terça-feira, 4 de outubro de 2011

A ÚLTIMA PEDRA NO CAMINHO

Em breve viagem pela Alemanha tropical – Joinvile, Pomerode, Blumenau e Brusque –, encerrada na ilha dos sotaques açorianos – Floripa –, deixei minha caixa de emails transbordar. Aos poucos, lento como tartaruga salva pelo projeto Tamar, fui lendo as mensagens dos amigos, acolhendo opiniões, entendendo angústias.
Meus amigos se dividem em duas vertentes principais, que naturalmente podem convergir. Uns preocupados com o futuro do Brasil, outros com o destino do Atlético. Ambos parecem estar no limite do cansaço.
Os primeiros assolados pela corrupção, pelo baixo nível da política, pela ausência de mobilização nacional para os grandes temas. Para quem assistiu estudantes em pé de guerra contra a polícia a cavalo, a entrega da nossa juventude é fonte perene de desolação.
Os segundos, os rubro-negros, esmagados pela situação da equipe, insultados por colunistas insistentes em soprar brasas adormecidas, hesitantes frente a convites para a conciliação ponteados de estiletes prontos a cutucar feridas mal cuidadas.
Compartilho todas as dores.
Para não me aborrecer demais, seleciono leituras. Só leio autores que tem por objetivo ajudar, unir, criar condições para a melhora, ou, no mínimo, pautar pela verdade mesmo que dura.  
Leio amigos amargurados, soltando chispas pelas ventas, simplesmente por ter arriscado leitura fácil de evitar.
Se não entendo o leitor daquilo que o enraivece, também não compreendo aquele que escreve, permite comentários e se ojeriza com eles. No futebol, abrir espaço para o torcedor é um perigo. Dias atrás, notícia sobre o Atlético pedia opiniões. Fui ver. As menos insultuosas começavam por “cadelas poodles”, os coxas exercendo seu inalienável direito.
O comentarista matreiro, aflito em não cair do microfone, especializa-se no uso do mas. Diz ele: “O Vasco domina amplamente, tem tudo para conseguir a vitória, mas o Palmeiras tem grandes jogadores, capazes de decidir a partida em um único lance.” Pronto! Cercou-se de todos os cuidados. Qualquer reviravolta será explicada pelo mas intrometido. Para tudo tem um jeito.
O Brasil não tem mais jeito, mesmo que gritos esparsos se sucedam, até no Rock in Rio coros anti-Sarney foram ouvidos. Já é um começo para o fim das oligarquias. Sejamos otimistas.
O Atlético tem jeito. Temos duas tarefas a cumprir dignas de um Hércules em seus melhores momentos, a fuga do rebaixamento e a construção da Arena 2014.
Cada qual tem seu protagonista, histórias, infelizmente, distanciadas em momento crucial para o nosso Rubro-Negro. Cada qual tem seus devotos e suas certezas, seus inimigos e suas verdades.
O Atlético precisa de dois gestos de elevada grandeza moral e de extrema simplicidade. Basta que os dois personagens centrais se suportem com nobreza, permitam-se tocar seus projetos sem lançar pedras no caminho alheio. Não é pedir demais.
Que a pedra fundamental a ser lançada hoje, no reinício das obras da segunda fase da moderna Baixada, seja a última pedra no caminho.   

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