Caiu Don Juan, assumiu nhô Ricardo.
A rapidez da apresentação do novo treinador aponta para decisão tomada já há
algum tempo e para a linha que norteia toda a formação do Atlético de
Petraglia, a linha da economia, o baixo custo em primeiro lugar.
Rubro-negros sempre otimistas correm
a apresentar nomes como Vadão, o criador do carrossel caipira, que chegou ao
Atlético em início de carreira e ganhou nome comandando o Furacão. Querem dar
esperança ao povo de Paranaguá.
Para os mais velhos, nada de novo.
Nunca tivemos um treinador de primeira linha, de Givanildo a Miór, passando por
tantas promessas, fomos batendo cabeça, sempre voltando para Antônio Lopes,
Geninho, os eternos salva-Pátrias, até o dia em que a casa caiu. Estamos apenas
cumprindo nosso destino cruel.
Outros dirão que quando contratamos
alguém conhecido, como Adilson Batista e Renato Gaúcho, foi muito pior. Adilson
Batista é um engano absoluto, não conta, Renato Gaúcho pediu para sair,
inexistia qualquer possibilidade de sucesso pelo mesmo motivo que hoje nos leva
ao prezado Ricardo, a economia, impossível gastar mais, tanto já fora gasto com
inutilidades.
Não conheço o senhor Ricardo
Drubscky, conheço o irmão. Um pelo outro, creio que o Atlético pode esperar honestidade,
dedicação e trabalho. Nos dias de hoje, é muito. No futebol, dependendo do
grupo envolvido, pode valer muito pouco.
Nhô Ricardo vai enfrentar uma dureza
tremenda. Em princípio jogará uma segunda divisão fora de casa, toda ela, tem
um elenco onde o improviso é a tônica na defesa, um departamento de futebol sem
recursos que garimpa reforços com a principal competição em andamento, 90% da
torcida contrária à sua contratação, alguns jogadores impedidos de jogar pela
diretoria, segundo as palavras do demitido Omar Garate. Mais, a partir de
domingo, tem que ganhar tudo. Não dá mais para comer pelas beiradas. Já estamos
atrás do Paraná.
Depois de teclar o parágrafo,
estudando a missão do novo treinador, acho-o no mínimo homem de coragem, e
absolvo todos aqueles que, se convocados para o seu cumprimento, dela fugiram
como o diabo foge da cruz.
O atleticano tem obrigação de
entender a dividida brutal em que se meteu nhô Ricardo, o mineirinho corajoso.
Tem que ajudar. Na conjuntura em que nos encontramos é o único sem culpa no
cartório.
Seu Petraglia deve entender que quem
dá a missão dá os meios, tem que contratar no mínimo uns quatro ótimos
jogadores, com comprovada experiência. Vai ter que abrir a mão, se não quiser
trocar treinador de dois em dois meses, repetindo seu antecessor.
No fundo voltamos à velha dúvida que
nos maltrata, tijolo ou chuteira? Se não der chuteira, o treinador
desassombrado merece pelo menos uns ki-chutes.
Ao nhô Ricardo sem medo meus votos
de boa sorte. Que por alguns minutos São
Petraglia olhe por ele, tire aquele capacete de mestre de obras e calce as
chuteiras da generosidade.
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