quinta-feira, 1 de março de 2012

UM BELO SINAL VERMELHO

Estreia tem acento? Nem a palavra, nem a estreia do meu rubro-negro, deglutido pelas mandíbulas do Tubarão da antiga terra do café. Só faltou a trilha sonora do clássico do suspense mundial para assombrar ainda mais meu fim de noite. Que não se engane o torcedor, o Atlético não perdeu, foi goleado.

Por que a palavra estreia não tem acento? Não sei. Escrevo de ouvido, com um belo dicionário ao lado. Aconselho. Por que o Atlético foi goleado? Todos nós sabemos.

Nem os bons primeiros 20 minutos do rubro-negro podem tirar o mérito da vitória londrinense, construída sobre os pilares do bom futebol, jogado desde a defesa, com troca de passes eficiente e contando com as tradicionais dificuldades da defesa do campeão do primeiro turno. O Londrina jogou como eu gostaria de ver o Atlético jogar.

Já que alfinetei a defesa, é bom explicar. Em 2011, a torcida creditou a Paulinho todas as desgraças do nosso setor esquerdo, o mesmo que desde a saída de Rodolfo continua dando problemas. “O jogo é por ali”, diz o técnico adversário, e por ali se consagram laterais, atacantes e toda sorte de intrometidos. Por que será?

Além da dificuldade crônica, some-se a solidão dos zagueiros, abandonados pelos volantes. Cara a cara com os atacantes, em vez de diminuir distâncias, dar o bote no condutor da bola, vão recuando, esperando o socorro de Renan, de Deivid, dando espaços para que o chute de fora aconteça certeiro, com poucas chances para o goleirinho. Em linha, pronta para ser vítima do lançamento longo, sem a sobra que afasta surpresas indesejáveis, nossa defesa é um convite à desgraça.

Essa quadra de defensores em apuros é sobrecarregada pela natureza do esquema ofensivo, que coloca oito jogadores além da linha do meio campo. Perdida a bola, vide segundo gol do Tubarão, salve-se quem puder.

Já castiguei muito a defesa? Quem sabe um pouco demais? Vamos mudar o foco.

É lógico que o jogo mostrou a distância entre o ataque considerado titular e o reserva. Sem Ricardinho, Bruno Furlan, e mesmo Marcelo, o esquema de três atacantes desmorona, inútil a catapulta maluca em que se transforma Rodolfo, louca a disparar petardos para frente em busca de um contra-ataque que só facilita para o adversário. Essa ligação direta, outro fantasma que me atormenta desde o ano que passou, parece ser uma exigência de Don Juan, então, pobre d’eu, só rezando de joelhos.

Sem jogo pelos lados, o Atlético força a jogada no pivô, que é atropelado pelo zagueiro. A cada 10 atropelamentos, em 9 o juiz manda seguir e o Bruno Mineiro fica no chão, batendo os pés como criança em primeiro dia de aula. Lá pelos 30 do segundo tempo, sua senhoria dá o primeiro amarelo. Tarde demais. A vaca já foi pro brejo, com direito a gol contra.

Não é só o aspecto tático que me deprime. As substituições são desesperantes. Tudo o que já não deu certo, volta a me assombrar. Futebol tem níveis. Se você não está no nível, baixa um ponto, dois, você será craque no círculo inferior. Não é nenhum demérito. Tive amigos craques de bola que não passaram da peneirada, nem por isso deixaram de me encantar, fazer rir, com seus dribles e golaços. No Atlético o termômetro quebrou faz tempo, continuamos esperando o milagre, perdendo a fé em santos e santas, sem entender a razão do desamparo do andar de cima.

Já começamos março e só trouxemos Ligüera. Estamos muito atrasados. Mais dois meses e estamos no Brasileiro, jogando contra times melhores que o Londrina e tendo que vencer obrigatoriamente. A derrota não é a morte, desnecessário botar a boca na comissão julgadora, invadir a zona de apuração e rasgar a papelada.

Não é a morte, mas é um belo sinal vermelho.


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