sexta-feira, 27 de junho de 2014

MEU NOVO AMIGO COXA

Último jogo da Copa em Curitiba, sentei ao lado de um coxa e família, esposa e dois pequerruchos. Todos com camisas da seleção, só o maridão com um provocante cachecol alviverde. Com a minha linda vintage fiquei com vontade de dizer seja bem-vindo, a casa é sua, esteja à vontade. Quis posar de dono e fiquei pelo caminho.

Velho que dói, entrei no túnel do tempo e fui conduzido à velha Baixada das arquibancadas de tijolos à vista cuidados pelo Caju, dos sombrosos pinheiros, do placar ao lado do pão com bife, das camisas estendidas no varal aos fundos, amarelecidas pelos tantos jogos jogados.

Os times entraram para o aquecimento e eu estava segurando as lágrimas, mais uma vez encantado com todo aquele prodígio, aquela festa inimaginável acontecendo ali na Buenos Aires. Fui salvo do vexame por um argelino contaminado de sangue brasileiro a gritar “Passat!”, “Voyage!”, toda vez que a torcida russa ensaiava um “Brasília! Brasília!”, saí do túnel e embarquei feliz na modernidade.

No intervalo, fugindo de um picolé a dez reais, ensaiei um solitário “Furacãoooo, eôôôô, Atléticôôôô” e o coxa puxou papo. Falou da pena exagerada recebida pelo Atlético, disse ser a esposa atleticana de nascimento, apontou o local da sua cadeira na Getúlio Vargas inferior. Logo estávamos trocando impressões sobre a Arena magnífica.

O amigo coxa me levou de novo ao passado, quando atleticanos e coxas dividiam igualmente o Couto Pereira, terminado o jogo saíamos lado a lado, pegávamos os carros no mesmo estacionamento, sem qualquer problema. Quando foi que viramos inimigos?

A Copa trouxe a mensagem do torcer pela festa, sem ódios, nem rancores, uma volta ao futebol pelo prazer de assistir o drible enganador, o passe sedutor, a possibilidade de gritar gol para os dois lados. Foram quatro viagens ao primeiro mundo, especiais encontros com babel de línguas, oportunidade única de mostrar a cidade dos nossos corações, dar às visitas o que de melhor temos, o nosso mais especial abraço.

Com toda aquela festa de final de jogo, quando olhei para o lado a família Atletiba já se fora. Foi uma pena, perdi a chance de dar meu atleticano abraço no meu novo amigo coxa.

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