemas para o marcador. Dellatorre parado na ponta
esquerda, Marcelo na direita, são agrados para os defensores.
Oitava. Posse de bola. Controlar o jogo
irrita a torcida, cria a expectativa de derrota. O jogo longo já provou não dar
certo contra o Fla, vamos trocar passes.
Cansei você amigo? Você discorda? Tudo bem, é
só livre pensar, pensar pode. Se Mancini fizer tudo ao contrário e a vitória
vier, vou esperar no aeroporto.
O meu pré-jogo preocupa. O Atlético está mais
mexido na defesa, a entrada de Botelho pela esquerda, há muito tempo fora, e o
deslocamento de Juninho para a direita me inquietam. O Flamengo tem Felipe no
gol, voltando precocemente de cirurgia, pode ser problema, o restante da equipe
repete escalações anteriores, fez um primeiro tempo defensivo contra o São Paulo
no domingo, deve entrar em campo com o mesmo pensamento. A torcida vai no “Olê!
Olê!... Olê! Olê!”, o Furacão está na boca do túnel, eu afasto minha ansiedade e
vou junto com o foguetório.
O jogo começa com o Fla com melhor marcação
no meio de campo, melhor desarme e ataca forçando com Luiz Antônio pela
direita, Paulinho chutando de fora, aos sete escanteio pega Chicão livre nas
costas de Botelho, errar no lance conhecido é pracabar.
Everton é o motor do Atlético, joga pelos
dois lados, Baier está bem marcado por Amaral, Marcelo joga por todo o ataque,
o time se mexe bem, aos nove acontece o primeiro cruzamento atleticano sobre a
área. Aos dezesseis Marcelo escapa pela esquerda, Léo Moura chega forte e leva
amarelo. Um minuto depois, Baier em um toque coloca Marcelo livre para o chute
de fora, sai a bomba, gol do papa-léguas.
O
Atlético não aproveita o êxito, não pressiona, Botelho ganha seu amarelo,
Carlos Eduardo joga nas suas costas, a defesa encolhe demais dentro da área,
abre-se um espaço para a finalização. Pouco demora e Amaral se descola de
Baier, recebe livre na intermediária, caminha na direção do gol sem marcação,
solta a bomba, o gol que o Flamengo queria aconteceu.
O Flamengo perde André Santos e Chicão por
contusão, mesmo com os desfalques o primeiro tempo acabou ao gosto do Urubu,
mais tranquilo, a missão cumprida.
A segunda fase mostraria um Atlético
pressionando, exigindo defesas importantes de Felipe, com seu flanco esquerdo
sempre explorado, Luiz Antônio e Léo Moura perderam boas chances de matar o
jogo pelo lado. Mancini tirou Botelho, colocou Dellatorre, Zezinho ocupou a
lateral e ganhamos um ponta esquerda, Baier deu lugar a Maranhão, voltou
Zezinho para o meio, Ciro substituiu Éderson, nada funcionou.
Vivemos um segundo tempo entre marcar e
sofrer o gol definitivo. O empate acabou sendo bom resultado. A tranquilidade
do Flamengo fez a diferença. Sólido na defesa, fazendo poucas faltas
defensivas, saindo nos contra-ataques sempre com perigo, pouco incomodou
Weverton, mas fez o gol necessário, tirou Everton da decisão, arrumou-se para o
jogo em casa.
Tivemos em nosso flanco esquerdo e no
distanciamento entre defesa e ataque fontes constantes de preocupação. De
positivo, a grande atuação de Marcelo, enquanto rodou pelo ataque incomodou uma
barbaridade. Com a entrada de Dellatorre estacionou na direita e perdeu força.
Mancini sabe que nada está perdido, nada de
procurar culpados. O jogo na Maracanã é outra história. Primeiro temos que
ganhar do Náutico. Depois, fazendo o simples, vamos para o Rio, jogar de sangue
doce, depenar o Urubu.
Os jogadores preparam-se para entrar em campo,
os pensamentos focados nas ordens passadas pelo seu Vavá, e o vento traz pelo
túnel em efervescência o canto da torcida ardente: “Vamos lutar... Por mais
esta taça... Vamos, rubro-negro, com garra e com raça!” São milhares de vozes,
milhares de caveiras entoando o cântico que empurrará o Furacão à vitória por
noventa minutos.
Inegável a força da torcida nas grandes
decisões. Reconhecida no Brasil afora a força da torcida atleticana. Hoje serão
dezesseis mil fanáticos a lotar a Vila Caldeirão, motivar os guerreiros
rubro-negros à vitória. Não vai ser por falta de grito, por falta de caveira
assombrando o espetáculo que iremos para o Rio sem vantagem.
Tenho minha opinião sólida de que títulos são
ganhos em casa. Saindo de Curitiba na frente, os urubus podem povoar o
Maracanã, dar rasantes sobre a grama histórica, de nada adiantará, o renovado
Maraca servirá apenas de palco para nossa grande conquista.
Talvez por isso, o vovô Jayme tenha pensado
em armar um 352, com Samir na zaga em lugar de Luiz Antônio, fortalecendo a
defesa, garantindo maior liberdade para o avanço de Léo Moura e André Santos,
seus principais jogadores ao lado de Elias. Treinando em Porto Alegre, no
Olímpico, pode ter sido bafejado pelas ideias do seu Renato, um dos que ficaram
pelo caminho.
Em Copa do Brasil, o gol fora é o objetivo de
todo visitante. O Fla passou o Cruzeiro se valendo do peso do gol marcado em Minas,
carimbou sua passagem para a final ganhando do Goiás no Serra Dourada. Vem a
Curitiba para marcar um gol. Daí a possibilidade do 352. Pode começar com a
formação das últimas partidas, mudar para segurar resultado, ou marcar o gol
imprescindível. O jogo dirá.
