quinta-feira, 30 de agosto de 2012

TORCEREMOS POR ELE


Domingo passado, tentando a certeza no que escrevia, busquei os melhores momentos de Paraná e Atlético na televisão local. Perdi os lances num canal onde Elias dava entrevista, fui para outro, esperei horroroso programa musical tipicamente carioca terminar em pagodão enfeitado por rebolantes mulheres com bombadas pernas de rã, e, por fim, entrei no mundo futebolístico nativo.

O programa é o Bem Amigos carijó. Uma mocinha para ler e-mails, um apresentador bem humorado, a tropa de comentaristas, possivelmente todos mais velhos do que eu – os cabelos negros indicam o patrocínio da L’Oréal –, dupla caipira animada com suas modas de encher bailão em Contenda.

O nome do show bem poderia ser Bem Compadres, visto haver tempo destinado aos abraços para compadrios de todos os tipos, desgastante, mas, penso eu, necessário. O animador vai para os destaques dos compadres. Fala o primeiro, o CD da dupla em mãos, e chega a vez do ídolo Barcímio Sicupira.

Vou fazer um adendo na historinha. Vi Sicupira jogar no Furacão e foi com ele, em 1970, que fui campeão pela primeira vez na vida. Craque, ninguém jogava no Botafogo de 1965 sem ser craque, gostava de vir buscar a bola pelo lado do campo e, a partir dali, armar as jogadas. Dentro da área, não tinha gol de bico, era tudo bonito. Despretensioso, certa vez, na linha do gol, serviu Tião Quelé, que há muito não marcava. É o maior artilheiro do Atlético.

Os mais novos podem compará-lo a outros rubro-negros, de certa forma desfazer da sua brilhante carreira no Atlético, mas não devem. Era outro futebol, o pagamento era incerto, não era todo ano que tinha Brasileiro na Baixada. Sicupira faz parte da história rubro-negra, salpica de brilho nossa história.

Pois o velho Sicupa, meu ídolo juvenil, vai na esteira do primeiro elogio a Manoel e  aconselha: Manoel deveria ir para o Corinthians, jogar ao lado de Chicão na zaga mosqueteira. No seu direito de comentarista, empurrado pelo seu lado jogador, Sicupira exalta a pobreza mental do nosso futebol.

Enquanto formos fornecedores de atletas para Rio, São Paulo, Minas e Rio Grande, viveremos à míngua de títulos, vibrando com brilharecos consequentes de felizes reuniões de atletas menores em seus melhores momentos, e os compadres continuarão a lamentar nossos elencos, dizer que tem que encorpar, há perigo de queda, será difícil subir.

Manoel está a caminho de ser um grande jogador. Ainda não é. Está aprendendo e o Atlético tem que usufruir muito dele antes de trocá-lo por pote de ouro. O exemplo de Rhodolfo é lapidar. Quando aprendeu a jogar, depois de anos de chutões e cabeçadas incertas, foi entregue ao São Paulo. Resultado, um tal Rafael na defesa e nós na segunda divisão.

Estamos em outras mãos, Petraglia não é tolo. Manoel deve estar focado no Atlético, toda vez que ouve o canto das sereias se complica. Como Sicupira tem que fazer sua história no Furacão que lhe deu a luz, depois a vida dirá, e nós, torceremos por ele.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

É SÓ UMA IDEIA


Cheguei em casa atrasado, querendo ligar a televisão e ver na arte os 10 minutos de jogo com 1 a 0 favorável ao meu Rubro-negro. Qual o quê. Só acertei o tempo de jogo. Sem preocupações, vamos ganhar, pensei eu, imaginando um lanchinho para matar a fome, os gols saindo a partir daquele momento, certo que o Furacão só me esperara para virar Barcelona.

Os últimos jogos do Atlético foram muito parecidos. O Rubro-negro ataca, o adversário defende, joga por uma bola para marcar e infernizar minha vida. Contra o Joinvile, meu martírio começou mais cedo que o normal. Nem bem tinha me acomodado na cadeira e aos 24 os catarinas marcaram o gol que me fez engasgar com a pipoca saída do micro, não tenho dúvidas, praga do meu amigo pipoqueiro paranista.

O tosse-tosse ainda me atormentava quando o pênalti em Deivid me trouxe algum alívio. Elias saçaricou, bateu, o goleiro tocou na bola, ela teve pena deste escriba e buscou o aconchego da rede. Passa o refri, agora vai. Aos 34, segundo amarelo e barriga-verde fora do jogo. Vamos Furacão. No primeiro tempo nada. O Atlético forçou pela direita, não conseguiu avançar seus laterais, João Paulo foi marcado, o Joinvile nada fez além de destruir e garantiu o placar.

A história se repete no segundo tempo. O intervalo permitiu ao treinador visitante arrumar seu time. Duas linhas de quatro, cada um marca o seu, um atacante para explorar o erro da defesa. O Atlético cerca, Botelho tem mais liberdade, os cruzamentos vão acontecendo, nada.

O jogo chega aos 15 minutos e a aritmética do futebol comanda a primeira substituição. Marcelo no lugar de Elias. Não gostei. A mudança toca o horror no ataque, Henrique vai para a esquerda, Felipe vem para o meio, Marcelo entra pela direita. Por que simplesmente Ligüera não substituiu Elias? Estivesse Baier no banco não seria esta a substituição óbvia? Vai lá dá certo, não estou sentado à frente da televisão para duvidar e sim para torcer.

