segunda-feira, 30 de junho de 2014

A INSUBSTITUÍVEL LIBERDADE

O brasileiro otimista já esqueceu o sofrimento chileno e olha para a Colômbia como o atleticano olha o São Paulo em casa, três pontos na carteira, salto certo para a semifinal. Espia a continuidade e encara França e Alemanha, que jogam hoje, como prováveis adversários. Dá de ombros e repete “quem quer ser campeão não escolhe adversários”.

Eu gostaria de saber o que pensa o treinador colombiano do encontro de sexta com o Brasil, o que pensam alemães e franceses da possibilidade de enfrentar a Canarinho na semifinal. Certo é que as últimas exibições brasileiras lhes colocou na ponta da língua o “sim, é possível”.

Nem a torcida imensa bota medo. Desarticulada, sofrendo com as más apresentações, vacila e fica no “eu sou brasileiro...”. O torcedor chorando ao lado do campo parece ter virado um peso psicológico a mais para o grupo, uma ajuda inesperada para colombianos, gregos e troianos.

Felipão vai ter que mudar. Os craques da mesa tática criaram duas soluções. A primeira utilizando três zagueiros, David Luiz poderia sair para o apoio, a segunda com três volantes. Não gosto de ambas, cheiram a medo.

Três zagueiros sem longo treinamento é um perigo, três volantes na seleção é um tiro na cultura nacional. As duas opções levam ao fortalecimento defensivo em matar ou morrer, prefiro tentar matar que espernear para não morrer, a bolada chilena na trave ainda me incomoda.

No meu pobre juízo, Felipão tem que manter seus dois volantes e liberar meias e atacantes para girar no ataque. A fixação de Hulk e Oscar como ponteiros bloqueia a subida dos nossos laterais, dificulta a saída de bola, facilita a marcação adversária. A movimentação obriga à falta, contra o Chile não tivemos uma boa para bater, possibilita o acúmulo de jogadores em setor do campo, facilita a transição, cria situações, agita a torcida.

Aí, se quiser dar vida ao time, troca Oscar por Willian, Daniel Alves por Maicon, mantém Fred por substituto de mesmo nível, dá a ele a liberdade para cair pelos lados.  É... escrevendo, escrevendo, acho que encontrei a palavra para resolver o problema.  A insubstituível liberdade.

domingo, 29 de junho de 2014

ABRAÇADO AOS MORTOS

Após o jogo contra o México, disse que ficaríamos nas oitavas. O amigo sabe, só não ficamos por milagre. Fomos salvos por duas bolas na trave, uma durante o jogo, Julio Cesar ficou esperando ouvir o som da rede balançar e ouviu o “catlim” da bola chocando-se contra o travessão santo, outra na última cobrança de penalidade.

Desligado o facho de Neymar, o Brasil é um time sem iniciativa, dependente da individualidade de Hulk no ataque. È muito pouco, embora o super-herói tenha se esforçado um bocado após o erro defensivo que deu origem ao gol chileno.

Este é um dos piores Brasis que vi jogar em Copa do Mundo. Há três jogos se arrasta, ontem tomou um baile.  Após o gol de Alexis Sánchez estacionou, os poucos momentos em que teve algum domínio aconteceram por iniciativas defensivas do Chile, primeiro para levar o jogo para a prorrogação, segundo para chegar às penalidades.

Foi um Brasil deprimente, jogado na defesa, bloqueados os laterais sem solução para conduzir a bola ao ataque. Jamais questionei a convocação de Felipão, por isso não vou lamentar a entrada do fraco Jô no lugar de Fred. Mas posso lamentar o imobilismo de treinador.

Copa do Mundo é competição para os vivos, os meio-vivos tem que ficar no banco. Há três jogos Oscar não pega na bola, há quatro Fred é um espectador privilegiado. Ontem Neymar sentiu um desconforto e desapareceu. Daniel Alves é de uma autossuficiência absurda, geradora de erros constantes, mãe de contra-ataques assustadores.

Com esses fantasmas vagando pelo gramado, Felipão troca volante por volante, como se Fernandinho, Ramires ou Luiz Gustavo fossem as estrelas da companhia, responsáveis pelo sucesso da trama. Todo mundo sabe que zagueiro zagueira, volante volanta. O problema do Brasil é que do meio para frente o time se esconde. Seis não carregam quatro.

Felipão tem que parar de brigar com a arbitragem e mudar tudo. O time da Copa das Confederações infelizmente não pegou, o Hino perdeu o mágico efeito, tem filho fugindo à luta, escondido na trincheira.

O gaúcho velho sentiu de perto o cheiro do vexame, se tem alguma inteligência percebeu que a tropa amarelou, o esquema não funciona. O jeito é ir ao banco de reservas, identificar os vivos e colocar em campo. Se assim não for, fica pelo caminho abraçado aos mortos.

sábado, 28 de junho de 2014

HOJE PRECISAMOS

Estou voltando da Ouvidor Pardinho, onde fui dar minha caminhada matinal, as pernas mais baleadas que “talba de tiro ao álvaro”, quando dois jovens castelhanos me perguntam onde fica a Arena da Baixada. Minha primeira reação é colocar a mão sobre o ombro e perguntar assustado: “Uruguaios?”

Os mochileiros riem e se identificam. Um paraguaio, outro chileno. Estanho os olhos para o chileno e digo: “Que mala suerte hermano”. O rapaz dá uma gargalha e ataca: “No! No! Onze contra onze!” Tenho que concordar, no esporte da Brazuca não tem jogo ganho.

Vamos tagarelando na direção da Arena, informo que eles estão se aproximando do Atlético Paranaense, o melhor clube do Brasil, o paraguaio lembra Julio dos Santos do seu Cerro Porteño, faço uma média, classifico de craque, elogio sua curta passagem pelo Furacão.

Despeço-me dos hermanos na esquina da Brigadeiro, indico o contorno da praça para que eles possam apreciar melhor a frente do colosso. Desejo boa sorte no jogo e sigo para casa. Passo em frente ao restaurante e lá está a placa: “Sábado deliciosa feijoada”.

Decididamente, hoje não é dia de feijoada. Um almocinho leve, recomendo um escondidinho de bacalhau, um bom vinho chileno, estou pensando num Coseja Tarapaca, a uva pode ser a Carmenère, bonzinho e baratinho, de sobremesa um pudim de leite.  Depois é se jogar na poltrona e esperar para ver o Fernandinho jogar.