O Atlético tem que estar atento a tudo. Jogar
futebol, sem jogar fica impossível, bloquear a experiência flamenguista, ter
seriedade absoluta na defesa, fazer um jogo ofensivo de grande movimentação,
aproximar Baier da área, facilitando as assistências, as faltas de alto risco
para Paulo Victor. Deixa o Amaral bater ali pertinho da cozinha.
Cuidado especial com a disciplina. O Fla
irritou Hugo do Goiás, o armador perdeu a cabeça, o time das esmeraldas perdeu
o foco, perdeu o jogo. A indisciplina já afastou Léo dos dois jogos da final.
Que pare por aí.
Amigo velho todo dia me lembra da arbitragem.
Quando se fala em arbitragem deve-se lembrar de árbitro e assistentes. A França,
que foi à Copa da África ajudada pela mão indecente de Henry, virá ao Brasil graças
ao assistente que não assinalou impedimento escandaloso. A tropa é de amargar
rosa dos ventos afora, tem uma quedinha pelos chamados grandes. Pelo menos o
árbitro não um desses inimigos declarados, boa sorte a ele.
Boa sorte a todos nós atleticanos de fé. Hoje,
com grito e um batalhão de caveiras assombraremos a Vila Caldeirão, com garra e
com raça colocaremos a mão na taça. Sou daqueles que odeiam assistir jogo em
pé, mas hoje é dia de levantar, lutar e vencer.
Faltam horas para a final que vai colocar o
Furacão na lista dos campeões da Copa do Brasil. O atleticano não pode pensar
diferente, nada pode tirar-lhe o ânimo, cada um se agarra com seu santo, pede
para o seu protetor, prepara a garganta e vai para a Vila Caldeirão “gritaaaaar
campeão”. Tudo vai dar certo.
O Urubu vem com a camisa do Zico, do Junior,
embalagem de primeira, o produto de inspiração pouco condizente com o passado é
que me conforta. Já vi o time dos hoje grisalhos perderem para o Furacão de
dois a zero no primeiro tempo lá em 1983, por desistirmos de jogar o segundo
não fomos à final do Brasileiro daquele ano. Já se vai longe o tempo em que
éramos pequenos.
O Urubu tomou de 4 do Furacão no Maraca, o Mano
pediu o Boné, Elias correu para fazê-lo desistir, não conseguiu. O time estava
jogado nas costas do novo treinador do Timão, ele que ganhasse. Saindo o bom
salário, o responsável, reuniram-se os urubuzinhos e decidiram jogar, abraçar o
vovô Jayme e correr atrás da bola. Mano fez um favor ao Flamengo.
O time do vovô Jayme joga com Paulo Victor;
Léo Moura, Chicão, Wallace e André Santos; Luiz Antônio, Amaral e Elias; Carlos
Eduardo; Hernane e Paulinho. O amigo viu aí alguém com direito a camisa da
seleção? Sinalizam pra a volta de Felipe no gol, com dores musculares Amaral é
dúvida.
O Fla defende com as tradicionais duas linhas
de quatro, a segunda com Luiz Antônio pela direita, Elias e Amaral
centralizados, Paulinho pela esquerda. Amaral vai acompanhar Baier de perto.
Carlos Eduardo e Hernane incomodam a saída de bola, ultrapassados abandonam,
ficam à espera do contragolpe.
Sai para o jogo pelas laterais, ou pelo
centro buscando Elias. Quando complica, Chicão arrisca um lançamento longo para
Hernane fazer pivô ou conseguir uma falta na frente da área. Elias e os
laterais são chaves no processo.
Ataca acumulando jogadores pelos lados. Pela
direita Léo Moura, Luiz Antônio, Carlos Eduardo. Pela esquerda André Santos, Paulinho,
Carlos Eduardo, por vezes até Hernane. Dentro da área, para finalizar, quem não
está envolvido no lance pelo flanco, Hernane puxa a fila. O brocador é finalizador
de primeira, se esperar que ele mate, arrume para chutar, vai buscar dentro da
rede. Ou bloqueia logo, ou vai ver o feioso dançar.
Escanteios vão para Wallace e Chicão. Wallace
é muito eficiente dentro da área. Tem que cuidar. Nas bolas paradas laterais,
Chicão entra no segundo pau para cabecear para Wallace dentro da pequena área.
Atenção máxima. As faltas diretas são para Chicão usar a má colocação do
goleiro, ou toque lateral para Luiz Antônio finalizar na força.
Contra-ataca com Paulinho pela esquerda, bota
velocidade no lance, ou com Carlos Eduardo, lento, mais para segurar a bola e
esperar a ultrapassagem dos companheiros.
A experiência está com Elias, Léo Moura e
André Santos, comandam o time. Se não funcionarem, fica para a criatividade de
Paulinho, a estrela de Hernane. O time tem conjunto, está de braços dados com o
vovô Jayme. Dá para ganhar? Se o Furacão voltar, claro que sim.
Estou postando meu “Vou Rasgar a Página” nas
fibras da internet e no canto esquerdo baixo da telinha vão aparecendo os
Fulano curtiu, Sicrano comentou, espio o comentário e me surpreendo com o amigo
me chamando de “cronista de resultado”, algo assim como ganhou é o máximo,
perdeu não vale nada. Primeiro, agradeço pelo cronista impróprio, sou apenas
torcedor com tempo para ver e escrever, jamais merecedor de qualquer
classificação literária, por mais singela que seja.
Segundo, devo dizer que o resultado não me
incomoda. Minhas primeiras recordações da Baixada datam de 1960, tempos
duríssimos, de vitórias parcas, só fui conhecer meu primeiro título dez anos
depois, se vencer fosse a prioridade teria ancorado meu barco em outro lugar.
Nada disso, encostei meu coração de menino em pinheiro velho na antiga curva do
placar e ele ainda está lá, vendo a obra em crescimento, estará lá para sempre.