Aos vinte e poucos, após três chutes de fora, o Atlético começa a errar passes e, aos 27, Manoel erra mais um, faz falta fora da área, o juiz dá pênalti. Por sorte, assistente aconselha e o juiz volta atrás. Falta. A menina já é musa Furacão. O susto trouxe Ligüera a campo, no lugar de João Paulo.

Eram 30 minutos, o jogo já era uma balbúrdia, o árbitro foi atacado por um complexo de culpa inaceitável e segurou o ataque do Atlético cumulando-o de faltas. Ao apitar o final da partida, levantou as mãos para o céu.

Por incrível que pareça, o sufoco que o Atlético impõe ao adversário tem dificultado as coisas. No segundo tempo não conseguimos uma falta frontal. Os cruzamentos são rebatidos pela defesa apinhada de jogadores. Para dar algum conforto, finalizamos com melhor precisão, demos trabalho ao goleiro Ivan.  

A solução parece estar em controlar o jogo trocando passes na intermediária ofensiva, distanciando as duas linhas de defesa adversárias, permitindo maior espaço de manobra. Não sei, é só uma ideia.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

AINDA BEM


Qualquer análise sobre Paraná e Atlético tem que levar em consideração verdade manifesta: os atleticanos são individualmente muito superiores aos paranistas. Nem poderia deixar de ser, dada a diferença de orçamento entre os dois clubes. Digo isso em virtude de reconhecer o fato inegável somente no transcorrer da partida, a gralha em extinção era para mim tremenda incógnita.

Como o nome do jogo é futebol, a desigualdade não tira o brilho da vitória Rubro-negra. Veja o amigo que o “maior vencedor de todos os tempos” tomou sapatada memorável do Figueirense, último colocado na primeira divisão. Tudo pode acontecer quando se trata de jogar com os pés.

A gralha bem que assustou, deu suas bicadas ali pelos dez minutos, fez o ótimo Weverton gastar as luvas. Um gol no início da pelada cairia do céu para o professor Ricardinho. Não fez, tomou um aos 14, em ótima cobrança de falta de João Paulo, este um jogador completo, foi dominada, levou o segundo aos 22, contra-ataque que começou e terminou com Botelho, passando pelo preciso Elias, e ficou atrás de ambientalista que a salvasse da degola iminente.

O juiz deu 2 minutos de acréscimo e aos exatos 47, o Atlético deu ânimo à ave pronta para o abate. Felipe abandonou a marcação de Paulo Henrique e quando Botelho chegou para bloquear era tarde demais. Encheu-se de esperança o meu amigo pipoqueiro paranista.

O segundo tempo trouxe Baier no lugar de Elias. Discordo da substituição apenas pelo cartão amarelo recebido no primeiro tempo. Está virando moda. Outra moda que me desassossega é o tal administrar o jogo, algo como frente a adversário inferior, com placar favorável, trocar passes, deixar o tempo passar, esperar o apito final.

Se a administração redunda em mais gols, tudo bem. Quando isso não acontece, o time recua, o passar do tempo traz substituições defensivas, o fraco fica ousado e o perigo ronda a área do administrador cada vez mais dependente da sorte.

Para o torcedor atleticano, na segunda divisão graças a derrotas nos últimos minutos, um trauma revivido a cada jogo.

Em 30 minutos, o Furacão chegou mais de 10 vezes pelos lados do campo, criou chances importantes e não marcou. Aos 33, Weverton fez ótima defesa em chute da esquerda. No escanteio a seguir, o cabeceio raspou a trave. Daí para frente, a chapa esquentou, Baier foi expulso, a gralha esperneou e amanheceu o domingo recheada, girando na televisão de cachorro do boteco pé sujo.

Vencido o clássico, o Atlético atinge objetivo intermediário importante ao final do primeiro turno, fica a 2 pontos do G4. O time tem bons jogadores em todas as posições, o entrosamento é crescente, a volta a Curitiba está encaminhada, o retorno à primeira divisão na alça de mira. Ufa! Ainda bem.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

REMAR, REMAR E VENCER


O Ricardinho vasculha sua prancheta em busca de soluções para vencer o Rubro-negro no clássico da sua vida. O ex-jogador já jogou muitos, decidiu muitos, mas, na nova carreira garantida por liminar, é o primeiro. Sabe, perfeitamente, que a vitória lhe dará fôlego para continuar, a derrota o colocará no caminho de apenas permanecer na competição, realizar o que se chama de um bom trabalho, fazer companhia ao coxa Marcelo Oliveira até o findar do ano.

Ricardinho deve ter estudado o Atlético , reconhecido as deficiências do Furacão e pretende utilizá-las para conseguir a vitória.

Vai jogar no ataque? Penso que não. Todos os que conseguiram bons resultados contra o Rubro-negro jogaram na defesa explorando os contra-ataques. Ricardinho pode fazer o mesmo, tentando um breve forçar ofensivo nos momentos iniciais dos tempos, quando o Atlético tem revelado desconcentração incompreensível.

Se vai jogar no contragolpe, como fará? Obviamente pelo setor de Maranhão, sempre na frente, utilizando jogador rápido no confronto com Manoel. O Criciúma chegou quatro vezes quase no interior da pequena área valendo-se desse expediente. Fica aí uma dúvida. Ricardinho vai tentar bloquear a subida de Maranhão? Caso positivo, terá suas chances de contra-ataque diminuídas.

