segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

CORAÇÕES RUBRO-NEGROS


São quatro horas e vinte minutos em Orlando, no Brasil sete horas e vinte da noite. O jogo do Atlético já acabou e eu estou sem notícia, vagando entre as filas da imigração americana, uma babel de línguas, cheiros e angústias de todos os naipes. Ali, naquele mundo de inseguranças, o mais angustiado sou eu.

Livro-me da última barreira, um cara mal educado, que imagina saber português, querendo saber se tenho comida na bagagem e saio para a luz da internet. O genro dedilha o celular e pergunta: “precisava empatar Ivan?”, respondo um “sim” em pânico, “então deu”, foi o fim maravilhoso de um ano inteiro de ansiedades. Passo a exibir a vintage rubro-negra com o maior dos orgulhos.

Pego o aparelhinho do demônio e fico sabendo que o São Caetano ganhou, que o fim do jogo em Curitiba foi para matar, pênalti perdido, bola tirada em cima da linha, vou lendo em voz alta, a filha acompanha no máximo da alegria e conclui sapiente: “pai, o senhor não iria aguentar, a viagem lhe salvou a vida”. É verdade, a viagem marcada há meses pode ter me salvo a vida.

Passo a achar que os dólares que vou gastar, e não serão poucos para o meu nível de renda, serão melhor aplicados que em cirurgia cardíaca inevitável, ou em aplicação ainda pior.

Chego em Curitiba com a impressão que o cérebro está solto dentro da caixa craniana e coloco a gravação do jogo para rodar, sentado na poltrona como naquela atração do Epcot Center em que você viaja de asa delta sem sair da cadeira, mas com a nítida impressão de que vai se esborrachar contra as pedras da montanha que passam milagrosamente a centímetros da sola dos seus pés.

O Atlético ofensivo que eu gosto é parado pelas ótimas intervenções do goleiro paranista, perde gols, marca com Cleberson e vai construindo o retorno com tranquilidade, sem, entretanto, dilatar o placar. Quando isso não acontece, o final de jogo é invariavelmente dramático. E foi, mas não vi.

O atraso no início do jogo cortou minha gravação aos quarenta, quando a torcida estava com as mãos entrelaçadas sobre a cabeça, pronta para a rendição. Fui para o site Rubro-negro, procurei os melhores momentos e não encontrei os fatais últimos minutos, após o cabeceio de Manoel na trave, a imagem corta para a festa, Petraglia no meio do campo abraçado aos jogadores.

Alguém lá no alto quer me proteger até no replay. Eu agradeço.

O Atlético construiu uma das páginas mais emocionantes da sua história, marcada por todos os naufrágios e ressurgimentos característicos da sua extraordinária vida como clube de futebol.

Passei o ano escrevendo essa história e não assisti seu epílogo ao vivo como deveria ser. O destino sabe o que faz. Por certo queria me dar chance de contar mais, me emocionar mais, assistir na arena magnífica o futuro que todos sabemos será ainda mais fantástico. Ele que venha, estaremos aqui, nós e nossos periclitantes corações rubro-negros.

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