O que me encanta é a luta que reconheci
naquelas camisas vermelhas e pretas amarelecidas pelo sal da batalha, a derrota
recebida com o canto do Hino, justo prêmio ao esforço daqueles não tão
técnicos, nem tão táticos, mas tão heróis. Talvez tenha me identificado com
algo que estava já dentro de mim e me levaria ao direito de não ter direito, ao
dever como preferência, aos cansaços, às noites insones, ao Senhor dái-me o que
vos resta, ao Brasil acima de tudo.
O que me incomoda é saber aos dez minutos de
jogo que tudo está errado, que vai acabar em derrota para ator que cumpre seu
papel transcrito no roteiro exausto, conhecido, e vai se agigantando sobre desatenções
absurdas, ingenuidades táticas, fraquezas comportamentais não condizentes com o
passado dos magros salários, das condições de treinamento mínimas, da vontade
máxima.
Tudo é uma questão de sentimento, de
vivência, cada um tem a sua, o que me deprime pode ser apenas mau resultado
para o amigo, facilmente explicável, o que é ótimo, preserva sua saúde,
gostaria eu de ser assim. Infelizmente, na partida contra o Botafogo nada vi a
ressaltar, sequer um filete de sangue rubro-negro tingindo o solo sagrado do
Maracanã. Sem sangue, sem raça, não é o Atlético, prefiro rasgar a página.
Nada que o Ivan encostado no velho pinheiro
na curva do placar não possa superar entre um pacote de pipoca murcha, um
punhado de amendoins com casca, um picolé daqueles de tingir os dedos. O que
deu muito errado ontem pode ressurgir vigoroso amanhã, o que hoje me oprime,
renascer glorioso no imediato porvir.
Por isso eu estou aqui, sem ser cronista,
colunista, ou qualquer dessas ordenações indevidas, apenas para descrever a
história como vejo, com meu terceira idade coração rubro-negro, para quem, sem
medos de mais de quinze linhas, me desejar ler.
Irmão rubro-negro, nada se pode exigir
daquele que não pode dar. O Atlético de hoje pode dar muito, está próximo de criar
com sabedoria, suor e arte página inesquecível da sua história. Para isso terá
que olhar para trás, lembrar de tantos heróis, de tantas lutas, sacudir o pó da
derrota humilhante, levantar e lutar.
Bisonho, jogando um futebol medíocre, o
Atlético entregou o jogo para um Botafogo caminhante, que foi repetindo o que
faz em todas as partidas e fazendo gols contra um bando vestindo a camisa
rubro-negra, camisa que tinha no mínimo o dever de honrar. Não me incomoda
perder jogo, incomoda-me entregar o jogo. Foi um vexame.
O Atlético parece ter incorporado um espírito
de Barcelona do qual está a milhões de quilômetros de distância, se não marcar
forte, lutar pela bola, atacar com velocidade e força, pode ficar no Caju na
próxima quarta-feira, dar logo a taça ao Flamengo, evitará que seu torcedor
passe vergonha. Ou alguém recoloca as coisas no devido lugar ou vamos morrer na
praia.
Fico assistindo jogos, tentando entender a
saída de bola dos nossos adversários, e me deprimo com a forma que o Atlético
tenta chegar ao ataque, nada mais que o tiro de meta repetitivo, que só entrega
o controle do jogo de imediato ao defensor, que sai com tudo contra time que
avançou seu meio e seus atacantes para tentar a sorte na inútil bola aérea. Só
após os dois gols do Botafogo, começamos a jogar, trocar passes.
Já era muito tarde. O Fogão tinha a vantagem
no marcador, já reconstruíra sua amizade com a torcida, tinha a vantagem
psicológica indispensável para o segundo tempo. Como eu disse, bobeou fica em
dificuldades. O Atlético voltou para o segundo tempo mais do que em
dificuldades, voltou com o jogo perdido.
Sai Fran Mérida, entra Dellatorre. Mérida
deve ter saído por conta de torcicolo, de tanto torcer o pescoço para ver a
bola passar sobre ele. Cheio de atacantes, sem meio, as esperanças foram para a
cucuia. Mesmo assim, foi ao ataque, com volume, sem objetividade, era certo que
nada iria acontecer.
Lá pelos 30, Léo foi expulso. Um sopapo na
cabeça de Seedorf, outro em Rafael Marques, juntando tudo, vermelho, vai para o
chuveiro. Está explicado por que Léo era o quarto lateral direito do Vitória,
jogar sabe, não tem controle emocional para o que no meu tempo se chamava de
ping-pong.
Expulso o mãos nervosas, vamos ao baile, ao
terceiro gol, ao quarto, tudo ao natural. O Atlético não perdeu para o
Botafogo, tomou um couro de bola, ressuscitou o Fogão.
Pergunto até onde o pífio início de jogo fica
por conta de Mancini, nada mais do que a repetição da partida contra o
Internacional em Curitiba, um quebra a bola, um bico para frente que lá atrás
deu certo.
Foi um vexame histórico, sem justificativa, a
não ser que se admita ser o Atlético um logro de dimensões infinitas. O
torcedor que fez fila para pagar 250 reais para assistir a final da Copa do Brasil
no Maracanã ficou com a pulga atrás da orelha.
Marcelo foi inútil, Everton carrega tanto a
bola que não tem força para passar, quanto mais chutar a gol, é bom aprender
com Seedorf. Mancini foi enfiando atacantes, animando os leigos, esqueceu que a
bola tem que chegar ao ataque com qualidade. Pior de tudo, faltou raça. O dia
que sair o livro dessa história, vou rasgar a página.
Com a torcida pintada para a guerra deflagrada
pela saída do G4, onde estava desde a quinta rodada, cinco meses e cinco dias,
o Botafogo entra em campo hoje preocupado com a invasão do treino, pede calma,
paciência, promete fazer dar tripas coração nestas últimas rodadas para voltar
à Libertadores.