Que mais poderá fazer o treinador da gralha?

Buscar as faltas nas proximidades da área para a batida de Lúcio Flávio, esperando que esse faça o seu papel nos tempos de jogador.

Tentar o escanteio longo para o retorno de cabeça para o interior da área, lance em que já levamos gol e quase se repete a desgraça contra o Tigre.

Não muito mais que isso. O resto é inflamar no discurso, lembrar do clássico, marcar, marcar, marcar, jogar no erro atleticano, fazer um gol, e, apoiado pela “massa”, resistir até o último minuto.

Logo após o jogo do Atlético com o Criciúma, passei por amigo paranista inflamado. Disse-me o herói em desaparecimento: “se o Paraná ganhar do Asa, a diretoria quer colocar quinze mil torcedores na Vila”. Perguntei a ele onde iria contratar tanta Kombi. Ficou sério. Não gostou.

O amigo vai me perguntar o que Nhô Drub pode fazer contra o Paraná? Não sei. Não assisto jogos do Paraná. Só por que estou na selva, nada me obriga a fazer amizade com o macaco, jantar com o leão, ficar espiando o voo da gralha. Quero mais é sair dela, tocar meu barco rio acima, alcançar meu lugar no castelo do rei. Para isso, o Atlético deverá optar pela tranquilidade, pela raça, remar, remar e vencer.

 

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

TENDA DOS MILAGRES


Estou lendo o livro Código da Vida do senhor Saulo Ramos, Ministro da Justiça no governo Sarney. Uma obra plena de elogios à classe dos advogados, todos a nata da inteligência, sábios na aplicação da lei, poços de virtude. Lá e cá uma tamancada em amigo que virou inimigo, um tropeço no ódio, nada que afete o brilho do antes nobilíssimo colega.

Lá pelo meio do alfarrábio, revela ter recebido proposta para ser Ministro da Justiça do governo Collor, implícita aí a defesa do presidente dos descamisados no processo de impeachment. Valor da proposta, cinco milhões de dólares. Pediu dez, foi atendido, negou.

Com a multidão de bandidos endinheirados que usufruem dos “rigores” da democrática Constituição de 1988, os advogados e seus salários estão a fazer inveja aos nossos maiores craques de futebol. Dizem que o Neymar vai tentar a Faculdade de Direito de Santos. O Sr Thomaz Bastos, Ministro do Lula, o ex-presidente acusado de chefiar o mensalão, teria recebido 15 milhões para defender o Cachoeira, pulou fora no meio do caminho. Tem um barbudinho que está sempre ao lado de meliante graúdo. Um Drogba do Direito.

Como não posso pagar essa gente e temo que a Djanira me lance às barras da lei, que a Justiça do Trabalho venha tirar meu sono, prefiro a velha e corroída senda da honestidade, pago tudo direitinho, tenho arrepios a cada história ouvida em que a doméstica venceu o patrão por goleada.

Por isso, quando li que o señor Morro Garcia entrara na Justiça contra o Atlético, minha pressão foi a 18 por 12. Pressenti o prejuízo já imenso transformar-se em verbete no Guinness, o Livro dos Recordes, o Rubro-negro obrigado a limpar os cofres para pagar o atacante e seus craques togados.

Semana passada, Petraglia devolveu Garcia ao Nacional. Não acreditei. Fui ao site do clube ler os termos do acordo e descobri que o Atlético ainda vai receber dinheiro de volta. Li de novo, devia ter perdido algum detalhe, no mínimo a possibilidade de recorrer deveria estar contida em algum parágrafo obscuro. Nada. Esperei as repercussões. Dei um tempo. Nada.

Como diria amigo meu: “essa foi campeã”. O Atlético deve ter um Messi no Departamento Jurídico.  Fica aqui o meu abraço ao camisa 10 dos causídicos.

Depois dessa acredito em tudo. O Furacão ainda vai ser campeão da segundona, o teto retrátil da nova Baixada virá com película anti-reflexo, o Janguito viverá dias de casa cheia. Hoje não tenho mais dúvidas, o Atlético é a tenda dos milagres.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

COISAS DO FUTEBOL


Sou milico velho, daqueles acostumados a rotinas, as funções claramente definidas em regulamentos, quando não, detalhadas nas famosas normas gerais de ação de cada unidade, o tal quartel para o público civil. Ano passado, fiquei interessado em planejamento estratégico do Figueirense, editado em livro, bonito, imaginei encontrar ali algo parecido com os planos a que me acostumei na vida verde-oliva.

O Figueirense estava bem, fez um grande campeonato brasileiro, fiquei com a ideia de que o resultado era fruto do bom planejamento e mandei email para o time de Floripa, tentando adquirir exemplar da chave do sucesso catarinense. Educado, o encarregado da resposta lamentou não poder me atender, tendo em vista o sigilo do documento. Entendi perfeitamente. No fundo, era o que esperava ouvir.

Sem o novo conhecimento, estacionei no conteúdo do livro “Futebol, teoria e prática” de Ariobaldo Frisseli e Marcelo Mantovani, onde sucintamente os autores apresentam a estrutura administrativa de um clube de futebol. É pouco.

