São quatro horas e vinte minutos em
Orlando, no Brasil sete horas e vinte da noite. O jogo do Atlético já acabou e
eu estou sem notícia, vagando entre as filas da imigração americana, uma babel
de línguas, cheiros e angústias de todos os naipes. Ali, naquele mundo de
inseguranças, o mais angustiado sou eu.
Livro-me da última barreira, um cara
mal educado, que imagina saber português, querendo saber se tenho comida na
bagagem e saio para a luz da internet. O genro dedilha o celular e pergunta:
“precisava empatar Ivan?”, respondo um “sim” em pânico, “então deu”, foi o fim
maravilhoso de um ano inteiro de ansiedades. Passo a exibir a vintage
rubro-negra com o maior dos orgulhos.
Pego o aparelhinho do demônio e fico
sabendo que o São Caetano ganhou, que o fim do jogo em Curitiba foi para matar,
pênalti perdido, bola tirada em cima da linha, vou lendo em voz alta, a filha
acompanha no máximo da alegria e conclui sapiente: “pai, o senhor não iria
aguentar, a viagem lhe salvou a vida”. É verdade, a viagem marcada há meses
pode ter me salvo a vida.
Passo a achar que os dólares que vou
gastar, e não serão poucos para o meu nível de renda, serão melhor aplicados
que em cirurgia cardíaca inevitável, ou em aplicação ainda pior.
Chego em Curitiba com a impressão que
o cérebro está solto dentro da caixa craniana e coloco a gravação do jogo para
rodar, sentado na poltrona como naquela atração do Epcot Center em que você
viaja de asa delta sem sair da cadeira, mas com a nítida impressão de que vai
se esborrachar contra as pedras da montanha que passam milagrosamente a
centímetros da sola dos seus pés.
O Atlético ofensivo que eu gosto é
parado pelas ótimas intervenções do goleiro paranista, perde gols, marca com
Cleberson e vai construindo o retorno com tranquilidade, sem, entretanto,
dilatar o placar. Quando isso não acontece, o final de jogo é invariavelmente
dramático. E foi, mas não vi.
O atraso no início do jogo cortou
minha gravação aos quarenta, quando a torcida estava com as mãos entrelaçadas
sobre a cabeça, pronta para a rendição. Fui para o site Rubro-negro, procurei
os melhores momentos e não encontrei os fatais últimos minutos, após o cabeceio
de Manoel na trave, a imagem corta para a festa, Petraglia no meio do campo
abraçado aos jogadores.
Alguém lá no alto quer me proteger até
no replay. Eu agradeço.
O Atlético construiu uma das páginas
mais emocionantes da sua história, marcada por todos os naufrágios e
ressurgimentos característicos da sua extraordinária vida como clube de
futebol.
Passei o ano escrevendo essa história
e não assisti seu epílogo ao vivo como deveria ser. O destino sabe o que faz.
Por certo queria me dar chance de contar mais, me emocionar mais, assistir na
arena magnífica o futuro que todos sabemos será ainda mais fantástico. Ele que
venha, estaremos aqui, nós e nossos periclitantes corações rubro-negros.
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