No meio de semana, Oswaldo de Oliveira era o
desalento sentado à beira do gramado, o 0 a 0 contra a Portuguesa tirou o
fôlego do comandante. Mesmo assim, nada a esconder. O time vai com Jefferson;
Edilson, Bolívar, Dória e Júlio César; Renato e Gabriel; Hyuri, Seedorf e
Rafael Marques; Elias. Suspenso Marcelo Mattos, entra Renato. O cansaço de
Hyuri pode escalar Octávio.
O jeito de jogar não muda. O time defende com
duas linhas de quatro, a segunda com Hyuri pela direita, Renato e Gabriel
bloqueando o centro do dispositivo, Rafael Marques o setor esquerdo. Elias e
Seedorf incomodam o início das jogadas adversárias, podem ajudar a defesa em
momento específico, mas são referências para os lançamentos longos, bases para
contra-ataque. Forte pelos lados do campo, a defesa é vulnerável às jogadas
centrais.
A saída de bola acontece preferencialmente
pelas laterais. A entrada de Renato pode tornar o princípio da articulação mais
frequente pela faixa central. Pressionado pelo adversário, o iniciador das jogadas
atrasa a bola aos zagueiros sem melindres, é bom estar atento, Dória tem lá
suas dificuldades no controle da gorduchinha.
O Fogão ataca com o avanço central de
Gabriel, Hyuri pela direita, Seedorf centralizado com liberdade para cair pelos
lados, gosta de se esconder ali pela ponta esquerda de onde faz ótimos
cruzamentos, Rafael Marques pela esquerda, Elias fixo entre os zagueiros. Um
gráfico de posicionamentos mostraria Elias dentro da pequena área, pronto para
finalizar, Rafael Marques em todos os espaços da grande área, sobrou a
finalização sai forte e precisa.
Os laterais vão ao ataque, Edilson cruza da
intermediária ofensiva, cai pelo meio para chutar forte da entrada da área. Tem
que cuidar. Júlio César é de chegar na linha de fundo, entrar área adentro para
receber passe na frente do goleiro. Manoel tem que estar de olho na cobertura
de Jonas.
E Seedorf? O holandês é o maestro, trota pelo
campo, puxa a marcação, abre espaços, enfia bolas. Parece cansado, craque mesmo
cansado é problema.
As paradas são de Edilson. Bombas altas e rasteiras.
Elias e Rafael Marques estão na frente do goleiro esperando o rebote para
colocar para dentro. Melhor evitar as faltas. Nos escanteios, Rafael Marques e
Bolívar estão no segundo pau para cabeceio de retorno. É bom marcar.
A Portuguesa diminuiu o calor do Fogão
jogando de mano, acelerada, mantendo o time do Garrincha em sobressalto. O jogo
em início de noite pode permitir ao seu Vavá exigir empenho superior, tentar a
vitória, usando os atalhos do Maracanã, atalhos que nos levarão ao título de
campeão da Copa do Brasil. É jogo duríssimo. Bobeou fica em dificuldades. Jogou
sério, fica dependendo só da assinatura no passaporte para a Libertadores.
Derrubado pela derrota do Furacão frente ao
Tigre, esqueci de cumprimentar a torcida do Cruzeiro pelo campeonato
antecipado. Tenho que confessar uma inveja boa, quem não tem, ganhar o
Brasileiro com rodadas de antecipação é de esfolar o cotovelo de qualquer
adversário, mesmo o pessoal do Galo campeão da Libertadores 2013, pronto para
embarcar para o Marrocos, olha para a festa azul com vontade de estar na
Liberdade gritando tricampeão.
O torcedor mineiro está sobre a montanha
olhando altaneiro para os estertores do campeonato nacional. O Galo treina para
o mundial de clubes, a Raposa cumprirá seus compromisos fazendo festa a cada
jogo, enquanto os excluídos do paraíso do pão de queijo se entreveram pelas
vagas na Libertadores 2014, pela fuga do rebaixamento, uma batalha com data
para acabar, regada a carrinhos, cabeças quebradas, bicos, chutões e safanões.
Qual a semelhança entre as duas equipes?
Ambas estavam prontas para seus principais compromissos com razoável
antecedência. Contratações feitas, treinadores engajados no planejamento de
seus trabalhos e no treinamento desde o mais cedo possível. O Galo exagerou,
trouxe Ronaldinho Gaúcho, o goleiraço Vitor, outras contratações de peso.
A Raposa foi mais econômica, mas formou
elenco de alto nível em todas as posições. Como toda raposa, foi ladina “dimais”,
ficou de olho nas revelações de outras equipes e as levou para a toca. O coxa
Everton Ribeiro, o esmeraldino goiano Ricardo Goulart, o vascaíno Dedé foram
algumas delas. Juntou a elas a experiência de Willian, Dagoberto, Borges, formou
ataque avassalador e foi acumulando pontos.
Quando a Libertadores começou, o alvinegro
entrou para detonar adversários, o mesmo aconteceu com o time estrelado no Brasileiro.
Cuca, torcedor do Furacão, e Marcelo Oliveira, amadurecido no Coxa, foram hábeis
condutores de suas equipes, deram a elas esquemas táticos eficientes, usaram
seus atletas com sabedoria, formaram grupos coesos, harmoniosos, vencedores.
As torcidas ajudaram e foram ajudadas por
arenas de primeiro mundo. A nova Arena Independência e o Mineirão Copa 2014
foram palcos de jogos emocionantes, tocados ao ensurdecedor grito da galera. As
vitórias do Galo e sua inimiga Raposa são conquistas do povo mineiro, de suas
autoridades em todos os níveis. Criaram-se em Minas condições para a manutenção
da hegemonia tutu de feijão por longo tempo.
O que sobrou para os reles mortais? A Copa do
Brasil, da qual o Cruzeiro foi eliminado pelo Fla com gol nos últimos minutos.
