O comentarista elogia, fala da melhor
marca do ano, lembra resultados, encaminha o telespectador a torcer pelo
guerreiro tupi, e quando o arremessador gira e lança o disco trepidando mais
que calota de “chevelho”, ali a irrisórios metros de distância, não se aguenta,
cai do salto e classifica: “lançamento horroroso”. Foi assim que eu me senti ao
fim do primeiro tempo.
Ganhar em Paranaguá passou a ser o
desafio do século. O adversário encolhe, dificulta tudo que pode e tem o
contra-ataque para causar aquelas fibrilações estranhas no meu pobre coração.
Só para lembrar, aos seis minutos o glorioso Asa de Arapiraca já tinha chegado
três vezes com perigo.
E o meu Furacão fica ali como lutador
de tae kwon do da República do Mali.
Gira, gira, pula, pula, mas chutar que é bom nada, obrigar o goleiro a pegar
uma indefensável, nem pensar. O cruzamento sai, só Marcão na área. Elias, uma
força na partida anterior, erra passes, pouco ajuda. Felipe e Henrique nada
criam. No que esse Henrique é melhor que o Edigar Junio? O Atlético vive de
Maranhão, correndo mais que jamaicano em final de cem metros.
O segundo tempo começa com a entrada
de Ricardinho no lugar de Felipe. Opa! Vamos jogar um pouquinho pela esquerda.
Que nada! O rapaz resolve entrar pelo meio e facilita ainda mais para o Asa
desafiador. Então, o disjuntor cai, o refletor apaga, tempo para Nhô Drub
pensar. A luz volta com Paulo Baier no lugar de Elias.
Rola a bola e já vejo um cabeça chata
agarrado no velhinho. Pouco mais e um choque de cabeças faz seu Paulo sair de
campo pingando sangue. Alguém aí, por favor, apague a luz de novo. Volta o “veio”
com aquela bandagem de apache em filme de John Wayne.
O jogo ganha movimentação, Baier está
objetivo, rápido, a sangria fez bem, mas continuamos sem dar trabalho ao
goleiro. Finalmente, Nhô Drub coloca Ligüera, volta Cleberson para a zaga, sai
Luiz Alberto. No futebol tem que jogar quem sabe. O cara foi da seleção
uruguaia. Já me basta o Mano entrar com três volantes contra o México, as
camisas do Gerson e do Rivelino nos corpos de Rômulo e Alexsandro. E quer
ganhar ouro.
Um nordestino arretado foge pela
esquerda livre e fuzila na rede, pelo lado de fora. Ai! Ai! Ai! Olha a síndrome
dos 35 minutos. Começo a gostar do empate devastador. Baier chuta de fora, o
goleiro faz bela defesa. Chuta de novo, a bola desvia no zagueiro, explode no
peito de Ligüera e sobra no pé do “veio” que desloca o goleiro com sutileza.
Gol!
Baier sai com aquele sorriso de quem
não acredita em tanta iluminação. Na entrevista de fim de jogo, os três pontos
somados, um fio de sangue escorre pelo rosto do artilheiro. Só faltam a bandeira,
a medalha e o hino.
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