Quando em reunião do Conselho se discutiu a formação de comissões e Petraglia aventou a possibilidade da criação de uma específica sobre futebol, vi ali a chance de conhecer a organização atleticana e produzi documento em que turmas de conselheiros participariam de uma espécie de clínica, onde os chefes de setor, em encontros rápidos, passariam suas responsabilidades e atividades em andamento. Para ajudar, criticar, indispensável conhecer.

O telefonema veio rápido, polido como sempre. Não seria possível implantar da forma como eu apresentara, mas poderia ser aproveitado em melhor momento. Agradeci a consideração e entendi que meu simples projeto estava sendo lançado no que chamamos no Exército de caixeta do esquecimento. À Pátria tudo se dá, nada se pede, nem mesmo consideração. A gentileza do representante rubro-negro já foi mais que suficiente. 

Por que estou enrolando o amigo com todas essas considerações? Porque o Atlético está prestes a contratar o senhor Jorge Andrade, segundo a notícia, “para ajudar no departamento de futebol do Furacão”, desfalcado desde a saída do devastador Orlandelli.

Aí fico na dúvida. O que vai fazer esse senhor, quais serão suas atribuições, que poderes terá, inexiste em Curitiba um atleticano em condições de dar essa ajuda, alguém comprometido com o clube, com formação esportiva, que não seja o terrível Ibiapina?

Por pouco conhecer, considero justa a minha dúvida, e assisto meio com o espírito de vamos ver no que vai dar, sem discordar do comando atleticano. Nem poderia, o planejamento que admirei, vi como solução para todos os problemas, foi por águas abaixo. O Figueirense é, neste ano, o lanterna da competição. Coisas do futebol.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

BOA SORTE



Saio para aproveitar a manhã de sol, sentir a alegria fluir pelo corpo velho, quando passando em frente do boteco pé sujo, escuto do homem que com um pano imundo tenta “limpar” o piso gordurento: “um a zero no pau da goiaba”. Um desarrumado emendou lá do fundo: “e que golzinho estranho”. Imaginei serem coxas, ou paranistas, discutindo o jogo do meu Furacão.

Fossem atleticanos estariam de pé nas cadeiras, falando da vitória heroica, do golaço de Marcão, a canela mais bem localizada em toda história do futebol brasileiro, gastando a aritmética para calcular chances de retorno à série A.

O um a zero foi na medida. Contra o Criciúma vice-líder, precisando encurtar diferença enorme, o Rubro-negro venceu partida que começou com susto capaz de fazer seu Petraglia cair do assento, onde nem bem se acomodara. Dois minutos e barriga-verde chegou livre na cara de Weverton. A defesa milagrosa encaminhou jogo tranquilo.

Repetindo a escalação do jogo anterior, com Henrique e Felipe alternando o posicionamento pelas extremas, Elias gerenciando o trânsito ofensivo, João Paulo estupendo no desarme e saída de bola, os dois laterais sempre no ataque, o Atlético trocou passes desde Manoel, fez o gol “estranho” logo aos 21, e conseguiu três pontos magníficos.

O gol de Marcão foi fruto do aumento da probabilidade de sucesso que o número elevado de atacantes na área proporciona. Quando Pedro Botelho cruzou, o Furacão tinha Felipe para chutar, mais três atacantes posicionados à sua frente. As chances de gol eram muito grandes.

Felipe finalizou, a bola desviou em Marcão, todos os atleticanos do mundo gritaram “Vai! Vai! Entra! Entra!”, e ela, fazendo-se de rogada, atendeu ao pedido. É raro termos tantos jogadores colocados de modo a aproveitar cruzamentos e erros da defesa. Bola no fundo, a tropa tem que entrar na área.

Giovanni, o cabeçudo do Criciúma, que aos 31 do primeiro tempo foi expulso por atropelar Deivid, facilitou o serviço.

Aí ficaram faltando os gols. Mesmo com o Tigre jogado na defesa os 90 minutos, deveríamos ter marcado mais. Marcão perdeu um feito ainda na primeira etapa, e, na segunda, somente três chutes tiveram direção do gol, dois de fora da área. Muito pouco. Os cruzamentos cortaram a área sem interferência dos atacantes.

Não fosse o drama vivido, o temor do empate, que quase aconteceu em escanteio no primeiro minuto do segundo tempo, o torcedor teria cochilado.

Embora com efetiva presença no ataque, a defesa tem garantido as vitórias. Ótimo. Um pouco de estrela tem ajudado. Melhor ainda. Em semana em que nos despedimos de Morro Garcia e Paranaguá, estava na hora de receber um afago da boa sorte.


sexta-feira, 17 de agosto de 2012

SE A ALMA NÃO É PEQUENA


O atleticano está de queixo caído com a performance de Bruno Mineiro na Portuguesa: três gols em três jogos. O torcedor pode estar. Quem tem mais tempo para acompanhar o clube, com olhar desapaixonado, sem a sede absurda de gols do homem da arquibancada, sabe que o atacante é artilheiro capaz, lutador, sem medo de dividida, excelente cabeceador.

No Atlético 2012 revelou outra faceta importante, fez inúmeras assistências. Nos clubes por onde passou, aqui mesmo, foi sempre artilheiro. Com seu gol na última partida de 2011, colocou o Sport na primeira divisão.