Não fosse o gol de Elias, teríamos a missão de evitar mais uma coroa para o
time azul. Ainda bem que temos o Urubu pela frente, também uma dureza, por
sorte com umas fraquezas aqui e ali. Mais essa é outra história.
A ideia hoje é cumprimentar o Cruzeiro, o
povo mineiro que soube se aproveitar do momento e transformar seu futebol no
melhor do Brasil. Parabéns cruzeirenses, parabéns mineiros, aqui neste meu
Paraná das discórdias, das pobrezas, morro de inveja.
Quando o candidato não passa no seu primeiro
vestibular, nada lhe assegura que passará no segundo. Terá pela frente um ano
duro, se bobear fica no caminho de novo. Quando seu time leva gol em início de
jogo, nada impede que leve outro em seguida. Parece impossível, você pensa que
a reação será imediata, seu supertime vai assumir o controle da partida,
empatar e virar, e a bola aparece no fundo das suas redes pela segunda vez.
Foi o que aconteceu com o Furacão. Tomou o
primeiro em bola parada aos seis, o segundo em penalida máxima aos vinte e
oito. Aí ficou difícil. Com o placar caído do céu, o Criciúma usaria todos os
artifícios para segurar o resultado. Marcou forte, quebrou bolas, canelas,
colocou o Atlético no bolso e terminou o primeiro tempo com o objetivo
conquistado.
Na minha cabeça, faltava ao Rubro-Negro fazer
a bola chegar aos atacantes. Roger tinha que voltar para buscar, Dellatorre em
quarenta e cinco minutos não viu a cor da redondoca. Só com bolas paradas seria
difícil, Baier acertou Luiz Alberto uma vez e com bola em movimento.
Precisávamos do jogo terrestre, alguém para ajudar o velhinho, dividir a
marcação. Eu tiraria Zezinho, que descobri em campo conversando com o juiz ao
acabar do tempo, e colocaria Mérida.
Mancini optou por Ciro, tirou João Paulo e
colocou o atacante. Discordar posso, torcer contra impossível. Vamos Ciro. O
topete multipontas, uma criação de Éolo, o deus dos ventos, foi para a esquerda
e até arrumou uns bons cruzamentos, foi muito pouco. O gol solitário do Furacão
saiu em jogada individual de Paulo Baier, um belíssimo chute de fora e o
centésimo estava assinalado, uma pintura à altura do feito. Parabéns Paulo
Baier. Uma placa para Paulo Baier, o nosso highlander, o guerreiro imortal
rubro-negro.
A partir do gol histórico, o Atlético tentou
jogar futebol, trocando passes, tivesse um pouco de sorte poderia ter chegado
ao empate, o que eu adoraria, mas seria injusto para time que em noventa
minutos jogou uns quinze de alguma qualidade, em nenhum momento conseguiu se
impor ao Tigre com sangue nos olhos.
Fica o ensinamento. Ou você começa o jogo
acordado, ou atira o sonho pela janela em questão de minutos. Nem precisava. Poderíamos
ter aprendido com o Goiás, que bobeou contra o Fla e perdeu em casa a
classificação para a final da Copa do Brasil. Mancini tem que reavaliar a real
utilidade de Zezinho, até onde é verdade essa história de saída de bola qualificada.
Ao tomar os gols, o Atlético inverteu uma
situação psicológica que lhe era totalmente favorável, carregou as baterias do
Tigre e perdeu merecidamente, sem desculpas, voltou de mãos vazias, acendeu as
expectativas de Grêmio e Goiás agora na sua cola. De bom só a lição e o belo
gol 100 de Paulo Baier. A torcida aplaude de pé. Que venham muitos mais.
Tive paciência de Jó para assistir Náutico e
Criciúma, só para espiar o nosso adversário de hoje. Jogo duro, nem a melhor
das poltronas, a pipoca caramelizada, o refrigerante borbulhante deram conta do
sono persistente.
Em início de partida, o Tigre sonolento
facilitou o que pôde, esteve a ponto de perder a partida nos doze primeiros
minutos. Maicon Leite e Thiago Real perderam gols incríveis. A emoção parou aí,
a fera acordou e equilibrou a partida, sem rosnar, sem fazer gracinha, apenas
deixou de entregar na defesa.
O time carvoeiro começou com Gallato;
Sueliton, Matheus Ferraz, Fabio Ferreira e Diego Hoffman; Henik e João Vitor;
Ricardinho e Ivo; Wellington Paulista e Lins. Um 4-4-2 clássico, dois volantes,
dois armadores, dois atacantes. Simples como tem que ser time tentando fugir da
zona do rebaixamento.
Clássico no esquema, defende com 8 atrás da
linha da bola, ataca com Sueliton avançando pela direita, João Vitor fazendo o
elo entre a defesa e os meias, os atacantes centralizados, aproximando-se, por
vezes um deles cai pelo lado esquerdo do campo. Mesmo com o esforço de João
Vitor e Ricardinho o time não funcionou no ataque, só ao final do tempo
Wellington raspou bola longa, deixou Lins livre para marcar, chutou para fora.
O técnico Argel, suado como nos seus tempos
de zagueiro, resolveu mudar. O meia Ivo foi para a lateral esquerda, entrou André
Gava no lugar de Diego Hoffman, tornou-se referência no centro da intermediária
ofensiva, um gerente de toda a movimentação do ataque catarinense. Funcionou
sem impressionar, mais posse de bola, mais ação ofensiva, sem incomodar demais
Ricardo Berna.
Quando o técnico do Náutico cansou de gritar “Diminui!
Diminui!”, Wellington Paulista arrumou um espaço e mandou bala do meio de
campo. Gol do Tigre.
As notícias de Santa Catarina mostram
modificações na equipe: Galatto; Sueliton, Matheus Ferraz, Fábio Ferreira e Marlon;
João Vitor, Henik e Serginho (volante, ex-Galo); Ricardinho; Wellington
Paulista e Lins devem jogar. O time se fortalece defensivamente, libera o
avanço de João Vitor, dá liberdade para Ricardinho rodar o ataque todo. Bom
para começo de jogo.