Jogo para duas aspirinas grandes, um onze contra onze cheio de castelhanos do outro lado. Um perigo. Lembro da guia turística que me levou a conhecer Santiago e em papo sobre futebol disse desconsolada: “Mesmo quando não precisam vocês ganham da gente”. Torço para que ela esteja certa. Hoje precisamos.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

MEU NOVO AMIGO COXA

Último jogo da Copa em Curitiba, sentei ao lado de um coxa e família, esposa e dois pequerruchos. Todos com camisas da seleção, só o maridão com um provocante cachecol alviverde. Com a minha linda vintage fiquei com vontade de dizer seja bem-vindo, a casa é sua, esteja à vontade. Quis posar de dono e fiquei pelo caminho.

Velho que dói, entrei no túnel do tempo e fui conduzido à velha Baixada das arquibancadas de tijolos à vista cuidados pelo Caju, dos sombrosos pinheiros, do placar ao lado do pão com bife, das camisas estendidas no varal aos fundos, amarelecidas pelos tantos jogos jogados.

Os times entraram para o aquecimento e eu estava segurando as lágrimas, mais uma vez encantado com todo aquele prodígio, aquela festa inimaginável acontecendo ali na Buenos Aires. Fui salvo do vexame por um argelino contaminado de sangue brasileiro a gritar “Passat!”, “Voyage!”, toda vez que a torcida russa ensaiava um “Brasília! Brasília!”, saí do túnel e embarquei feliz na modernidade.

No intervalo, fugindo de um picolé a dez reais, ensaiei um solitário “Furacãoooo, eôôôô, Atléticôôôô” e o coxa puxou papo. Falou da pena exagerada recebida pelo Atlético, disse ser a esposa atleticana de nascimento, apontou o local da sua cadeira na Getúlio Vargas inferior. Logo estávamos trocando impressões sobre a Arena magnífica.

O amigo coxa me levou de novo ao passado, quando atleticanos e coxas dividiam igualmente o Couto Pereira, terminado o jogo saíamos lado a lado, pegávamos os carros no mesmo estacionamento, sem qualquer problema. Quando foi que viramos inimigos?

A Copa trouxe a mensagem do torcer pela festa, sem ódios, nem rancores, uma volta ao futebol pelo prazer de assistir o drible enganador, o passe sedutor, a possibilidade de gritar gol para os dois lados. Foram quatro viagens ao primeiro mundo, especiais encontros com babel de línguas, oportunidade única de mostrar a cidade dos nossos corações, dar às visitas o que de melhor temos, o nosso mais especial abraço.

Com toda aquela festa de final de jogo, quando olhei para o lado a família Atletiba já se fora. Foi uma pena, perdi a chance de dar meu atleticano abraço no meu novo amigo coxa.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

VELA DE SETE MESES

A Espanha voltou para casa, o Furacão voltou ao cajueiro. Pena por “la roja”, poderia ter feito muito mais, ótimo que poderemos voltar a usar toda a soberba infraestrutura do melhor CT do Brasil. Vida que segue.

Vida que se configura periclitante. Com as contas da Arena para pagar, os dinheiros parcos, o Atlético vai vendendo as esperanças de um ano pouco mais tranquilo. Manoel já foi, Marcelo faz juras de amor à torcida corinthiana, Éderson pode ser negociado com o Al-Sadd do Qatar, vamos nos contentando com o retorno de Dellatorre.

Os zagueiros que implorei nem pensar. Alguém tem que dizer ao novo treinador que o risco é grande, vai ter que colocar os onze para marcar, aquela história de que a defesa começa no ataque nunca foi tão verdadeira, tão necessária.

O torcedor vai esperar até o Sete de Setembro para voltar a ver o Furacão na Arena, o dia da liberdade ainda tarda, impossível ajudar com seu indispensável grito. Vamos dar mais um hip-hurra ao nosso quinhão de idiotas. Lembrai-vos dos idiotas de Joinville.

Empurrado pelo ônus da obra, o Atlético encara o ano mais uma vez com grandes ideias, a fabulosa infraestrutura, e arrisca sua sorte com os meninos. Melhor que o site oficial apresenta entrevistas onde os atletas acham que tudo corre maravilhosamente, os treinamentos redundarão em ótima campanha.

Ainda envolvido pela Copa espetacular, hoje tem Rússia e Argélia na Arena magnífica, fico com um olha cá outro lá, deliciado com os grandes jogos, preocupado com o Furacão. Para diminuir meu desassossego já me agarrei aos santos, acendi uma vela de sete meses.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

FORÇA TOTAL AO TREINADOR

O Atlético aproveitou a Copa para fazer uma faxina no departamento de futebol. Demitiu seu Delegado e seu Petkovic. Antônio Lopes prestou grandes serviços ao clube, imperioso reconhecer. O tempo passa para todos, acho que o treinador tantas vezes campeão vai encontrar o que fazer, tem muitas e importantes memórias a escrever, deixar no papel respeitáveis ensinamentos. Boa sorte.

Petkovic entra no meu fichário como aquele que não devia ter vindo, não reconheço em sua curta passagem pelo Furacão qualquer momento de alguma importância. Como treinador do sub-23 foi de um despreparo incomum, como gestor das categorias de base desconheço, seria injusto opinar.

Em momento em que o Atlético era atacado por todos os lados pela construção da Arena, Pet fez com Adriano uma dupla que desviou as atenções, mudou o foco, e foi só. Finda a obra, restou desnecessário. A conclusão é exclusivamente minha, devo estar redondamente enganado.

Notícia do site Paraná-online afirma que o vice-presidente Márcio Lara acumulará a função exercida por Antônio Lopes e o Departamento de Inteligência de Futebol (DIF) – que teria entrado em conflito com Lopes, Petkovic e Portugal –, é quem cuidará da parte esportiva.

Todo órgão de inteligência que conheço serve para produzir informação e torná-la disponível ao pessoal de operações. Só. Não é para entrar em conflito com ninguém, não é para cuidar de nada. Desconheço as funções do DIF atleticano, assim, posso estar incorrendo em outro erro tremendo conduzido pelo uso consagrado do termo inteligência.

Na verdade, ando assustado com o elevado número de caciques no cajueiro. Eu sei que em terra de Petraglia quem manda é o rei, o problema é o rei estar ocupado com outros mil afazeres. É bom o seu Márcio Lara segurar as rédeas com firmeza, definir limites, cortar cristas emergentes, dar força total ao treinador. 

terça-feira, 24 de junho de 2014

BRASIL RUBRO-NEGRO

Podem confiar, quando eu digo é para cumprir. Aconselhei Felipão a botar o Fernandinho, o gaúcho velho com a partida em risco coçou o bigodão e resolveu me atender. Resultado, quatro a um, Camarões foi para o braseiro e olha eu aqui comendo uns abraçadinhos só para comemorar, acompanhado de um bom vinho “de mesa” que o amigo velho do Itamaraty me aconselhou.

