segunda-feira, 18 de novembro de 2013

LEVANTAR E LUTAR

Estou postando meu “Vou Rasgar a Página” nas fibras da internet e no canto esquerdo baixo da telinha vão aparecendo os Fulano curtiu, Sicrano comentou, espio o comentário e me surpreendo com o amigo me chamando de “cronista de resultado”, algo assim como ganhou é o máximo, perdeu não vale nada. Primeiro, agradeço pelo cronista impróprio, sou apenas torcedor com tempo para ver e escrever, jamais merecedor de qualquer classificação literária, por mais singela que seja.

Segundo, devo dizer que o resultado não me incomoda. Minhas primeiras recordações da Baixada datam de 1960, tempos duríssimos, de vitórias parcas, só fui conhecer meu primeiro título dez anos depois, se vencer fosse a prioridade teria ancorado meu barco em outro lugar. Nada disso, encostei meu coração de menino em pinheiro velho na antiga curva do placar e ele ainda está lá, vendo a obra em crescimento, estará lá para sempre.

O que me encanta é a luta que reconheci naquelas camisas vermelhas e pretas amarelecidas pelo sal da batalha, a derrota recebida com o canto do Hino, justo prêmio ao esforço daqueles não tão técnicos, nem tão táticos, mas tão heróis. Talvez tenha me identificado com algo que estava já dentro de mim e me levaria ao direito de não ter direito, ao dever como preferência, aos cansaços, às noites insones, ao Senhor dái-me o que vos resta, ao Brasil acima de tudo.

O que me incomoda é saber aos dez minutos de jogo que tudo está errado, que vai acabar em derrota para ator que cumpre seu papel transcrito no roteiro exausto, conhecido, e vai se agigantando sobre desatenções absurdas, ingenuidades táticas, fraquezas comportamentais não condizentes com o passado dos magros salários, das condições de treinamento mínimas, da vontade máxima.

Tudo é uma questão de sentimento, de vivência, cada um tem a sua, o que me deprime pode ser apenas mau resultado para o amigo, facilmente explicável, o que é ótimo, preserva sua saúde, gostaria eu de ser assim. Infelizmente, na partida contra o Botafogo nada vi a ressaltar, sequer um filete de sangue rubro-negro tingindo o solo sagrado do Maracanã. Sem sangue, sem raça, não é o Atlético, prefiro rasgar a página.

Nada que o Ivan encostado no velho pinheiro na curva do placar não possa superar entre um pacote de pipoca murcha, um punhado de amendoins com casca, um picolé daqueles de tingir os dedos. O que deu muito errado ontem pode ressurgir vigoroso amanhã, o que hoje me oprime, renascer glorioso no imediato porvir.

Por isso eu estou aqui, sem ser cronista, colunista, ou qualquer dessas ordenações indevidas, apenas para descrever a história como vejo, com meu terceira idade coração rubro-negro, para quem, sem medos de mais de quinze linhas, me desejar ler.

Irmão rubro-negro, nada se pode exigir daquele que não pode dar. O Atlético de hoje pode dar muito, está próximo de criar com sabedoria, suor e arte página inesquecível da sua história. Para isso terá que olhar para trás, lembrar de tantos heróis, de tantas lutas, sacudir o pó da derrota humilhante, levantar e lutar.

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