Resolvendo atacar, Argel pode trocar Henik
por Morais, ex-Furacão, fica com João Vitor pela direita, Ricardinho em toda a
frente e Morais pela esquerda para criar jogadas para a dupla de ataque. Como
começa só o seu Argel sabe.
Contra o Náutico o time foi fraco e pouco
intenso, um chafé requentado, centralizando todas as jogadas de ataque.
Ricardinho bate as paradas para Wellington Paulista e Matheus Ferraz. Acerta. Sueliton
com um metro de espaço cruza na área de onde estiver. João Vitor é o início de
todas as jogadas. Tem que bloquear. A defesa leva bola nas costas, Galatto, nos
tempos de Furacão, me dava arrepios em todas as bolas aéreas.
Pode ser que a torcida empurre, seja outro
jogo, mas o Tigre que venceu o Náutico dá muito espaço para jogar, é lento, se
forçar entrega. Depois de conhecer o felino, acho que o Atlético fez bem em
forçar cartões, descansar jogadores. Se jogar com a alma dos últimos jogos, não
importam os artistas, volta com três pontos.
O Furacão na reta final terá desfalques
contra o Criciúma. Léo, Manoel, Everton, Marcelo e Éderson estão fora, é meio
time, o ataque inteiro, faltas sentidas em todos os setores. As substituições
apontadas têm jogado com regularidade, à exceção de Jonas, por sorte alguém que
tem que jogar, é obrigatória sua participação, tem que ganhar ritmo, estará nas
fotos das partidas contra o Fla, na foto histórica do Atlético campeão da Copa
do Brasil 2013.
A última vez que vi Jonas, ele estava saindo
de campo soltando fogo pelas ventas, substituído por Roger ainda no primeiro
tempo, uma necessidade tendo em vista o 3 a 0 que o Vitória tinha no placar em
plena Vila Caldeirão. O rebelde terá agora a oportunidade de mostrar o seu valor
em jogos decisivos, terá que entrar em condições de combate em uma semana, salvo
algum efeito suspensivo salvador de Léo Mãos Nervosas, se é possível. Boa sorte
ao bocudo.
Mancini resolveu economizar meios contra o
time carvoeiro, provavelmente para enfrentar o Botafogo com força máxima, garantir
a distância que temos do Fogão na luta pela Libertadores em pleno Maraca, dar
ao time completo a chance de ir se acostumando ao palco da final da Copa do
Brasil.
Ao afirmar a necessidade de marcar pontos nas
duas próximas partidas – 4 bom, 6 ótimo –, fica fácil presumir que seu Vavá
acha possível vencer o Tigre na beira do abismo, as garras à mostra, com
Weverton; Jonas, Dráusio, Luiz Alberto e Juninho; Deivid e João Paulo; Baier e
Zezinho; Dellatorre e Roger.
Tudo é possível, mesmo que o entrosamento
sofra com a saída de tantos jogadores. A ótima fase que o Atlético está
vivendo, a frequente entrada dos jogadores em partidas anteriores, permite
pensar na vitória, nada do mamão com açúcar antecipado contra o São Paulo.
Vamos com fé.
Petraglia voltou a afirmar que o Atlético
jogará o Paranaense com o sub-23, uma reedição do que deu certo, segundo
alguns, um dos fatores do sucesso do time atual. Penso que em assim sendo, os
jogadores a compor o Ciclone 2014 deveriam entrar em férias desde já, passarem
dezembro e janeiro em treinamento, estar em condições de dar alegrias ao
torcedor já na primeira partida.
Penso também que alguns jogos do estadual
deveriam ser reservados para a participação do time principal, de forma a
evitar os amistosos longe da torcida, dar ritmo ao time sem grandes gastos,
deslocamentos desnecessários pelo Brasil afora. Para que ir a Goiânia jogar
contra os reservas do Goiás se podemos jogar contra Rio Branco na Vila
Capanema?
Avancei no tempo e esqueci o Tigre de garras
afiadas, que venceu o pobre Náutico no final de semana e está à nossa espreita,
pronto para dar o bote e pular fora da armadilha do rebaixamento. Até agora
tudo que o se Vavá fez deu certo. Tomara o caçador troque as peças da
espingarda calibrada e mantenha o Tigre na arapuca.
O Atlético campeão paulista 2013, o jogo
contra o Santos servirá apenas para a entrega das faixas, não foi só superior,
teve a supremacia técnica, tática e física durante todo o jogo sobre a tropa
bambinesca, obrigada a correr muito para ser campeã da Sul-Americana se quiser
vaga na Libertadores.
O Furacão fez seu dever de casa. Marcou a
saída de bola tricolor, bloqueou Maicon e Denilson, parou Ganso, foi
desarmando, roubando bolas no meio de campo e marcando gols, aos 26 o placar
estava definido, eu tomando um refri, descansando o corpo velho, preparando o
espírito para a final contra o Fla.
Marcar e atacar as vulnerabilidades do
adversário sempre dá certo. Cruzamento de Éderson para Marcelo entrando pela
posição de Antonio Carlos O Lento, a bela matada, a bomba, um a zero. A bola
aérea surge do escanteio cobrado por Baier no primeiro pau, Luiz Alberto marca
o segundo de cabeça. Perdidos, os tristonhos cervos paulistanos ansiaram pelo
intervalo, pedindo pela voz do vestiário para sair do impasse calamitoso.
Seu Muriçoca bem que tentou. Trocou o volante
Denilson por Osvaldo, armou um ataque com Ademilson pela direita, o boi bandido
centralizado e Osvaldo pela esquerda. A armação ficaria por conta de Maicon,
Rodrigo Caio, dispensado das funções de líbero, e Ganso, o que era para virar
cisne e não passa de um marreco elegante. O 3-5-2 que virava 4-4-2, passou a
4-3-3.