Convenhamos irmãos, o Brasil terminou o primeiro tempo ganhando graças ao Neymar Jr, o futebol apresentado foi primitivo, um quatro atrás o resto na frente, saída de bola com alguma decência nem pensar, dá-lhe bola longa para o menino resolver. É de tirar as calças pela cabeça, pouquíssimo para o futebol brasileiro.

Eu entendo que Felipão tem que preservar a família. Manter a confiança da filharada é fundamental. Infelizmente, isso implica em riscos absurdos. Seu bigode insiste com seus titulares até o limite máximo, permite até o suicídio em jogo para só então realizar pesarosamente a substituição imprescindível.

Assim foi com o fuzilado Paulinho. Tendo que fazer sozinho a transição, era o único a se apresentar para receber a bola, com o pescoço dolorido de ver a redondoca ir e vir sobre sua cabeça, o corinthiano sucumbiu, deu lugar ao atleticano. Então funcionou, porque Fernandinho é além de bom marcador, bom condutor da bola, passador e finalizador.

Paulinho é ótimo, Fernandinho é apenas mais completo, está mais jogado e tem milhagem superior no futebol internacional. Com a entrada do rubro-negro, Felipão acertou o time, a saída de bola passou a acontecer, o ataque oxigenado engrenou, até o Fred fez gol. De um futebol primitivo passamos a alguma coisa que nos dá esperanças. Saí do jogo com um sentimento positivo, comecei a gostar deste Brasil rubro-negro.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

BOTA O FERNANDINHO FELIPÃO

Portugal caindo aos pedaços se arrasta em campo, penso que Cristiano Ronaldo deveria ter deixado a partida no intervalo, definitivamente está um bagaço, fico penalizado com o triste fim do time da terrinha quando o gajo tira o olho do telão, cai pela direita e faz um cruzamento perfeito na cabeça de Varela. Gol. No último segundo Portugal 2, EUA 2.

Cristiano é um sabiá de asa quebrada no meio de um bando de tico-ticos atacado pela gripe aviária. Só um milagre salva o time português.

As vitórias de Bélgica e Argélia tornaram de vida ou morte o último jogo na Arena da Baixada, um fervente Rússia e Argélia. Dizem que até o Putin vem. Melhor assim, Espanha e Austrália se transformou em casados e solteiros, a coisa está tão mal para “la roja” que a imprensa espanhola resolveu criticar a Arena magnífica. Acho que a Baixada está boa demais para o que eles mesmos chamaram de cemitério de reis.

Hoje, simultâneos Holanda x Chile e Espanha x Austrália dividem as atenções dos brasileiros em aquecimento para o confronto com Camarões, uma escolha dificílima para minha neta de 2 anos, uma adoradora do delicado fruto do mar. Quem com o coração em pandarecos preferir  se deleitar com o sofrimento alheio pode esticar o olho em Croácia e México, um jogo trágico, times lutando à beira do abismo.

Seu Felipão vai com o mesmo time da final da Copa das Confederações. O gaúcho velho tem que olhar para o passado. Foi campeão do mundo em 2002 com um atleticano em campo, o nosso Kleberson, dando passe para gol de Ronaldo. É só olhar para o banco e ver Fernandinho pronto para dar título ao Brasil. Para quem gosta de repetir o time, será fácil repetir a história, bota o Fernandinho Felipão.

domingo, 22 de junho de 2014

OBRIGADO CLUBE ATLÉTICO PARANAENSE

Copaça. Jogos inesquecíveis, a impressionante Costa Rica derrubando gigantes, Messi carregando a Argentina, Klose igualando Ronaldo, ninguém respeitando ninguém, bobeou é bola na rede, é gol para todos os gostos, até a Alemanha e seus quatro zagueiros tomou dois e viu estremecer o portão de Brandemburgo.

Jogadores dos melhores times do mundo compõem equipes de diferentes níveis, com bom entrosamento transformam Nigéria e Bósnia em jogo interessante até o último minuto. Finalizações em pencas, grandes defesas de ambos os lados mantêm o técnico alemão tirando “catota” o tempo todo, os nervos à flor da pele contra a ousadíssima Gana.

O Irã colocou os hermanos em pânico, novamente salvos pelo baixinho Messi. A manchete da despedida da Argentina da Copa já está pronta. “Hoje não deu!” sublinhará a foto desanimada do supercraque argentino. Enquanto ele puder vai carregar o time nas costas, sempre que tiver meio metro de espaço vai transformar chute de fora em penalidade máxima.

As arenas belíssimas assistem a tudo generosas. Deslumbrantes, abrigam torcidas apaixonadas, espetaculares participantes de enredos heroicos definidos somente no apito final de sua senhoria, um deus falível, um pouco menos graças ao uso da tecnologia.

A Arena da Baixada, a de melhor operacionalidade na primeira rodada, está sem dormir desde o início da Copa, acesa para auxiliar a natureza a gerar o campo perfeito ao exercício da arte explodindo em excelências.  

Estrangeiros, atleticanos, coxas e paranistas usufruem da Arena magnífica na maior das alegrias. Bares, botecos, hotéis, restaurantes, pousadas, taxistas, todos os serviços da cidade arrecadam mundos e fundos com o maior evento do mundo.

Está na hora de todo esse povo ter um pouco de reconhecimento com a instituição que lhes proporcionou a participação no maior espetáculo da Terra. Simplesmente dizer: “Obrigado Clube Atlético Paranaense”.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

FICAMOS NAS OITAVAS

O estrangeiro que assistiu Brasil e México ficou decepcionado com a falta de gols, mas achou bom jogo, cheio de alternativas, o goleiro mexicano fazendo grandes defesas, o ataque de sombrero errando uma dezena de chutes de fora, em determinado momento viu merecimento superior do time asteca, concluiu que o Brasil não é o bicho.

O brasileiro perdeu muito do seu entusiasmo com o hexa. A Canarinho, que já fora problemática contra a Croácia, piorou. Foi um time estático, jogadores limitados a posicionamentos preestabelecidos, sem a movimentação imprescindível para iludir a defesa mexicana.

A dependência de Neymar ficou escancarada, se o supercraque continuar sendo a única andorinha por certo não faremos verão. Oscar limitadíssimo foi menos um o tempo todo, só o Felipão não viu, ou demorou a ver, ou não quis ver.

