segunda-feira, 15 de agosto de 2011

HORA DA SOBREMESA

Assisti o jogo na casa da filha querida, segurando os sentimentos, sentindo os cheiros das picanhas, dos pequenos corações e dos nacos de queijo coalho ardendo na churrasqueira dirigida com maestria pelo genro gaúcho, torcedor do Grêmio, até então, companheiro de dificuldades rebaixamentistas. Os convidados chegando e eu uma educação só. Sem gritos, xingamentos, um ator com aquela cara de é só mais um jogo de futebol.
Tive sorte. Foi uma das melhores partidas do Atlético. Com um time sem dois dos seus principais jogadores da era pós-Adilson, Santana e Kleberson, o Rubro-Negro defendeu bem, tentou bloquear Lucas e Dagoberto, e trocou passes com qualidade. Os lançamentos de média distância ganharam precisão e beneficiaram a saída para o jogo ofensivo. A posse de bola por pouco não igualou a do tricolor.
Desde o início, o São Paulo avançou a defesa, martelou com Ivan Piris, Ilsinho e Lucas sobre a posição de Fabrício e insistiu com Cícero, Dagoberto e Juan pela esquerda. O Atlético defendeu e contra-atacou. Tomou sustos e assustou, tudo de acordo com o enredo de partida fora de casa.
Aos onze, Marcinho obrigou Ceni a fazer um primeiro vôo, aos dezesseis Lucas tocou Ilsinho entrando livre, aos dezenove João Felipe atropelou Paulinho, Edilson cobrou a falta na cabeça de Fransérgio e gol do Furacão. Uma educação só, aceito um queijo coalho, peço para completar o vinho.
Não deu tempo para tomar dois goles. Aos vinte e quatro, Ilsinho deu um nó no marcador e mandou uma bala de fora. Tudo empatado, um sonoro palavrão ficou preso na garganta.
O Atlético não se abalou, continuou na defesa, trocando passes e, como eu na churrasqueira, petiscando no ataque. Dois jogadores tem destaque. Ilsinho pelo time do santo e Morro pelo Furacão. Ambos perdendo gols que poderiam definir a partida. O primeiro tempo acaba com o nosso uruguaio desperdiçando ótima chance. O menino quando deve arrumar para encontrar ângulo e finalizar, chuta de primeira, quando tem que fuzilar de prima, tenta um toque a mais. Tenho tempo para apreciar o fogo, me afundar nos corações. Morro vai encontrar o tempo certo para o gol.
A vontade de matar o jogo, demonstrada pelo São Paulo no início do segundo tempo, amortece ali pelos sete minutos. O Atlético se agrupa defensivamente e volta a incomodar.
Aos nove, Edilson passa para Madson finalizar e João Vitor salva. Fransérgio e Robston perdem chances de chutar de fora, arriscam um último e mal encaminhado passe, o mesmo não acontece com Cícero e Lucas, que vão mandando bombas para as defesas de Renan. A mobilidade de Ilsinho continua dando trabalho.
Edigar substituiu Morro aos vinte e Ilsinho dá lugar a Rivaldo aos vinte e um. Achei as duas substituições ótimas para o Furacão. Morro já estava bloqueado, Ilsinho ainda iria arrumar uma brecha na nossa defesa. Respirei aliviado, que venha uma linguicinha aninhada na farofa.
Marcinho, Madson e Edigar trocam de posição no ataque, continuam recebendo o apoio dos laterais, mas os volantes ficam presos na defesa. Rivaldo vai jogar no mesmo setor ocupado por ilsinho, ali na frente de Fabrício, e mantém meu coração em sobressalto. Dagoberto cruza da esquerda, o velhinho entra no segundo pau, Fabrício salva. Rivaldo serve Dagoberto na frente da área, o chute vai na trave. Ai! Ai! Ai!
No lá e cá em que se transformou o jogo, chegou a nossa vez. Marcinho raspa de cabeça, Edigar livra-se dos dois zagueiros com um toque de direita e manda, de esquerda, a bola rasteira, mortal para Ceni. Dois a um. É hoje. Um golão de vinho para aguentar os quinze minutos finais.
Adilson coloca Fernandinho e dá-lhe velocidade pela esquerda. Edigar entra pela direita, finaliza e Ceni defende. O São Paulo força e, aos quarenta e quatro, Cícero encontra espaço livre pela esquerda, cruza e Rivaldo marca entrando de barriga nas costas de Fabrício. Cópia de lance anterior, cópia do gol tricolor contra o Ceará na quarta-feira. Uma pena.
Fico com vontade de gritar um “que azar”, mas não foi azar, foi erro, Cícero não podia ter liberdade para cruzar naquele momento do jogo. Sou mais preocupado com o azar do que com o erro. O erro é passível de reparo.
Vou enfrentar as carnes, as maioneses divinas, as farofas deliciosas com a certeza de que o Atlético fez uma grande partida. Os dois gols, obras de meninos do cajueiro, dão ânimo. Acalmo o meu coração.
Só por meia hora. O canal vai para o jogo do Bota com o América Mineiro e, em dez minutos, já está dois a zero para o time das alterosas. Ai! Ai! AI! É um complô. Demora para o Fogão virar o jogo. Enquanto isso sofro, peço um chá, só vou ter paz na hora da sobremesa.
  

Um comentário:

  1. Pô, Cel! A história, pelo menos o final dela, está editada! Tem que colocar o defecho! Cadê o Cidinho e o Alex, protagonistas para um final de noie menos dramático para o coração rubronegro? E a ausência do Douglas e da Bibi para ajudar a voltar os ânimos à calma?

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