quinta-feira, 30 de agosto de 2012

TORCEREMOS POR ELE


Domingo passado, tentando a certeza no que escrevia, busquei os melhores momentos de Paraná e Atlético na televisão local. Perdi os lances num canal onde Elias dava entrevista, fui para outro, esperei horroroso programa musical tipicamente carioca terminar em pagodão enfeitado por rebolantes mulheres com bombadas pernas de rã, e, por fim, entrei no mundo futebolístico nativo.

O programa é o Bem Amigos carijó. Uma mocinha para ler e-mails, um apresentador bem humorado, a tropa de comentaristas, possivelmente todos mais velhos do que eu – os cabelos negros indicam o patrocínio da L’Oréal –, dupla caipira animada com suas modas de encher bailão em Contenda.

O nome do show bem poderia ser Bem Compadres, visto haver tempo destinado aos abraços para compadrios de todos os tipos, desgastante, mas, penso eu, necessário. O animador vai para os destaques dos compadres. Fala o primeiro, o CD da dupla em mãos, e chega a vez do ídolo Barcímio Sicupira.

Vou fazer um adendo na historinha. Vi Sicupira jogar no Furacão e foi com ele, em 1970, que fui campeão pela primeira vez na vida. Craque, ninguém jogava no Botafogo de 1965 sem ser craque, gostava de vir buscar a bola pelo lado do campo e, a partir dali, armar as jogadas. Dentro da área, não tinha gol de bico, era tudo bonito. Despretensioso, certa vez, na linha do gol, serviu Tião Quelé, que há muito não marcava. É o maior artilheiro do Atlético.

Os mais novos podem compará-lo a outros rubro-negros, de certa forma desfazer da sua brilhante carreira no Atlético, mas não devem. Era outro futebol, o pagamento era incerto, não era todo ano que tinha Brasileiro na Baixada. Sicupira faz parte da história rubro-negra, salpica de brilho nossa história.

Pois o velho Sicupa, meu ídolo juvenil, vai na esteira do primeiro elogio a Manoel e  aconselha: Manoel deveria ir para o Corinthians, jogar ao lado de Chicão na zaga mosqueteira. No seu direito de comentarista, empurrado pelo seu lado jogador, Sicupira exalta a pobreza mental do nosso futebol.

Enquanto formos fornecedores de atletas para Rio, São Paulo, Minas e Rio Grande, viveremos à míngua de títulos, vibrando com brilharecos consequentes de felizes reuniões de atletas menores em seus melhores momentos, e os compadres continuarão a lamentar nossos elencos, dizer que tem que encorpar, há perigo de queda, será difícil subir.

Manoel está a caminho de ser um grande jogador. Ainda não é. Está aprendendo e o Atlético tem que usufruir muito dele antes de trocá-lo por pote de ouro. O exemplo de Rhodolfo é lapidar. Quando aprendeu a jogar, depois de anos de chutões e cabeçadas incertas, foi entregue ao São Paulo. Resultado, um tal Rafael na defesa e nós na segunda divisão.

Estamos em outras mãos, Petraglia não é tolo. Manoel deve estar focado no Atlético, toda vez que ouve o canto das sereias se complica. Como Sicupira tem que fazer sua história no Furacão que lhe deu a luz, depois a vida dirá, e nós, torceremos por ele.

Nenhum comentário:

Postar um comentário