O ataque não atacou e pouco cooperou na marcação, o que deixou os volantes às voltas com todo o ataque mexicano. O amigo sabe que não morro de amores por volantes, mas culpar Paulinho e Luiz Gustavo é o cúmulo. Paulinho pode não ser o jogador da Copa das Confederações, achar que seu menor rendimento é causa do resultado é erro grave.
Fred apagou. No lance em que Paulinho finaliza o passe de peito de Tiago Silva, o atacante assiste a bola passar sobre ele e demora uma vida para ficar de frente para o gol. Em jogo de Copa, jogar com menos dois, menos três, é pedir para morrer.

Felipão deve se conscientizar de que a família está em dificuldades, o esquema está submetido à marcação, o time dependente demais de Neymar, da iniciativa de alguns, não mete medo em ninguém. É hora de mudar. Tivemos sorte imensa de cair neste grupo frágil. Temos tempo de alfinetar dorminhocos, dar fim a titularidades absolutas, criar uma nova fórmula. Se assim não for, ficamos nas oitavas.

 

terça-feira, 17 de junho de 2014

IGUAL À GUERRA

Habemus técnico. É o seu Noriva, o comandante do Ituano campeão paulista de 2014, eliminando São Paulo, Corinthians, Palmeiras e Santos na reta de chegada. Se eu gostei? Dentro daquela ideia do “ganhou o quê” nada a reclamar, à frente de um pequeno levou o caneco paulista.

Penso que a contratação de Noriva atinge uma premissa básica, trazer para o Cajueiro alguém que saiba organizar uma defesa. Ninguém sai atropelando os gigantes paulistas, levando algumas decisões para as penalidades, sem entender da montagem de um bom sistema defensivo.

Segundo o site oficial, Noriva atuou pelo “São Paulo, Atlético Mineiro, Porto, Sampdoria, Celta de Vigo, Middlesbrough e Blackpool... Defendeu também a Seleção Brasileira entre 1995 e 1998”. É bom currículo, deve impressionar bem os atletas. Que comece a trabalhar logo. Boa sorte.
Importante a permanência de Leandro Ávila. Conhece bem os jogadores, tem boa ligação com eles, vai ajudar muito. Já ajudou.

Dias atrás, o Atlético apresentou um cientista de longo percurso para compor o quadro do nosso departamento de futebol. Acho que se futebol fosse ciência, os EUA, que ganharam com as calças na mão de Gana, hoje seriam o grande favorito para a levantar o troféu desta Copa. Não são. É outro que ajuda, o projeto é muito interessante, bem acolhido por todos trará bons frutos.
O amigo pode achar que o futebol é uma ciência e eu não teria motivos para discordar, ficaria no eu acho, fraco de argumentos. Tenho certeza sim de que o futebol tem princípios e um deles é a unidade de comando.

Quando você começa a juntar muitos caciques corre o risco de perder o controle. Então é bom saber quem é o comandante, quem são os subordinados, quem decide, quem obedece, quem ao final das contas perde o emprego. Isso tem que ficar bem claro.  Em muitos aspectos, o futebol é igual à guerra.
PS: O Brasil enfrenta o México hoje de olho nos exemplos dos últimos jogos. Encostou é pênalti, passou do ponto é expulso, dormiu no ponto leva gol logo de início, tem que correr atrás para virar. Deve cuidar dos seus laterais, o cruzamento longo atravessando toda a área é maná para os atacantes adversários. É só para botar um medo, criar um estresse, não se preocupe, vamos ganhar.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

O MARACA SABE

O Maracanã ouve a argentina de olho azul turquesa delirar com a entrada de Messi e se pergunta, “quem é esse moleque, onde joga, nunca vi, é melhor que Zico, que Romário, que Ronaldo, quantas copas ganhou?”

Foi aos seus arquivos e não encontrou resposta, tentou escutar o torcedor portenho, descobriu que esta é sua terceira Copa, até agora ficou pelo caminho em todas, só fez um gol, surpreende-se quando alguém diz que já foi por quatro vezes considerado o melhor do mundo.

Resolve ficar de olho no argentino, um baixinho de 1,69 m, canhoto, quieto no aquecimento em campo, poucos sorrisos, cara de barbeiro da calle Florida. O jogo começa, bola cruzada na área da Bósnia e surge um gol contra para acalmar o time do supercraque em observação.

O Maraca vê o melhor dos mundos para o canhoto, “vai deitar e rolar”, imagina, quer ver, os craques sempre o encantaram. Prega o olho no jogador e enxerga a defesa prevalecer sobre suas tentativas de partir para o ataque, muito estranho, os bósnios nem exageram nas faltas, o futebol do fenômeno está no acostamento.

Jogo que segue, a Bósnia pressiona, o Maraca vai se encantando com o número oito bósnio, Pjanic, uma tranquilidade absurda para jogar. Vem o segundo tempo e o tal Messi ameaça uns arranques, vai na vertical, é barrado pela marcação, decepcionante. Bate uma falta, daquelas boas de bater, longe do gol.

Aos vinte, o velho Maraca já perdeu as esperanças, está torcendo pelo gol bósnio, quando Messi arranca novamente, toca o pivô, recebe de volta, avança na diagonal, sai de um zagueiro e bate rasteiro, na trave, gol da Argentina.  O torcedor bósnio reclama “é sempre a mesma coisa, como é que não conseguem marcar?”

O Maraca abre a ficha e escreve em vermelho: Lionel Messi – craque. Cola a foto. Ficou 65 minutos sem jogar e em dois segundos ganhou o jogo, fazendo o que faz repetidamente. Ele sabe que esta é uma característica dos craques, fazer sempre o mesmo com sucesso.

Não é nenhum Pelé, nenhum Garrincha, mas é craque. No Brasil entraria numa lista dos dez melhores, seria o nono, ou o décimo. O Maraca já viu tudo, as botas de todos os deuses beijaram seu gramado. O Maraca sabe.

domingo, 15 de junho de 2014

O ESPETÁCULO É IMPERDÍVEL

A Copa coloca para o mundo o que é o Brasil. Quem já morou em Manaus sabe que este passinho rápido de curitibano só dura trinta minutos, depois você entra no ritmo, vai devagar, acompanha a vagareza dos maninhos, é caso simples de pura sobrevivência.

O jogo Inglaterra e Itália deixou isso bem claro. Os times começaram andando e só foram engrenar uma segunda no final do primeiro tempo. Um clássico mundial a passo de cágado, com Pirlo e Gerrard comandando a caminhada na selva.

