quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

FUTURO MELHOR

Lá quando o brasileiro ainda não era produzido em tamanho G, a pelada começava com o bom de bola indicando as posições dos melhorzinhos. A ponta para o driblador, o ataque para o esperto, ficava para ele o meio de campo, a tarefa de tocar a jangada, distribuir o jogo, estar com a bola sempre nos pés, sua inalienável responsabilidade. Ele sabia disso.
Ao gigante da época, o menino dizia sem muito respeito: “Você lá atrás”. O grandão assumia sua incompetência e garantia logo uma vaga na zaga, mais do que satisfeito, pronto a desferir botinadas, salvar com sua grossura e ferocidade a queda do que os radialistas de então chamavam de cidadela.
Uma única exceção podia colocar o gigante no comando do ataque. O danado do grosso era o dono da bola. Aí, o menino fazia um muxoxo, os companheiros desviavam o olhar, faziam não ver a bola nos pés do estorvo, pronto para dar o chute inicial, um dos poucos a dar na partida, evitado que era lhe passar a redonda na hora do vale dois pontos.
Era assim que funcionava.
Pois amigos, estou quase certo que na sua infância argentina, Nieto era o dono da bola. O rapaz tem todas as características do zagueiro de pelada. É alto, tem péssimo domínio, é lento, cabeceia bem, sua única virtude. Estou vendo o gringo com o saco de bolas nas costas antes do início do treino. Don Juan olha para ele e diz amargurado: “Vai lá para o ataque”. Nieto desata o nó e deixa as bolas correrem pelo gramado do Caju.
Se Don Juan se permite inventar Pablo de lateral, bem podia criar o Nieto zagueiro. Vai ver dá certo.
Fui ensinado a respeitar as pessoas. Aprendi que não se criticam atacantes, em dois minutos eles fazem um gol e você fica com cara de tacho, para usar outra expressão das antigas. Porém, não resisti à gracinha. Um misto de saudade e verdade me impulsionaram ao texto.
A torcida está reclamando de Marcinho. No Atlético, ele é o menino que distribui as camisas, indica as posições. Tinha que estar com a bola o tempo todo, exigi-la dos zagueiros, dos volantes, armar o time, não importa se marcado por gladiadores ferozes. Ele sabe disso.
Isso não acontece. O dez passeia pelo campo, tocando aqui e ali, como se fosse apenas mais um peão naquele tabuleiro. Tornou-se espectador dos mísseis disparados pelo goleiro e zagueiros na maldita ligação direta que se estabeleceu como padrão de saída de bola rubro-negra.
O Atlético tem um elenco frágil, menor que o mínimo em algumas posições. A vinda de apenas cinco jogadores é péssima notícia. Petraglia se cercou de administradores profissionais. De profissionais não se esperam paternalismos irresponsáveis, espera-se olhar consciente, pé na realidade, ações imediatas, garantias de um futuro melhor.

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