sexta-feira, 29 de junho de 2012

SEM NADA PODER FAZER

Sai do Brasil às vésperas do jogo com o Goiás. Quando a filha me telefonou e evitou falar em Atlético, fugi da pergunta, senti o cheiro de desgraça, percebi que o amor filial tentava preservar o meu bom momento em terras distantes.
A partir daí passei os dias a caminhar entre monumentos, assistir a Europa invadida por hordas de chineses e indianos, tentar entender uma só palavra de línguas de quebrar o queixo, viver de um colossal café da manhã e monásticas refeições outras, esquecido por completo o Rubro-negro do meu coração.  Só o susto no meio da noite, ao qual já me acostumei, trazia de volta a preocupação medonha e os longos minutos de insônia dos quais não consigo me livrar.
Ao chegar ao Galeão e dar de cara com senhoritas gritando “Táxi missster! Táxi missster!”, já na saída da Receita Federal – cena prá lá de dantesca –, receber aquele atendimento privilegiado que durante a Copa vai levar o sueco desejoso de ver seu país jogar em Manaus a conhecer a estátua do laçador em Porto Alegre, e esperar horas para o aeroporto abrir em Curitiba, fui me preparando para o baque.
A felicidade estampada na cara do meu porteiro coxa nada tinha a ver com o retorno triunfal deste rubro-negro. Em minutos fui atingido por todas as calamidades. O empate com o Goiás, a derrota contra o Ceará, a classificação do seu glorioso para a final da Copa do Brasil, a queda do nhô Ricardo. Coloquei a mão sobre a têmpora, sinalizando a volta da dor de cabeça, a esposa suspirou um sofrido “vai começar tudo de novo”.
O Atlético deu uma nova dimensão à lei de Murphy, agregou a ela velocidade. Diz a referida lei que se alguma coisa pode dar errado, com certeza isso vai acontecer. Com o Furacão, dez dias são suficientes para que todos os maus presságios se realizem. Você dá um suspiro e encontra técnico novo comandando o treinamento, pedindo reforços, clamando pelo apoio da torcida, o ex-recém-contratado no limbo, a situação é tão surreal que parece ser impossível demiti-lo.
Vai ver dá certo. Vai ver, finalmente, o Atlético que não consegue aprender com os próprios erros, tem certezas absolutas, pensamento pétreo, acordou no meio do pesadelo, foi tocado por um mínimo de bom senso e resolveu agir enquanto a ação ainda pode dar resultado.
Jorginho recebe a mesma herança que destronou nhô Ricardo, com algumas atenuantes. Foi jogador, pode ser assimilado com maior rapidez, não tem adversários de tanto nome pela frente, poderá estar à beira do campo, foi campeão da segundona em 2011, viveu o campeonato, sabe que deve mirar a primeira colocação, está fora do nível científico que o Atlético tenta imprimir ao futebol, é um prático em meio a experimentadores, se não for atrapalhado, pode dar certo.
Tem em mãos o mesmo elenco, agora com o moral abaixo de zero, elenco que ganhou duas vezes do Criciúma, um dos líderes disparados da competição. Vai ter que transformar o Atlético em time de luta, de garra, fundamental para a consecução do objetivo, sem contar com grande apoio da torcida, pelo menos enquanto jogar em Paranaguá, outro erro de cabo de esquadra, desculpe-me o cabo velho, um cabo de esquadra jamais submeteria seus homens a tal sofrimento.
O Atlético tem a felicidade de acordar no meio do pesadelo e agir. Está muito melhor do que eu, que me acordo como gigante tremendo de medo frente ao grande Bragantino, suando frio, imóvel, sem nada pode fazer.

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