Interessante pelas longas e precisas viradas de jogo, pelo oportunismo de Balotelli, um dos raros negros que vi jogar no time da bota. Hilário pela cara assustada do fisioterapeuta inglês contundido durante a comemoração do gol saindo na maca rumo ao médico cubano.

Para quem sempre torce pelo mais fraco, Uruguai e Costa Rica foi o jogo, um verdadeiro “castelanaço” para o time do seu Lugano, o carinhoso. A Costa Rica apresentou um craque de 21 anos, Campbell, o guri deu uma canseira na defesa uruguaia e provou que idade diz muito pouco, quem sabe mesmo joga com os grandes desde cedo.

Mostrou também uma eficiente primeira linha de defesa com cinco jogadores, para mim nunca tão claramente definida, pronta a ser copiada pelos em dificuldades.

A Grécia nem com Zeus no comando do ataque teria alguma chance contra a Colômbia, mostrou vontade e foi só. A avaliação da Colômbia fica para depois.

O Japão sustentava o um a zero com tranquilidade quando Drogba entrou em campo no meio do segundo tempo. Bastaram dois minutos, um lateral livre para fazer dois ótimos cruzamentos, dois bons cabeceios e Costa do Marfim fez o torcedor japonês borrar a maquiagem. Drogba só trouxe luz ao jogo, não precisou nem marcar.

Outro dia de jogos magníficos, muitos gols, técnica apurada, hinos cantados ao jorrar das lágrimas. Quem disse que não ia ver, estava de burro no canto da sala, indignado com a incomPTência, é melhor sair do burro e ligar a TV. O espetáculo é imperdível.

sábado, 14 de junho de 2014

O FUTEBOL AGRADECE

Os quatro jogos iniciais da Copa produziram 15 gols, média espetacular de 3,75 por partida. No único jogo vencido pelo placar mínimo, México e Camarões, a arbitragem anulou dois gols legítimos dos mexicanos, o que elevaria ainda mais a média. Os ataques estão dando um baile nas defesas.

Nem o calor, nem a chuva, nem a prioridade de não levar gol impediram os ataques de balançar as redes. A Holanda exagerou, deu um baile na Espanha, fez cinco, com direito a golaços, lançamentos preciosos, Casilla rastejando atrás de Robben, um show de velocidade e técnica.

Os juízes parecem aconselhados a marcar pênalti, o único gol da Espanha surgiu de falta duvidosa sobre Diego Costa. A FIFA defendeu seu Nishimura que premiou Fred. Fred disse que sofreu carga. Por incrível que pareça a mídia nacional foi unânime em afirmar o erro do árbitro, ninguém para ver um puxão criminoso.

Isso prova que nossa imprensa é mais clubista que nacionalista. Quando o pênalti é a favor do clube, sempre tem alguém para interpretar um roçar de braço como definitivo e afirmar categórico: “Para mim pênalti claro”. Resta a Pátria indefesa.

Os gols em excesso minimizam as falhas da arbitragem. Ficam esquecidos os gols anulados, os impedimentos mal assinalados, os pênaltis marcados, os encontrões nos goleiros, agora postos em dúvida. Pelo jeito a panaceia contra arbitragens perniciosas são ataques em ponto de bala. Já que juiz é bicho sem conserto que continue assim. O futebol agradece.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

VAMOS PRECISAR

Pensei que fosse me emocionar na cerimônia de abertura e passei longe disso, mesmo tendo gostado. Foi simples, meio caminho andado para a nota sete, colorida, sem erros grosseiros, coroada pela Claudia Leite de galinha pintadinha, a JeLo hollywoodiana demais, desnecessária, e um rapper careca que desconheço, culpa minha, parei nos Beatles.

Como disse gostei, mas não me emocionei, quando não me emociono fico com a sensação de que não valeu a pena. Puro engano, valeu. Valeu pelos dois segundos que durou o chute inicial do paraplégico trajando exoesqueleto robótico criado pelo palmeirense Miguel Nicolelis, quase um milagre. Pena que o diretor de TV dormiu no ponto.

O Hino desta vez não botou fogo na Canarinho, começou titubeante, deu sopa para o azar, Marcelo fez contra. O Brasil começou a ganhar a Copa com o autogol de Marcelo. O lateral é craque que às vezes passa da bola e cai das traves, um perigo. O susto lhe fará bem.

Mal no início, perdido em campo, Oscar foi acordando aos poucos e se transformou no sustentáculo da vitória. Do seu empenhado futebol surgiram as oportunidades para Neymar empatar e virar o jogo. No primeiro gol um passe após dura luta pela bola, no segundo o cruzamento para Fred simular a falta dentro da área.

O pênalti que o japonês viu, os árbitros nacionais enxergam todo dia em Corinthians e Chapecoense, Flamengo e Sport, São Paulo e Coritiba, sempre que o chamado grande está necessitado. Infelizmente para a Croácia em Copa do Mundo ela é o pequeno. Sorte nossa.

Não satisfeito apenas em criar, Oscar fez o terceiro, de bico, a bola colocada no canto do goleiro, aliás, um gigante com providencial retardo no salto defensivo. Deu uma mão danada.

O jogo coletivo do Brasil não funcionou, tivemos problemas nas laterais, quando ainda um a um a Croácia chegou a controlar a partida, as individualidades e o japa de preto nos deram a vitória.  Vencemos jogo dificílimo, é o que interessa. A grande partida de Oscar dá ao Brasil um novo protagonista, outros têm que aparecer. Vamos precisar.

 

quinta-feira, 12 de junho de 2014

VIRAR O JOGO

A Copa começa daqui a pouco. O amigo pegue dona Dilma e suas “verdades” ditas em rede de televisão, o temor da vaia medonha obrigou, e coloque dentro de uma caixa hermeticamente fechada. Só depois de entregue o troféu volte a abrir, retorne ao jogo de escolher presidente.

Para as novas gerações que não conheceram a “ditabranda” – o termo é do Estadão – é interessante comparar o Presidente Garrastazu Médici aplaudido de pé no Maracanã e a “presidenta” escondida do povo, refém dos salões do palácio. Porque será?

O brasileiro aos poucos foi se entregando ao sonho repetido de quatro em quatro anos. Começou com uma bandeirinha no carro, a Bandeira na janela, as camisas para os filhos, a televisão imensa, a reunião da família, o convite aos amigos e catapum, está ligado no 220. Hoje vai marejar os olhos na abertura, cantar o Hino inigualável, torcer como louco quando a bola rolar.

