Domingo passado,
tentando a certeza no que escrevia, busquei os melhores momentos de Paraná e
Atlético na televisão local. Perdi os lances num canal onde Elias dava
entrevista, fui para outro, esperei horroroso programa musical tipicamente
carioca terminar em pagodão enfeitado por rebolantes mulheres com bombadas
pernas de rã, e, por fim, entrei no mundo futebolístico nativo.
O programa é o Bem
Amigos carijó. Uma mocinha para ler e-mails, um apresentador bem humorado, a
tropa de comentaristas, possivelmente todos mais velhos do que eu – os cabelos
negros indicam o patrocínio da L’Oréal –, dupla caipira animada com suas modas
de encher bailão em Contenda.
O nome do show bem
poderia ser Bem Compadres, visto haver tempo destinado aos abraços para
compadrios de todos os tipos, desgastante, mas, penso eu, necessário. O animador
vai para os destaques dos compadres. Fala o primeiro, o CD da dupla em mãos, e
chega a vez do ídolo Barcímio Sicupira.
Vou fazer um adendo na
historinha. Vi Sicupira jogar no Furacão e foi com ele, em 1970, que fui
campeão pela primeira vez na vida. Craque, ninguém jogava no Botafogo de 1965
sem ser craque, gostava de vir buscar a bola pelo lado do campo e, a partir
dali, armar as jogadas. Dentro da área, não tinha gol de bico, era tudo bonito.
Despretensioso, certa vez, na linha do gol, serviu Tião Quelé, que há muito não
marcava. É o maior artilheiro do Atlético.
Os mais novos podem
compará-lo a outros rubro-negros, de certa forma desfazer da sua brilhante
carreira no Atlético, mas não devem. Era outro futebol, o pagamento era
incerto, não era todo ano que tinha Brasileiro na Baixada. Sicupira faz parte
da história rubro-negra, salpica de brilho nossa história.
Pois o velho Sicupa, meu
ídolo juvenil, vai na esteira do primeiro elogio a Manoel e aconselha: Manoel deveria ir para o
Corinthians, jogar ao lado de Chicão na zaga mosqueteira. No seu direito de
comentarista, empurrado pelo seu lado jogador, Sicupira exalta a pobreza mental
do nosso futebol.
Enquanto formos
fornecedores de atletas para Rio, São Paulo, Minas e Rio Grande, viveremos à
míngua de títulos, vibrando com brilharecos consequentes de felizes reuniões de
atletas menores em seus melhores momentos, e os compadres continuarão a
lamentar nossos elencos, dizer que tem que encorpar, há perigo de queda, será
difícil subir.
Manoel está a caminho de
ser um grande jogador. Ainda não é. Está aprendendo e o Atlético tem que
usufruir muito dele antes de trocá-lo por pote de ouro. O exemplo de Rhodolfo é
lapidar. Quando aprendeu a jogar, depois de anos de chutões e cabeçadas
incertas, foi entregue ao São Paulo. Resultado, um tal Rafael na defesa e nós
na segunda divisão.
Estamos em outras mãos,
Petraglia não é tolo. Manoel deve estar focado no Atlético, toda vez que ouve
o canto das sereias se complica. Como Sicupira tem que fazer sua história no
Furacão que lhe deu a luz, depois a vida dirá, e nós, torceremos por ele.
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