Quem tem a paciência de ler meus textos, que alguns erradamente chamam de coluna, algo para os mestres, sabe que fiz o possível pela escalação do jogador, nunca tive dúvidas que dentre os atacantes do Atlético ele era o melhor. Veja bem, nunca disse que Mineiro é um craque. O Damião é?

Petraglia e Jofre Cabral e Silva são os craques presidentes da história do Atlético. O primeiro, o empresarial, o construtor do sonho impossível. O segundo, o emocional, o homem de levar pela palavra, fazer da frase poção encantadora capaz de conduzir torcedores aos confins do mundo atrás de uma bandeira. Morreu no ofício, virou santo.

Ambos merecem estátuas na frente da maravilhosa Baixada, que Petraglia fará ainda maior e melhor. Afirmei a minha admiração por Petraglia? Não vou ser chamado de traidor? Pois bem. Sigo em frente.

Sou contra o modelo utilizado por Petraglia no gerenciamento do futebol do Atlético, pelo simples fato de que seus resultados são os piores possíveis, que fique claro, desde 2008, quando em final de campeonato passou o cargo ao Malucelli para que se pudesse contratar Geninho.

Petraglia acredita na profissionalização do setor, em currículos, em experiências no exterior, e se afunda num pântano de diplomados amadores que não conseguem reconhecer em Bruno Mineiro capacidades evidentes, que conseguem esquecer Ligüera, ver qualidades em Bruno Costa, contratar Pedro Botelho.

O amigo vai dizer que não é o modelo, trata-se apenas de encontrar as pessoas certas, como tudo no futebol, uma questão de encaixe. Pode ser.

Petraglia deve estar às voltas com o fantástico caso Morro Garcia, garantindo recursos para o Atlético, no que é leão invencível. Na primeira pausa, deve voltar aos noventa minutos, ao ganhar três pontos. Estudou futebol, tem experiência, inteligência privilegiada, nada custará voltar ao passado vencedor, reconhecer virtudes no olhar dos práticos, nos atleticanos unicamente interessados no sucesso do Furacão, encontrar com eles o encaixe perfeito.

Vale a pena tentar, afinal, como disse o poeta, tudo vale a pena, se a alma não é pequena.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A BANDEIRA, A MEDALHA E O HINO


O comentarista elogia, fala da melhor marca do ano, lembra resultados, encaminha o telespectador a torcer pelo guerreiro tupi, e quando o arremessador gira e lança o disco trepidando mais que calota de “chevelho”, ali a irrisórios metros de distância, não se aguenta, cai do salto e classifica: “lançamento horroroso”. Foi assim que eu me senti ao fim do primeiro tempo.

Ganhar em Paranaguá passou a ser o desafio do século. O adversário encolhe, dificulta tudo que pode e tem o contra-ataque para causar aquelas fibrilações estranhas no meu pobre coração. Só para lembrar, aos seis minutos o glorioso Asa de Arapiraca já tinha chegado três vezes com perigo.

E o meu Furacão fica ali como lutador de tae kwon do da República do Mali. Gira, gira, pula, pula, mas chutar que é bom nada, obrigar o goleiro a pegar uma indefensável, nem pensar. O cruzamento sai, só Marcão na área. Elias, uma força na partida anterior, erra passes, pouco ajuda. Felipe e Henrique nada criam. No que esse Henrique é melhor que o Edigar Junio? O Atlético vive de Maranhão, correndo mais que jamaicano em final de cem metros.

O segundo tempo começa com a entrada de Ricardinho no lugar de Felipe. Opa! Vamos jogar um pouquinho pela esquerda. Que nada! O rapaz resolve entrar pelo meio e facilita ainda mais para o Asa desafiador. Então, o disjuntor cai, o refletor apaga, tempo para Nhô Drub pensar. A luz volta com Paulo Baier no lugar de Elias.

Rola a bola e já vejo um cabeça chata agarrado no velhinho. Pouco mais e um choque de cabeças faz seu Paulo sair de campo pingando sangue. Alguém aí, por favor, apague a luz de novo. Volta o “veio” com aquela bandagem de apache em filme de John Wayne.

O jogo ganha movimentação, Baier está objetivo, rápido, a sangria fez bem, mas continuamos sem dar trabalho ao goleiro. Finalmente, Nhô Drub coloca Ligüera, volta Cleberson para a zaga, sai Luiz Alberto. No futebol tem que jogar quem sabe. O cara foi da seleção uruguaia. Já me basta o Mano entrar com três volantes contra o México, as camisas do Gerson e do Rivelino nos corpos de Rômulo e Alexsandro. E quer ganhar ouro.

Um nordestino arretado foge pela esquerda livre e fuzila na rede, pelo lado de fora. Ai! Ai! Ai! Olha a síndrome dos 35 minutos. Começo a gostar do empate devastador. Baier chuta de fora, o goleiro faz bela defesa. Chuta de novo, a bola desvia no zagueiro, explode no peito de Ligüera e sobra no pé do “veio” que desloca o goleiro com sutileza. Gol!

Baier sai com aquele sorriso de quem não acredita em tanta iluminação. Na entrevista de fim de jogo, os três pontos somados, um fio de sangue escorre pelo rosto do artilheiro. Só faltam a bandeira, a medalha e o hino.




segunda-feira, 13 de agosto de 2012

RITMO DE GALOPEIRA


Estou jogado na poltrona, ainda emocionado com a posição de sentido com que a nossa pentatleta medalhista de bronze reverenciou o elevar do pavilhão nacional, quando os gols do Fantástico mostram as viradas de Corinthians e Grêmio. Os pais da casa estão felizes.