É meus irmãos, nós somos assim. Fomos enganados, mudamos, estamos mais preocupados com o futuro do país, dos nossos filhos, nossos netos, mas continuamos brasileiros, agarrados à única real possibilidade de mostrarmos nossa força. É bom que assim seja, seria muito triste dar as costas a tantos anos de glória, abdicarmos da alegria dentro de nossa própria casa.

O Brasil está preparado, tem um time forte, em condições de vencer, deve vencer. Alguns jogos serão dificílimos. A dura caminhada engrandece o caminhante. Outros fáceis, a final angustiante terminará com Tiago Silva levantando o troféu.

No fim tudo parecerá ter sido muito fácil, mudar a história um simples ato de vontade. Será o futebol nos ensinando o caminho para o resto do ano, o caminho de virar o jogo.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

ALGUÉM PARA ENSINAR

Se cara de felicidade em fotografia é sinal de boa acolhida, as imagens do Sergio Ramos só sorrisos colocam o CT do Caju como o paraíso dos espanhóis. Vicente Del Bosque confirma o presumido pela alegria do craque do Real, diz o treinador, “a Espanha acertou ao escolher Curitiba”. Don Vicente es un placer tenerlos aquí.

Ter craques do nível de Sergio Ramos no cajueiro é ter aula particular a domicílio. Fosse eu alguém no Furacão, todo mês teríamos um mito passando conhecimentos aos nossos profissionais. Começaria com São Marcos ensinando milagres aos nossos goleiros, a arte de servir a um clube com amor.

Depois viriam outros. Edinho, a colocação perfeita, Falcão, o desarme elegante, a chegada ao ataque, Gerson, o lançamento milimétrico, Zico, a falta indefensável, Romário, o cabeceio entre gigantes. Poucos dias conversando, exercitando, trocando ideias, ensinando atalhos.

Falei que São Marcos seria o primeiro a aportar no Caju, mas a necessidade me obrigaria a mudar. Roque Júnior estaria no portão do CT Barcelos já na reapresentação dos rubro-negros. Assisti a entrevistas do zagueiro, sempre insistente na profunda modificação verificada em sua forma de jogar a partir do momento em que se transferiu para o futebol europeu, a transformação do zagueiro instintivo em tático.

O Atlético tem uma defesa inexperiente, instintiva, bons jogadores lançados aos leões, necessitando urgente alguém que lhes coordene movimentos, coberturas, avanços e recuos. O Departamento de Futebol atleticano é um mistério, pelo jeito vamos correr riscos, se assim for, se não vamos contratar, pelo menos devemos chamar alguém para ensinar.

terça-feira, 10 de junho de 2014

ESTAGIAR NO CORINTHIANS

O noticiário sobre os clubes está imerso em mar de Copa do Mundo, sobrevivendo de especulações que mal conseguem colocar o nariz fora d’água. Uma das que ganharam algum corpo foi o possível interesse do Corinthians pelo nosso papa-léguas Marcelo.

O Atlético teria colocado preço, 10 milhões de euros, cerca de 30 milhões de reais. Maior revelação do Brasileiro 2013, Marcelo é uma certeza que se aprimora dia a dia, vai aliando à velocidade absurda a capacidade de assistir companheiros, finalizar com precisão e força.

Principalmente é sério, é profissional, algo a entrar na contabilidade no momento de se negociar atleta da sua qualidade. Se verdadeiro, acho pouco os 10 milhões de euros pedidos.

Na verdade, não vejo Marcelo sendo negociado com clube brasileiro, seu mercado é internacional, e fora do Brasil jogador com seu nível de profissionalismo vale ouro, muito mais que as cifras especuladas.

A Holanda trouxe para a Copa do Mundo o atacante Robben, que joga ali pela direita, caindo pelo meio e batendo de perna esquerda. È um oportunista de jogada única. Marcelo tem variedade de jogadas superior à do holandês, que vale um monte de milhões. Óbvio não é Robben, não tem a sua maturidade, não tem o Bayern de Munique para ajudá-lo.

Quem observa Marcelo para compra enxerga o seu futuro como jogador, avalia até onde pode chegar com tempo e bom treinamento. Esse Marcelo do futuro, sem sombra de dúvida, não precisa estagiar no Corinthians.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

ATÉ AS PEDRAS SABEM

A semana da Copa se inicia hoje, os povos se movimentam em direção ao Brasil, chegam, se acomodam, passam a viver a pátria do futebol, querem que o tempo passe rápido, que os jogos tenham início, querem a festa prometida. Curitiba faz parte da festa graças a esforços soberbos da gente atleticana e do seu presidente.

Parei frente à Arena magnífica, quieto, intrometido entre grupos de orgulhosos rubro-negros, buscando motivar a escrita, quando algo puxou a barra da minha calça. Olhei para baixo, nada vi, voltei minha atenção para os delirantes atleticanos e de novo senti o puxão. Voltei-me rápido e dei de cara com pedra portuguesa solta, risonha, com olhar de pétrea e insolente sabedoria.

Para não parecer maluco, me abaixei fingindo amarrar o cordão do sapato e perguntei à inoportuna: “Você, sábia descendente dos calhaus do Egito, acha que se a construção da Arena estivesse em outras mãos que não as do Petraglia, hoje estaríamos aqui comemorando a conclusão da obra?”

Ela saltou para lá, para cá, rolando de tanto rir, zombando da minha ingenuidade, parou quando alguns já começavam a procurar a origem daquele som peculiar e respondeu piscando um olho: “Prezado, até as pedras sabem que não”. Piscou de novo, escorregou ligeira e se acomodou no nicho a que tinha direito na calçada nova.

Levantei e enfrentei o perfil idoso de atleticano sênior, os olhos rútilos pousados na caixa resplandecente. A boca aberta admirada emitiu um suspiro de felicidade e fraseou convicta: “Sem Petraglia teríamos ficado no sonho”. Concordei com o desconhecido em êxtase, amistoso toquei-lhe o ombro e completei: “Meu amigo, isso até as pedras sabem”.

PS: Retorno do especial afeto dos amigos em Santa Catarina e na chegada a Curitiba vou me deliciando com as placas indicando a localização da Arena Stadium, quando, de repente, vejo as viaturas da Cavalaria postadas na entrada da cidade, certeza de segurança, certeza de valor, certeza de amor ao Brasil, “a nossa maior glória”. Minha continência à sentinela avançada. Orgulho imenso de ser soldado brasileiro.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

VÁ DESCANSAR NEYMAR

A manchete no site esportivo pergunta se a seleção é dependente de Neymar.
O amigo com data de nascimento avançada vai lembrar de programa do Silvio Santos em que o sorridente apresentador perguntava a participante confinado em cabine à prova do som exterior se desejava trocar um automóvel zero quilômetro por um abacaxi e o titubeante gritava SIIIIIMMMMM, sem saber o erro que estava cometendo.

