quarta-feira, 6 de novembro de 2013

UMA NOITE MÁGICA

O amigo ao meu lado nesse ano de alegrias deve pensar, o Ivan perdeu a razão, no jogo em que perdemos para o Grêmio de um a zero quebrou as panelas, concluiu que jogar contra o tricolor fora de casa é perda de tempo, sugeriu que o Furacão mandasse o sub-23 fazer a partida em POA, desse tempo para a equipe principal descansar em Curitiba, tão impossível arrancar um bom resultado em terras gaúchas. Agora fala que a partida histórica é mamão com açúcar. Perdeu o senso.

O companheiro está cheio de razão. Não só quebrei as panelas, entortei os talheres, despedacei copos, estilhacei a louça toda. No exterior, lá onde se precisa passaporte para jogar, parece impossível o bom resultado. Já vi de tudo acontecer, não vou repetir minhas chorumelas em dia que a Serra do Mar amanheceu coroada por lindíssima composição de nuvens rubro-negras, antecipando o sucesso.

Os velhos carregam suas mochilas plenas de boas e más lembranças. Lá do Sul maravilha minhas recordações são reprimidas por boleadeiras de ferro. O uso do cachimbo deixa a boca torta, fiquei preso às memórias, a cada novo jogo elas voltam, se materializam e eu perco a clareza do pensamento.

Sorte que não jogo. Os guerreiros a entrar na bela arena da OAS nada têm a ver com minhas cicatrizes, são jovens, sangue novo, sem temores, querem ganhar mais do que tudo, o passado para eles inexiste, o futuro grandioso é que move as chuteiras velocíssimas na defesa e nos contragolpes dignos dos 300 de Esparta.

Eu apenas observo, torço, lanço minha força campo adentro e espero que ela frutifique, assim como o amigo pleno de fé também o faz, assim como aqueles que hoje se destinam ao campo da luta fazem ainda melhor, corajosos que são, certos que são da passagem gloriosa para a final.

Também tenho minhas certezas. Uma delas é que faremos gol. Outra é que a direção gremista tem temor da nossa velocidade, assim sendo, obrigatória manutenção de esquema defensivo superior ao mínimo, impossível a saída para o ataque sem seguranças bem definidas, nem todos avançarão, mais fácil guardar o zero defensivo.

Se faremos gol, se defender será mais fácil, se sequer precisamos vencer para dar o passo à frente, concluo pelo mamão com açúcar. Ressalvada a possibilidade da tropa gaúcha levar o jogo para a incivilidade, a partida tem tudo para ser belíssima, disputada palmo a palmo os noventa minutos, os nossos guerreiros saberão buscar os caminhos para a vitória, fechar passagens, armadilhar acessos, atacar com sabedoria e vencer.

Não contente com a minha bola de cristal, fui ao tarólogo, expliquei meu problema, ele, com um turbante rubro-negro na cabeça, com tremenda cara de preocupação, mandou-me embaralhar as cartas esquisitas e tirar uma delas com a mão sinistra. Cumpri as ordens suando no bigode, virei a carta embolorada, um mago sorria para mim. O tarólogo deu uma gargalhada estridente e disse triunfante: Será uma noite de muita luta, vencida pela sabedoria, uma noite mágica.

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