O São Paulo fez o que eu temia, avançou,
parecia que ia, aos 49 Weverton fez defesa importante, mas não foi. Aos 57,
Bruno Silva lançou Marcelo, de novo sobre a posição de Antonio Carlos, o papa-léguas
cruzou e gol de Éderson, cada vez mais artilheiro do Brasileirão. Seu Muriçoca
acomodou-se nos estofados da Vila Caldeirão, tirou o boi bandido atordoado, foi
trocando jogadores, resolveu assistir ao jogo, aprender um pouco com o Furacão.
Tempo para preparar a desculpa, culpar o cansaço pelo baile que ainda demorou a
terminar.
O Atlético cumpriu atuação excelente, foi
taticamente perfeito, marcou com precisão, foi veloz na saída para o ataque, matador
nas conclusões. Deu-se ao luxo de zerar cartões amarelos, vamos para Criciúma com
o time bastante modficado.
Difícil ressaltar a atuação de jogador
específico em time que venceu com tamanha facilidade, fruto de atuação coletiva
impecável. Mesmo assim, vou ficar com Bruno Silva, perfeito na marcação, deu o
belo passe para Marcelo assistir Éderson no gol definitivo. Digamos que dou 10
a Bruno Silva, 9,5 para o restante da patrulha.
O Atlético do seu Vavá vai chegar à final com
o Flamengo na ponta dos cascos. A torcida que já atingiu 23 mil associados está
afinada, até o dia 20, o dia da taça, terá ultrapassado 24 mil fanáticos. O
coro vai ser arrepiante.
O jogo contra o São Paulo foi um bom treino,
mostrou que estamos polindo setores, ajustando a máquina, as peças estão
rendendo o máximo individualmente. Estou cada vez mais confiante, pronto para
ser campeão.
No meio da semana nos sagramos campeões gaúchos
de 2013, no domingo, contra o São Paulo, vamos nos tornar campeões paulistas.
Até agora não perdemos para nenhum time da pauliceia. Vencemos Ponte,
Portuguesa, Santos, Palmeiras, empatamos com Corinthians e São Paulo. A vitória
contra os bambis de Muricy nos dará o campeonato paulista. Pode distribuir as
medalhas.
O seu Muriçoca disse que não poupará
jogadores, vem para Curitiba com força máxima. Ele que venha. Em final de
campeonato a gente quer o adversário forte, para depois não ficar arrumando desculpas,
lamentando faltas, priorizando a Sul-Americana.
O tricolor joga com um 3-5-2 vacilante, defende
3-5-2, ataca 4-4-2. Os nomes que compõe esse camaleão tático são: Rogério Ceni;
Paulo Miranda, Rodrigo Caio e Antôno Carlos; Douglas, Denilson, Ganso, Maicon e
Reinaldo; Aloísio e Ademilson.
O momento da transformação tática acontece na
saída de bola bambinesca. O lateral direito Douglas avança e o zagueiro Paulo Miranda
cobre seu espaço. Assim, o time fica com quatro jogadores na armação, os
volantes Maicon e Edenilson responsáveis pela saída de bola, Douglas pela
direita, podendo jogar como ponta ou como meia pelo setor, e Paulo Henrique
Ganso Tem Que Marcar.
No ataque, Ademilson joga na velocidade sobre
o lateral direito adversário e Aloísio faz o pivô pelo centro, força pelas duas
laterais da área, movimenta-se muito, incomoda muito, tem fome de gol, tem que
cuidar.
Ganso marcado joga um toque, pouco produz, é
enfeite caríssimo. Deixou jogar enfia bolas precisas, decide a partida. Então,
tem que marcar. O bloqueio de Maicon é outra necessidade. A bola sai pelo
jogador, ele sabe encontrar seus companheiros de ataque com bom passe. É elo da
corrente a ser quebrado. O lateral esquerdo Reinaldo só vai na boa, é menos
frequente no ataque que seu companheiro Douglas.
O São Paulo cria muitas situações de ataque
quando o adversário permite que seus volantes e laterais ultrapassem da linha
de meio de campo. Não dá para jogar atrás, esperar na defesa. O Atlético terá
que manter postura ofensiva durante todo o jogo, obrigar Muricy a manter um
sistema defensivo mais precavido, com maior número de jogadores.
Douglas é o homem dos escanteios e faltas
diretas e indiretas. A bola aérea vai para Rodrigo Caio e Antônio Carlos. Nos
escanteios um em cada trave. Nas bolas paradas, um para raspadinha na frente,
outro entrando por trás da defesa. O lance é treinado, funciona.
A defesa diminui os espaços muito
rapidamente, se tiver que pensar para jogar, dominar a bola com dificuldade,
vai perder e dar chance para o contra-ataque, sempre por Ademilson. O time é
bem trabalhado, aplicado, bem Muricy.
O caminho para a vitória atleticana é a marcação
na frente, o bom passe, a velocidade. Antônio Carlos é o defensor mais lento. Nas
bolas paradas, os defensores, ótimos no ataque, deixam cabecear na defesa. As
brechas são poucas, vamos com tudo, atrasar a festa do Cruzeiro, levar a taça
do paulista.
Fui dormir quarta-feira com as imagens da
especial chegada à final obtida com o empate contra o Grêmio imortal, mas nem
tanto, nem com os 40 mil bombachudos que lotaram o belíssimo palco da nossa
vitória e terminaram em lágrimas de catarata, tantas que o Guaíba inundou
algumas das populações ribeirinhas da capital da gaúcha, um desastre futeambiental.
Levantei ontem preocupado em dar solução à minha
catarata, esqueci os amigos e fui ao oftalmologista, tenho que estar com a
minha visão a mil para assistir a grande final na Vila Caldeirão, o dia da
taça, sim, todos nós atleticanos de fé sabemos que taça se ganha em casa, o
passeio à toca adversária serve apenas para confirmar o pacote, receber o
troféu com visibilidade mundial. Ganhei o dia entre exames, luzes e cores.