Respondendo à pergunta do site nem titubeio e grito SIIIIIIIMMMMM no mesmo alto e bom do som da vítima do seu Sílvio. Neymar tem provado isso. Na Copa das Confederações fez gols importantes, no jogo contra o Panamá abriu o placar, fez assistência, foi protagonista.

O Brasil é dependente de Neymar, como Portugal de Cristiano, a Argentina de Messi, como dependeu de Pelé, de Garrincha, de Romário, de Ronaldo, uns mais outros menos, conforme a qualidade do grupo. Em 62, Garrincha tinha que levar o caneco para casa.

Quando a estrela jogou o esperado, o Brasil levou. Por isso se lamenta, Zico era um craque, mas não nos trouxe a Copa. O portenho desconfia de Messi pelo mesmo motivo. O repórter se preocupa com a caça a Neymar, com seu destempero com a arbitragem, com o temor de perdê-lo.

O Brasil é dependente de Neymar como é de sua torcida. Foi o Hino entoado com fervor de soldado novo pelas arquibancadas que deram o tom das aguerridas apresentações da Copa das Confederações. Agora, não será diferente.

A torcida estará lá, uns emburrados ficarão em casa, aos poucos serão contaminados pelos foguetes, pelos gritos e sairão às ruas. Neymar carregará o piano. Espero. Fico vendo o craque batendo faltas, guarda uma, guarda duas, e penso, agora chega, vá descansar Neymar.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

A MAIOR REVANCHE DE TODOS OS TEMPOS

O papo vai animado entre Bernardinho, o supercampeão do vôlei, e Parreira, o homem do tetra, conhecimento voando para todo lado, até que seu Bernardo chega ao chaveamento das competições, onde sempre surge o tal grupo da morte. Diz que esse grupo normalmente aponta os finalistas, a ideia é que tendo que passar por todas as dificuldades na fase inicial, a equipe sai robustecida para os jogos fatais.

A meu ver, os grupos B – Espanha, Holanda, Chile e Austrália – e D – Uruguai, Inglaterra, Itália e Costa Rica – são aqueles em que as durezas para passar de fase serão mais sentidas. Nos demais, se os principais países ficarem pelo caminho é zebra.

Quem pode então sair robustecido para as fases finais? Deduzo que Espanha e Holanda no grupo B, um deles vai pegar o Brasil já nas oitavas, Itália e Uruguai no D, se o Brasil passar para as quartas pegará um desses dois campeões mundiais para chegar à semifinal.

Resumo da história, se enfrentar dificuldades pode gerar um campeão, o Brasil que vai de taco a camarão de entrada, pega ossos duríssimos a seguir, passando, seguindo a teoria, vai para a os dois últimos jogos a ponto de bala. E aí, fico pensando, e se o Uruguai for o primeiro do grupo D na fase inicial?

Amigos, pode se repetir a final de 50. Já imaginou, o time que entrou na Copa pela janela, uma repescagem com o onze das mil e uma noites da Jordânia, e ontem recebeu do presidente a sua Bandeira, solenemente entregue ao Capitão Lugano, chegar à final, pronto a lutar os noventa minutos, como diz a faixa do torcedor “dejar todo hasta el final está en nuestra naturaleza”, seria um espetáculo de emoções insuperáveis. Eu trocaria qualquer coisa pelo repetir da história, a maior revanche de todos os tempos.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

NO DIA DA ELEIÇÃO

Desci do Pinheirinho bem ali na Rui Barbosa, bati um papo rápido com meu amigo pipoqueiro paranista, uma depressão só, e segui para a XV atrás de uma camisa do Brasil, uma baratinha, dessas com toda pinta de oficial, Made in Colombo. Amigos, tomei um susto danado.

A cidade, ainda não perdi o hábito de menino de chamar o centro velho de cidade, está mortinha de dar dó, a dias da Copa do Mundo não se vê uma loja enfeitada, nem quando a Copa foi no Japão houve tão pouco entusiasmo. É lamentável.

Por favor, o amigo não vá me perder a festa, deixar de aproveitar a efervescência em que vai se transformar nossa cidade, dar as costas à oportunidade de mostrar aos filhos, aos netos a capacidade que o futebol tem de congregar pessoas de todo o mundo, até o Wolverine, a Shakira, o Putin, todos estarão aí, o herói, a deusa, o mau, tudo no envelope futebol.

Só falta o amigo ficar com essa cara de cachorro em canoa, indignado com o uso do dinheiro público, deixar de ir ao baile de formatura por que o reitor da faculdade tem dificuldades com o português, seus assessores têm caráter duvidoso. Presidenta, governador a gente troca na eleição, o que não dá é para perder o baile.

O coxa e o paranista, que estão indignados com a “magnificent box”, tem que olhar pelo lado positivo. O Atlético arrumou uma baita dívida, vai ter que ser virar para pagar. Vamos deixe de chorumelas, quer ir à manifestação tudo bem, um pé lá, sacode o cartaz, outro cá, na frente da televisão, na fun fest vivendo uma Curitiba cosmopolita como nunca se viu.

Vamos irmão, jogue fora esse pessimismo, é o futebol do mundo dentro da nossa casa, aproveite, dê exemplo, divirta-se com as crianças, o real e doloroso problema a gente resolve depois, no dia da eleição.

terça-feira, 3 de junho de 2014

ARRUMAR A COZINHA

O Cruzeiro levou Manoel. Depois que Dedé andou entregando nos jogos da Libertadores, a diretoria raposina voltou seus olhos para o desertor rubro-negro, fez sua proposta e carregou o zagueiro. Civilizado. Ótimo. O Atlético precisa dos recursos, fica com 30% do passe, ainda pode ganhar algum, Manoel segue seu destino.

É assim que funciona. O são-paulino Lucão, 18 anos, até o jogo com o Furacão não aceitara renovar contrato. Nem por isso deixou de jogar. O craque Nathan segue o mesmo roteiro. Enquanto tiver contrato tem que jogar, por que deveríamos nos privar do belo futebol do menino? Domingo entrou e em minutos sapecou uma assistência para o Coutinho.