O coxa perdeu, daí o motivo da minha felicidade. Grêmio e Corinthians venceram, os pais dos meus netos queridos encerraram seus dias em êxtase. Os meninos merecem. Meu pai, meu herói, deve estar com aquele seu sorriso de olhos miúdos, feliz por me ver feliz com a tropa toda.

No meio dos gols, lá está Bruno Mineiro, marcando de cabeça. Esse é um dos motivos porque acho o troca-troca de técnicos promovido pelo Atlético algo de um amadorismo sem limites. O sábio da hora faz um treino e elimina logo uns cinco, sua visão experiente descobre dois craques jamais pensados, pede jogadores, tem que qualificar.

E lá se vai o Bruno, Ligüera e Edigar Junior tentam mostrar serviço, de nada adianta, caem no ostracismo, no final do mês passam no caixa para receber a justa paga. É um desperdício de talento e recursos absurdo, sem contar os recém-chegados, craques a serem olvidados pelo próximo gênio da fila em andamento.

Desde a demissão de Ney Franco, com vitória, e sobre os coxas, o Atlético vive esta roda viva de treinadores. Fora as campanhas de socorro promovidas por Antônio Lopes e Geninho, também demitidos após o mequetrefe Paranaense, o único a durar foi Carpegiani. Nomes de todos os tipos, cidadãos de todos os quadrantes do país passaram pelo Caju, trazendo suas soluções e craques. E o time no buraco, agora, na semiescuridão do buraco.

Se o amigo perguntar se estou satisfeito com a dupla Nhô Drub e Zé Alberto direi que claro que não. Gostaria de um técnico vencedor, alguém com currículo, mas esse, tenho certeza, nem pensar. Então é torcer pela dupla de plantão e aconselhar.

O desafio para o Atlético tornou-se ganhar em Paranaguá. O time ataca, avança e sofre o gol definitivo. A imprensa faz festa com o rendimento da nossa defesa, uma das menos vazadas. O problema é um só, se você não faz gol, um que leve é suficiente. Cuidado com a defesa.

O desafio para o treinador rubro-negro é ficar de boca fechada. A imprensa cutucou, faz de propósito, Don Juan reclamou a falta de Guerrón e caiu. Jorginho foi insistentemente cutucado sobre o tema Paranaguá, frisou a dificuldade, repetiu o discurso, e caiu. Cuidado com a boca.

A resposta evasiva de Alberto ao final do último jogo mostra que o plantonista conhece o patrão. Meio caminho andado. Ganhar do Asa é perfeitamente possível. As perspectivas são boas. Até o Paulo Baier largou o chinelo. Jogar sem torcida, o elementar obstáculo. Mesmo assim, acho factível. Salvo algum desastre, até o final da semana, vamos em ritmo de galopeira.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

PARABÉNS PETRAGLIA

Moro de cara para o sol da manhã. Da minha privilegiada janela, me acostumei a ver as primeiras claridades do dia refletidas sobre a cobertura da Arena magnífica, exemplo de modernidade em tempos de velharias, um orgulho para todos os rubro-negros.

A possibilidade de dar presente ao curitibano, trazer para a cidade os jogos da Copa 2014 e as consequentes melhorias na sua infraestrutura, fez os atleticanos decidirem por colocar por terra o sonho materializado, destruir o novo para construir o soberbo, dar passo gigantesco na direção do que há de melhor no mundo.

O avançar é movimento cheio de riscos, ainda mais quando invejas poderosas estão dispostas a intervir em todos os setores para dificultar o crescimento inevitável. Foram essas invejas travestidas de defensoras dos dinheiros públicos, determinantes para que meu olhar demorasse por meses sobre a Arena destruída, a cada manhã a esperança de uma agitação produtiva e nada além do voo dos pássaros indolentes sobre o esqueleto em definhamento.   

Pois ontem, finalmente, li a notícia tão esperada. O BNDES liberou os recursos para o avançar da obra.

O que começou lá pelo agosto de 2011, com o convencimento do Conselho Deliberativo da Administração Malucelli, tarefa duríssima, um ano depois recebe o tiro de partida, sai do bloco e, a partir de agora, deverá seguir como um Usain Bolt na direção da linha de chegada.

Imagino o trabalho que deu chegar a este ponto. Quantas dúvidas assomaram às mentes dirigentes, quantos projetos foram feitos e refeitos, quantas leis e artigos rebuscou o jurídico, quantas negociações se estabeleceram sem que qualquer de nós tivesse o menor conhecimento.

Como atleticano nascido aqui ao lado da velha Baixada, menino acostumado a entrar pelo portão da Petit para ver treinos, jogado nas arquibancadas de tijolos, ou nos bancos de madeira da social, próximo aos endinheirados com seus coletes e cigarros fumegantes, é fácil entender a emoção que irrefreável me atinge ao teclar o parágrafo, antevendo a colossal transformação.

