sábado, 11 de fevereiro de 2012

SOU ATLÉTICO PARANAÊNSÊ

Ainda em janeiro, andei pelo Rio Grande do Sul. Mas tchê, nem preciso dizer. Viagem mais que trilegal. Segui o coração de motorista gaúcho velho e fui lançado na direção do Alegrete. Como diz a canção gauchesca, passei por tropa de ginetes, ouvi toque de caixa e violão e só parei ao final da tarde em Rosário, quando o sol mergulhava como brasa nas margens do Ibirapuitã.
O que mais me deixou bolado na tal viagem foi a quantidade de gente com camisas do Grêmio e do Inter. Parece que o guarda-roupa dos “índio véio” ou tem farda de time, ou tem boina, camisa, lenço de pescoço, calças de favos de mel, botas e esporas. Atrás da camisa, alguma coisa escrita, como “têmpera gaúcha”, algo que evoque a grandeza do pampa. Dizem lá que o Hino Nacional se sabe mais ou menos até ali pelo deitado, depois complica. O hino do Rio Grande, cantam com fervor de soldado novo.
Tudo bem, mas daí a andar dia e noite com camisa de time é um pouco demais. Então, um sábio me sussurrou: antes de mostrar o amor por seus clubes, os gaudérios querem mesmo é mostrar que são gaúchos. O orgulho da terra vai na frente. Assim faz sentido.
Comparo com a minha terra das araucárias e sinto que nos falta esse amor filial, o orgulho de ser piá, ser pé-vermelho, tomar lêitê quêntê, falar dêntê, fazer parte de um Estado que alimenta a nação.
Orgulho de ser o que somos, uma mistura de polacos, italianos, ucranianos, russos, japoneses, castelhanos, portugueses e índios. Orgulho de saber que demos certo, mesmo com receita contendo ingredientes tão dessemelhantes.
Orgulho do que construímos, da estonteante beleza natural que nos rodeia, do passado guerreiro que na Lapa impediu o avanço gaúcho e consolidou a República.
O povo que não tem orgulho, que não espanta com a tradição o forasteiro astuto, é colonizado. Esse o nosso destino?
O futebol diz que sim. Passo na frente da loja de material esportivo e lá estão uma camisa do São Paulo, outra do Palmeiras, pouco atrás uma infantil do Atlético. Leio sobre a Copa 2014 em Curitiba e vejo os governantes de braços cruzados, presidentes de Coritiba e Paraná querendo tirar proveito, quando não zoando o rubro-negro, chance de ouro para derrubar o irmão.
A imprensa esportiva, a partir de estatística que colocou o Corinthians como maior torcida no Estado, abriu espaços imensos para paulistas e cariocas. Ridículo maior, criou-se até um Corinthians Paranaense. Entreguistas, nossos jornais vão desaparecendo pouco a pouco. É o destino dos míopes de coração.
Vexame doloroso acontece nas raras vezes em que representantes de nossa mídia televisiva são solicitados em rede nacional. É irritante o esforço de alinhar suas ideias com as dos comentaristas da corte, agradar barões e condes, manter o espaço mínimo oferecido. Uma lástima!
Jovem, me orgulhava ao ler a placa – Paraná aqui se trabalha – ao atravessar as fronteiras com os nossos vizinhos. Eram tempos de Ney Braga, Ivo Arzua, paranaenses de larga visão, gente de brio. Gente que lançou estradas, criou as bases para a Curitiba de hoje, objetivo de tantos brasileiros.
Cansei de ver o Atlético jogar no Belfort Duarte. O coxa ganhava e era magnânimo. Virou segunda força e ficou rancoroso. Vive de um passado movediço. O Ferroviário era expressão de uma raça. A Gralha agoniza. Outros grandes times do interior faleceram, ou lutam para sobreviver. Por todos os lados vemos placas de descanse em paz.
Olho pela janela e vejo a Baixada em fase de desmonte. A imagem me emociona e conforta. O trabalho formidável da gente rubro-negra é a imagem do Paraná indômito que mora no meu coração, “entre os astros do Cruzeiro, o mais belo a fulgir”. Esquecido, politicamente frágil, é uma força nacional, um caso exemplar de empreendedorismo.
O Atlético hoje é o símbolo vivo do vibrante povo paranaense, que à sombra do pinheiro magnífico, ao som da estrepitosa catarata e ao toque da fecunda terra-roxa, com seu trabalho, engenho e arte, faz nascer da terra bruta, do aço duríssimo a riqueza que atrai brasileiros de todos os rincões.
Eles que venham. São bem-vindos. No futuro seus filhos poderão dizer com orgulho: sou piá, sou pé-vermelho, tomei muito lêitê quêntê, não me afrontê, sou gigantê, sou Atlético Paranaênsê.

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