Se não acontecer, o
Furacão tentou, fez sua parte, que é mínima. Qualquer psicólogo argentino,
atendendo em esquina de Buenos Aires, tratando almas conflitadas, salvando
casamentos em ruína, sabe que o esforço decisivo depende do baladeiro, se ele
quiser vai, se preferir a noite carioca, nem eletrochoque resolve.
Um dos problemas do ser
humano é dedicar-se ao trabalho pensando no reconhecimento, na mínima
consideração. Erro grave. Tal pensamento é razão de mágoas profundas, gravosas,
maculadoras de almas esforçadas, desprezadas por completo, decaídas na doença
física, vítimas do veneno mortal.
No futebol, então,
pensar-se em gratidão é colocar a corda no pescoço. O Atlético tem problemas
específicos com artilheiros. Um chegou dos confins do mundo, ganhou boca nova,
vida nova, virou milionário, ao findar a carreira veio dar uma última mordida,
já de boca velha, levar mais uns milhões do Furacão.
Outro, coração em
pandarecos, ganhou sobrevida, virou artilheiro do Brasileiro, anos depois
estava pedindo para cobrar pênaltis contra seu salvador. Baier, com 39 anos, beijos
e beijos na camisa, escafedeu-se alimentando a ideia de processar o Rubro-Negro
por quebra de palavra. O amigo dirá, são profissionais, tem carreira curta. Eu,
que nada espero, não me conformo.
Adriano seguirá o mesmo
caminho? Salvo, e que assim seja, repetirá minhas palavras, dirá que até o
argentino de turbante na calle Florida sabe que é dele o merecimento, o Furacão
foi apenas o meio, o suporte, o crédito é todo seu? O tempo é o senhor da
razão.
Estou decepcionado com o
ser humano, perdi a fé? Nada disso, apenas assisto a vida, coleciono exemplos,
Churchil ganhou a maior das guerras e perdeu a primeira eleição depois da luta heroica,
quem imaginar que é diferente sofrerá enormes decepções.
Por isso, e desde que
até os imperadores precisam de ajuda, vou no popular, faça suas obras sem olhar
a quem, sem esperar vintém. Você não correrá o risco de perder a paciência,
será muito mais feliz.