O ritual de passagem não foi o mamão com
açúcar que eu imaginava, foi mamão com mel, o mel de abelhas atenienses que
adoçava os sucos e manjares dos deuses do Olimpo, salpicado por pimentas
santificadas para ressaltar ainda mais o sabor delicioso.
Mancini armou um Furacão defensivo que
bloqueou todas as opções do time do seu Renato. Marcelo pela direita bloqueou
Alex Telles, Baier fez a sombra na saída de bola, Éderson pela esquerda segurou
Pará, Deivid, Zezinho e Everton pararam o meio de campo tricolor, quando a bola
chegou perto da nossa primeira linha os quatro gigantes de ébano deram conta do
recado. Nos poucos momentos em que as pimentas voaram na direção do gol, São Weverton
as soprou para longe das redes.
Foi jogo em que minha pressão não passou dos
12 por 8, a cada minuto o sentimento era de que o Grêmio não teria condições de
marcar, estava completamente submetido ao rubro-negro. Renato foi substituindo
volantes por atacantes sem qualquer resultado prático, para ressaltar o sabor,
lá pelos minutos 90, Luiz Aberto salvou sobre a linha pondo ponto final ao
esforço da turma do chimarrão. Furacão na final.
Ressaltar jogadores em partida de dimensão
histórica é trabalhar com o perigo. Vou ficar apenas com a partida magistral de
Deivid, esperando que ela espalhe seus reflexos sobre todos os 14 de Esparta
que garantiram a concretização de mais esse sonho de todos os rubro-negros.
Deivid foi incansável, marcou sem faltas, passou, fez trabalho limpo, sereno em
meio à tormenta. Abraçando Coquinho, abraço a todos os atleticanos.
Anos atrás, assistindo ao programa Redação
Sportv, um dos convidados era gremista doente, um desses personagens folclóricos,
cheio de ditos, um gaudério mais para o grosseiro, nada que simbolizasse o
gaúcho defensor das nossas fronteiras que eu admiro. Lá pela quinta cuiada, a
tronqueira, sem qualquer motivo resolveu desancar em cima do Furacão, disse um
monte de bobagens, fiquei me perguntando de onde vinha aquela fúria ignorante,
afinal, se tem time com retrospecto positivo contra o Atlético esse é o Grêmio.
Agora eu sei, a ignorância de bota e esporas
já predizia a derrota futura, sabia que a ameaça era crescente, enfim,
antecipadamente se borrava nas bombachas. Pois o dia chegou e eu, com o sangue
adoçado pela vitória, só tenho uma coisa a dizer, toma gaúcho tosco.
O amigo ao meu lado nesse ano de alegrias
deve pensar, o Ivan perdeu a razão, no jogo em que perdemos para o Grêmio de um
a zero quebrou as panelas, concluiu que jogar contra o tricolor fora de casa é
perda de tempo, sugeriu que o Furacão mandasse o sub-23 fazer a partida em POA,
desse tempo para a equipe principal descansar em Curitiba, tão impossível
arrancar um bom resultado em terras gaúchas. Agora fala que a partida histórica
é mamão com açúcar. Perdeu o senso.
O companheiro está cheio de razão. Não só
quebrei as panelas, entortei os talheres, despedacei copos, estilhacei a louça
toda. No exterior, lá onde se precisa passaporte para jogar, parece impossível
o bom resultado. Já vi de tudo acontecer, não vou repetir minhas chorumelas em
dia que a Serra do Mar amanheceu coroada por lindíssima composição de nuvens
rubro-negras, antecipando o sucesso.
Os velhos carregam suas mochilas plenas de
boas e más lembranças. Lá do Sul maravilha minhas recordações são reprimidas
por boleadeiras de ferro. O uso do cachimbo deixa a boca torta, fiquei preso às
memórias, a cada novo jogo elas voltam, se materializam e eu perco a clareza do
pensamento.
Sorte que não jogo. Os guerreiros a entrar na
bela arena da OAS nada têm a ver com minhas cicatrizes, são jovens, sangue
novo, sem temores, querem ganhar mais do que tudo, o passado para eles
inexiste, o futuro grandioso é que move as chuteiras velocíssimas na defesa e nos
contragolpes dignos dos 300 de Esparta.
Eu apenas observo, torço, lanço minha força
campo adentro e espero que ela frutifique, assim como o amigo pleno de fé
também o faz, assim como aqueles que hoje se destinam ao campo da luta fazem
ainda melhor, corajosos que são, certos que são da passagem gloriosa para a
final.
Também tenho minhas certezas. Uma delas é que
faremos gol. Outra é que a direção gremista tem temor da nossa velocidade,
assim sendo, obrigatória manutenção de esquema defensivo superior ao mínimo,
impossível a saída para o ataque sem seguranças bem definidas, nem todos
avançarão, mais fácil guardar o zero defensivo.
Se faremos gol, se defender será mais fácil,
se sequer precisamos vencer para dar o passo à frente, concluo pelo mamão com
açúcar. Ressalvada a possibilidade da tropa gaúcha levar o jogo para a
incivilidade, a partida tem tudo para ser belíssima, disputada palmo a palmo os
noventa minutos, os nossos guerreiros saberão buscar os caminhos para a
vitória, fechar passagens, armadilhar acessos, atacar com sabedoria e vencer.
Não contente com a minha bola de cristal, fui
ao tarólogo, expliquei meu problema, ele, com um turbante rubro-negro na cabeça,
com tremenda cara de preocupação, mandou-me embaralhar as cartas esquisitas e tirar
uma delas com a mão sinistra. Cumpri as ordens suando no bigode, virei a carta
embolorada, um mago sorria para mim. O tarólogo deu uma gargalhada estridente e
disse triunfante: Será uma noite de muita luta, vencida pela sabedoria, uma
noite mágica.