quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O MEU PORTEIRO COXA

A campainha toca e eu fico preocupado. O porteiro não anunciou a chegada de ninguém, o vizinho de porta está viajando, as normas de segurança indicam perigo. Espio pelo olho mágico e vejo na penumbra do hall de entrada um homenzinho desconhecido. Abro, e quem está lá?
 O meu porteiro coxa. Há meses operado, uma cirurgia bariátrica bem sucedida transformou o rival do Bolinha em ser de boas proporções, firminho de bochechas, sem pelancas, segundo ele fruto da sua ainda pouca idade. Escuto toda a epopeia, a cinta imensa, os perigos terríveis, os sucos, as comidinhas batidas, o apoio do prédio com pudins, flans e leitinhos de soja e fico esperando pela pergunta óbvia. Ela tarda, mas aparece, ao lado do sorrisinho conhecido: “E o rubro-negro?”
Encurralado no canto do infortúnio, tento sair por cima: “Jogando mais uma competição internacional, lutando por mais um título das Américas”. Ele ri gostosamente, saca um “esse seu Ivan” e se despede rumo a mais uma perícia. A cirurgia me salvou de boa, das finais da Copa do Brasil, do belo momento coxa-branca, enquanto chafurdávamos no pântano.
Vi o Atlético entrar em campo imaginando o amigo porteiro deliciar-se com a escalação. Ele devia estar pensando: “Olha o Robston, o Rafael Santos, o seu Ivan vai morrer”. Decidi ver o jogo como leio emails, priorizando as boas mensagens, as provavelmente engraçadas, as dos amigos de bem com a vida, deixando as políticas para quando der tempo, deletando os títulos com a palavra lula, preservando a inteligência e as velhas coronárias.
Infelizmente, impossível cortar a imagem, evitar ver, e sinto algumas vezes o marulhar do sangue tentando deixar o coração e subir escada acima, na tentativa de inundar o cérebro. A máquina rateia, se esforça e consegue, ainda bem.
Em jogo sonolento, o Atlético conseguiu bom resultado, se é o caso de desejar seguir na disputa da competição. O um a zero pode ser revertido, ainda mais se o Flamengo vier para Curitiba com a mesma escalação que iniciou a partida.
O que eu queria ver, eu vi. Queria ver o goleiro Santos e vi um menino com sorte, umas duas bolas rasparam as traves perigosamente, autor de uma bela defesa em chute de Renato Abreu de fora, uns corajosos cortes de escanteios e quase que a defesa de um pênalti. Para um primeiro jogo no profissional, contra o Flamengo no Rio de Janeiro, muito bom.
Vi também uma bela partida de Marcelo Oliveira. Já disse aqui que preferia Paulinho ao ex-corinthiano, confesso agora estar na dúvida. Os dois laterais, Diniz e Oliveira, impediram o Urubu de jogar pelos lados, algo pretendido por Luxemburgo com seus três zagueiros e alas bem avançados.
Não se pode falar em ataque. Se a opção inicial era contra-atacar com velocidade, a saída de Rodriguinho por contusão acabou com a possibilidade. Edigar fez o que pôde, tem qualidade, mas rapidez e ação vertical não estão no seu currículo. Quem sabe Guerrón pudesse entrar mais cedo. Quem sabe Rafael Santos devesse mudar de posição, jogar entre os zagueiros adversários, só para cabecear.
O interessante foi observar que, quando os pilares do Flamengo, Renato Abreu, Thiago Neves e Ronaldinho entraram, foi que o Atlético teve seus melhores momentos na partida. Até chegou ao ataque, teve mais posse de bola, como querendo mostrar jogo, afirmar competência.
Foi pouco e foi tarde. Um descuido, e Ronaldinho entregou a bola limpa para Jael, “o cruel”, ser atropelado por Santos. Pênalti e gol do Urubu, aos trinta e sete do segundo tempo. Para quem esperava uma goleada, o placar mínimo deixou uma esperança. Dia vinte e quatro vamos encher a Baixada. Vai ver com doze, seguimos em frente, então, quem sabe mais leves, sem tanto peso nas costas. Como o meu porteiro coxa.

2 comentários:

  1. Parabéns pelo texto, Cel. Embora não corrobore com afinidades rubronegras, virarei um leitor do blog. Quem tem "El Loco Abreu" não preciso de "Morro"!
    Kron

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  2. Eu já estaria feliz com o Herrera. A esperança é que um dia el Morro vire uma montanha. Grande abraço. Ivan

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