quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

LA NIÑA DE MIS OJOS

Arrastado pelo genro gaúcho e pela simpatia da neta belíssima, la niña de mis ojos, acordei com o estrondo do trem de pouso chocando-se contra a pista do Salgado Filho – difícil achar que os melhores pousos são aqueles em que o avião parece se esborrachar contra o solo – e de Porto Alegre segui para Sant’Ana do Livramento, cidade brasileira na fronteira com o Uruguai, irmã siamesa de Rivera, uma modesta Ciudad Del Este sem o caos da similar paraguaia, com as mesmas ofertas de artigos importados a bons preços, tudo ao alcance de um simples atravessar de rua.
Ali passei três dias muito agradáveis. Vinhos maravilhosos a seis dólares, perfumes capazes de deixar coxa cheiroso a preço de banana, os olhos femininos encantados com as ofertas de cair o queixo, os maridos à procura dos bancos para o descanso, os polegares levantados em sinal de positivo sempre que ao longe as esposas mostravam uma remera muy rica, uma chaqueta preciosa, um hermosíssimo abrigo de piel, uma cartera da Guess a preço de nada.
Eu aproveitei para exercitar meu espanhol, como se precisasse em cidade onde o povo fala português fluente, quando muito trocando o mas pelo pero.
Eu queria saber sobre um técnico chamado Juan Ramon. Os seguranças das lojas, os vendedores de meias com um horrível símbolo da Nike nas ruas, os garçons das parrilladas foram meus informantes.
Um se surpreende com a presença do treinador no Atlético Paranaense, surpreende-se ainda mais com a queda do time para a segunda divisão, “ele estava tão bem”. Lembra de Juan Ramon jogador, um hombre de personalidade forte.
Outro salienta sua capacidade de trabalhar com os niños e confirma sua qualidade como treinador. Pergunto sobre sua passagem na seleção e recebo um “no tuvo bien” como resposta.
Frente a uma parrillada completa, onde tripas, úberes, linguiças, costelas, morcillas e rins disputavam espaço com picanhas e entrecots em assadeira disposta sobre uma cama de brasas, soube que Juan Ramon é treinador voltado para o ataque, capaz de formar times com bom desarrojo ofensivo, pero sem um bom balanço entre defesa e ataque, esse seu principal pecado.  O mozo tem certeza que El Morro ainda vai fazer muitos gols no Brasil.
Volto a Curitiba em tempo de ver o final da vitória dos meninos contra o Olé Brasil – há quanto tempo não via o Atlético fazer três gols – e me surpreendo com a informação do comentarista de que Juan Ramon não vai utilizar os meninos da base por serem ainda muito jovens, o time tem idade média de apenas dezessete anos. Espero que o mozo da TV esteja enganado.
Espero também que Juan Ramon dê um bom equilíbrio entre defesa e ataque para o rubro-negro do meu coração. Em 2011 muito se falou mal do ataque e se escondeu a imensa fragilidade da defesa, sem dúvida ruim de doer. Dos remanescentes da defesa, só Manoel e Deivid são acima da média.
Enquanto busco saber onde vamos mandar nossos jogos, quais serão os reforços indispensáveis, quando as obras da Arena terão real início, encontro alegria nos dedos ágeis do neto querido martelando as teclas do computador, no sorriso largo e nos olhos cor turquesa da niña de mis ojos.

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