Nada fiz, além de sofrer distante os inúmeros percalços ultrapassados pela direção rubro-negra. A ela os meus parabéns. A todos aqueles que cooperaram de qualquer forma para que tantas represas fossem abertas, tantos nós fossem desatados, os meus sinceros cumprimentos, não apenas do atleticano de fé, mas, também, do velho piá orgulhoso da cidade onde nasceu.

O amigo ainda não leu o nome Petraglia neste texto que se alonga. Tem razão, impossível não citar, ficou para o fim. Parabéns Petraglia.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

SECA PIMENTEIRA


A dupla Nhô Drub e Zé Alberto, que estava no camarim torcendo para que o velho empreiteiro buzinasse o Jorginho dos odores, pulou no palco de vereda, cantou sua moda contra os patrocinados pelos Cavaleiros do Forró e venceu.

Com essa tropa de Goiás chegando no Caju, pode ser que a solução para os nossos problemas seja mesmo uma dupla caipira, seja pelo canto afinado, seja pelo fim dos olhos gordos que há tempos esperam uma beirada para fazer do Rubro-negro plataforma para o sucesso.

A moda que a dupla cantou no Nazarenão foi coisa mesmo de gente aproveitadeira. O esquema utilizado foi aquele que nos trouxe a alegria dos gols com Don Juan, o que vai aumentar a saudade das viúvas do uruguaio, entre as quais me incluo.

A primeira linha de quatro assustadora, sempre em linha, contando com o participação hábil do assistente, os dois volantes, Derley marcando individualmente o velho Netinho, Henrique pela direita, Marcão centralizado, Felipe pela esquerda e Elias fazendo a transição. A marcação obstinada de Netinho mostra o tamanho do nosso retrocesso.

Qual a diferença do time do Carrasco? Ao invés de ter dois ponteiros de velocidade, Henrique e Felipe jogam fechando pelo meio, aproximam-se de Elias e abrem espaço para os laterais avançar. A aproximação facilita a troca de passes, permite o controle do jogo, evita o constante rifar da bola, divide a marcação. Era o rumo indicado por Jorginho. Deu certo.

Dos que chegaram gostei de Maranhão, dos volantes, João Paulo tem melhor chegada no ataque, Felipe, ainda errando passes, e Elias, como já se sabia, jogador acima da média. A análise pós-jogo de Elias em Paranaguá, reclamando maior retenção de bola no setor ofensivo, sinalizava para a natural melhoria do funcionamento da equipe apenas com sua presença.

Esqueci do Marcão? De jeito nenhum. Dois gols decisivos me colocaram no céu. O passe de Deivid para o segundo gol me encheu de alegria.

Algo a reparar? Sim. A defesa continua sofrendo com as bolas paradas, temos que diminuir o número de faltas. Facilitamos para o chute de fora, principalmente no segundo tempo. Fui dormir feliz.

Quem também teve uma boa noite de sono foram os caipiras no comando e o velho empreiteiro, que já mandou desligar os telefones, parar a busca de treinadores, se em algum momento existiu. Os primeiros pediram e ganharam a chance da vida, o segundo vibrou com a possível solução dos problemas sem grandes gastos, sem gente repetindo que jogar em Paranaguá atrapalha.

O atleticano em desespero gostou. O apaixonado, sem dormir desde o início de 2011, aceita qualquer coisa, com técnico, sem técnico, quer três pontos. Os que devem ter dormido mal, choraram a vitória, foram os seca pimenteira.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

TELEFONAR PARA O PETRAGLIA


– E aí seu Ivan, viu a novidade? – pergunta o meu porteiro coxa, alfinetando meu mau humor rubro-negro.

– O que foi agora, contrataram o Guardiola, o fabuloso Gilson Kleina?

– Não, o Alberto vai comandar o Atlético em Natal?

– Alberto? O lateral? – pergunto como se estivesse vendo a esquadra marciana descendo sobre Curitiba – E o Drubcky?

– Acho que já ganhou rumo –, avança o coxa sem certeza, rindo da minha cara de donde saiu isso. Não espera me recompor e ataca.

– Para mim ele tem a faca e o queijo na mão. – Faço um muxoxo desentendido.  – É só escalar o Weverton, a defesa com Maranhão, Gabriel Marques, Cleberson e o Heracles.....

– Ei! Ei! Ei! – Intervenho. – Você está escalando o Atlético e já tirou o Manoel. – Tiro o Manoel e escalo o Heracles só para defender, e já é muito.

– Vai, prossiga –, estimulo para ver onde a prosa vai acabar.

– O Derley e o João Paulo na frente da área, o Ligüera e o Felipe na armação.

– Gostei de você ter ressuscitado o Ligüera –, atalho concordante. – E o ataque?

– Marcelo e Marcão, ou Edigar Junior e Marcão –, fala e espera ansioso pela minha aprovação.

– Entendi. E como esse time defende?

– Duas linhas de quatro, Marcelo e Felipe bloqueiam os laterais, Ligüera e Marcão marcam a saída de bola.

– E como ataca?

– Maranhão, Ligüera e Marcelo pela direita, João Paulo e Felipe pela esquerda, Marcão centralizado. – Coço a barba ainda por fazer, sinto o pão perdendo calor na mão direita, tento acelerar os neurônios preguiçosos e pergunto.

– Quanto você quer para treinar o Atlético?

– Uns três paus por mês, vale transporte, vale refeição, plano de saúde pros meninos e tá feito –, responde o Muricy do edifício. Saio na direção do elevador, paro, volto à portaria, balanço a cabeça e peço ao amigo sorridente.