A saída de Manoel deixa um buraco na zaga. O Atlético sofreu doze gols, só Flamengo e Figueirense sofreram mais, e o amigo sabe que na maioria desses nove jogos atuamos com três volantes. Ainda mais, Weverton já tem sua beatificação estudada pelo Vaticano.

O mais ardoroso fã da nossa zaga poderá argumentar que o Cruzeiro na ponta da tabela sofreu dez, só dois a menos que o Furacão. E por que o amigo acha que a Raposa abriu os cofres para ter Manoel? O seu Marcelo Oliveira quer fechar a defesa a cadeado, mesmo com o melhor ataque da competição. No ano passado foi buscar Dedé, quando Dedé abriu o bico correu atrás de Manoel. É o provável campeão brasileiro.

Em termos de futebol, organização de equipe, o Cruzeiro é o clube a imitar. Contra a vontade da torcida apostou em Marcelo Oliveira, bi-vice da Copa do Brasil, foi buscar Ricardo Goulart no Goiás, Dedé no Vasco, Everton Ribeiro no Coxa, montou um timaço que vai aperfeiçoando. Sem atritos, atendeu Willian que não queria fazer o sétimo jogo, vai sapecando os adversários, botou três no Flamengo no primeiro tempo.

É uma maravilha ver o pessoal da base maioria no time principal, um técnico interino vitorioso. Falar em contratações pode ser visto como um menosprezo aos meninos, ao treinador. Nem pensar. Contratar é defendê-los, dar-lhes companheiros eficientes que os ajudem a crescer, equilibrem um time que venceu bem jogo quase perdido nos primeiros vinte minutos. É olhar a Raposa e copiar, no mínimo arrumar a cozinha.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

TREINAR NO PARAÍSO

O Atlético, que sacudiu a figueira e a deixou ardendo no fogo do inferno, deve muito do resultado ao belo trabalho do goleiro Weverton. Douglas Coutinho é o nome do jogo, três gols, pediu música, mas se milagres contassem para botar a vitrola para tocar, o goleirão rubro-negro estaria no seu direito, só no primeiro tempo fez 2 quando ainda estava 0 a 0.

Tivemos o início que eu queria, na frente, aos dois minutos já tínhamos duas finalizações a favor. O Figueirense só foi se encontrar após o nono minuto, quando contra-atacou e o moicano salvou a primeira. A partir daí, o jogo ficou equilibrado. O Furacão que trocava passes, virava o jogo com eficiência, começou a errar. Otávio precisa treinar a bola longa.

Aos 19, outro contra-ataque do Figueira, Everaldo livre atrasa para Weverton. Aos 35, a bola parada sobra no segundo pau, pancada forte, Weverton espalma, carinhosa bate na trave e retorna aos seus braços. O Atlético tinha mais volume de jogo, porém, o Figueira estava para o crime. Então, quando o juiz já olhava seu relógio, Bady lançou Sueliton, o cruzamento perfeito, gol de Coutinho.

O fim do feliz intervalo trouxe Nathan no lugar de Bady. Podia trazer também Cléo no lugar de Éderson. Os dois titulares tiveram pouca ação no jogo, sem ação, tem que trocar. O Furacão avança e aos 4 Weverton fez outro milagre. É o dia dele. Aos 7, Nathan arrancou pela esquerda, entrou na área, cruzou e Coutinho fez o segundo. Parecia o fim da pelada.

Por incrível que pareça, com dois a zero, ficamos vulneráveis ao contra-ataque. Nas bolas paradas a falha de marcação no segundo pau dava um trabalho danado a Weverton.  Nada é fácil para o rubro-negro. Aos 27, Otávio toma uma caneta, Cléberson dá um passo em falso, Everaldo sai na cara do gol, sem salvação, dois a um. Vamos para o sufoco.

O Figueirense, que já entrou em campo desfalcado, foi perdendo peças durante o jogo. Para que o amigo tenha ideia do time da ilha, Ivan, seu lateral-esquerdo, jogou no Atlético no longínquo Pleistoceno. Além de fraco, o Figueira se arrasta, aos 23, as cãibras já faziam suas vítimas.

A vitória atleticana tornou-se obrigatória e se confirmou em bela troca de passes. A bola longa encontrou Coutinho, de cabeça a Nathan, de novo a Coutinho, de peito a Marquinhos, mais uma vez a Coutinho, um toque e bola na rede. Coutinho mostrou qualidade técnica, velocidade e finalização precisa. O artilheiro do Fantástico e o milagroso Weverton salvaram o dia, nos colocaram para treinar no paraíso.

domingo, 1 de junho de 2014

TORRAR NO PURGATÓRIO

"A nossa equipe está focada na vitória. Três pontos nesta partida vão nos beneficiar muito para estar perto dos primeiros colocados na tabela e ir com calma para a parada da Copa", diz o parceiro Leandro Ávila. “A gente está rezando pela parada da Copa” diz o angustiado Guto Ferreira, às voltas com lesões e falta de entrosamento. Os diferentes estados de ânimo poderiam sinalizar bom resultado para o Furacão.

Jogos se ganham no campo. Os números do confronto Figueira e Furacão indicam sete vitórias para os catarinas, duas para o rubro-negro, nove empates. Difícil acreditar, o Atlético que tem ótimo retrospecto contra os grandes perde de lavada para o Figueirense.

O time entra se achando, em quinze minutos está perdendo, cair do salto é um baita choque psicológico, o adversário vira gigante, partida perdida. Quem já não viu essa tragédia acontecendo em Floripa?

O Figueira que ganhou do Corinthians e empatou com o Fla fora de casa não é time de se entregar. Joga num 4-3-1-2, três volantes, o armador Giovanni Augusto entre eles e os dois atacantes, Ricardo Bueno e Everaldo. O time é interessante por defender com uma linha de quatro e outra de três, armador e atacantes pouco contribuem na marcação, ficam pelo meio campo prontos para o contra-ataque. Coisa rara.

Perdeu dois de seus volantes contra o Fla, entram Nem e França, o torcedor em seu comentário lamenta, “Nem e França é prá acabar”. Guilherme Lazaroni (LE) levou o 3º amarelo e será substituído por Ivan. Guto Ferreira tem razão em sonhar com a parada.

O Atlético vai a Floripa com algum favoritismo, o que pouco quer dizer. Está a três pontos da zona do rebaixamento. Ganhou, fica entre os dez primeiros. Perdeu, vai para o fim da fila. O respeito ao Figueira e o erro zero podem ser a diferença entre folgar no paraíso ou torrar no purgatório.