– Você me dá dez minutos. Vou telefonar para o Petraglia.

domingo, 5 de agosto de 2012

MALDITA PARCIMÔNIA


Estava vendo o jogo e pensando na fala do presidente Petraglia em entrevista à rádio Piratininga, transmitida para o vale do Paraíba e para o mundo: “desaprendemos a jogar na segunda divisão”.

Fiquei pensando se tínhamos aprendido, se jogar na segunda divisão era aquilo visto em campo, um desajuste de dar dó, Manoel de lançador, os cheirosos meias do seu Jorginho sem pegar na bola, tomar gol de linha de passe, de cabeça.

O gol sofrido explica a derrota. João Paulo era o melhor do jogo, marcava, distribuía, deu passe para Marcão definir frente ao goleiro, era o mais consciente do time. Rebote na área rubro-negra, a bola sobra para o volante, livre, e ele esquece o futebol bem jogado, dá uma varada, fura, a bola vai para o escanteio fatal. Moral da história: um momento de namoro com o horror da segunda divisão e você casa com ela.

Fim da história: Jorginho falou, falou, falou, perdeu, perdeu, perdeu, foi embora. O Atlético continua em busca de um salvador. Vejo a saída do treinador como mais um óbice para a nossa difícil caminhada, mas não se pode advogar em sua causa. Seu principal defeito foi a incoerência.

O que afirmava na quarta, contrariava no sábado. O jovem não ia resolver, lá estava escalado. O recém-chegado estava fora de ritmo, olha ele em campo. O que tinha que ser gradual, virou atropelo. Foi-se o Napoleão do Caju.

E agora, o que fazer com todos os cheirosos por ele chamados, escalados, detonados e abandonados?

Onde encontrar alguém com o conhecimento de que a defesa do Atlético sofre cinco ataques por partida e um acaba nas redes?

Onde achar alguém que conheça o elenco de Ligüera a Elias, passando pela dezena de recém-chegados, tenha ideia mínima das capacidades de cada um, possa armar time que saiba trocar passes de dez metros?

Onde localizar alguém que não compactue com essa ideia absurda de time para segunda divisão, que goste de futebol bem jogado, com jogadores próximos, criando situações de ataque coletivamente, sem o absurdo individualismo e correria que estão nos matando?

Onde topar com alguém especialista em ataque, nossa única solução, mas que saiba ajeitar defesa em pandarecos?

A diretoria deve estar correndo atrás desse ente mitológico. Quem? Não sei, na minha relação até o meu nome entrou, a esposa concorda, desde que eu deixe a faxina feita. Os nomes são muitos. Só não me venham com economias, a origem de toda esta desgraça está na maldita parcimônia.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

FIQUE TRANQUILO


Os jogadores estranharam o silêncio de Jorginho no início da preleção. De olhos baixos, parecia procurar algo sobre a pequena mesa em que se apoiava. De repente, levantou o olhar napoleônico, pareceu procurar o infinito no horizonte finito da sala e disparou: “Cheirosos e fedidos, hoje vamos jogar o futebol trambolhão”.   

Silêncio absoluto. Esperava-se uma explicação para a nova modalidade tática. Com o olhar ainda perdido, a interrogação do olho esquerdo cada vez mais acentuada, prosseguiu o treinador.

– A defesa isola, bico para frente e para os lados. Quem conseguir pegar a bola, no meio de campo, dispara com ela para frente. Se alguém chegar na linha de fundo, fecha os zóio e cruza. Quem estiver passando pela área, tenta colocar para dentro. Sem a bola, aproxima, marca, derruba.

Estava definida a forma de jogar. Jorginho pareceu sair de transe redentor e se foi, deixando os atletas em aquecimento para entrar no coliseu de Guaratinguetá.

O assessor de imprensa rubro-negro recomendou cuidado aos fotógrafos e câmeras de televisão nas laterais e fundos do campo.

Deu certo. Os guerreiros cumpriram à risca as determinações do Napoleão do Caju, penamos, e graças a um penoso, vencemos. O chute de longe de Bruno Furlan resolveu o problema. Infelizmente se contundiu. Perda irreparável.

Se o amigo discorda de minha abordagem irônica, direi que o Atlético jogou com grande intensidade, foi competitivo, dominou a partida e venceu com mérito. Os jogadores se esforçaram ao máximo, o torcedor pode torcer o nariz para o aspecto técnico, jamais ponderar falta de luta. Os três pontos vieram envoltos em camisas enlameadas. Vibre rubro-negro.

Entre cheirosos e fedidos, ficamos sabendo que Ligüera é fedidíssimo. Depois de amargar a reserva de Baier, Harrison e agora do desconhecido Felipe, pode procurar time. Bruno Mineiro, outro fedidíssimo, já foi embora. Um dos mais aromáticos é Tiago Adan, o rapaz deve tomar banho com Versace Pour Homme legítimo, comprado na Rue de Rivoli em Paris.  Futebol é esporte para se torcer, jamais entender. Daí alguns aromas não muito agradáveis.

Ontem, terminei meu texto afirmando que vai dar certo. O amigo leitor concordou, duvidou apenas se neste ou no próximo ano. Prezado amigo, vai ser sofrido, mas voltaremos neste ano. Fique tranquilo.