segunda-feira, 1 de agosto de 2011

ACENDER UMA VELA

O atleticano passou pela revista obrigatória, respondeu um “vamos ganhar” rápido para a pergunta do homem de preto e subiu as escadarias repetindo a antídoto contra o feitiço:
“Sai praga de Geninho, vai buscar outro caminho. Sai praga de Geninho, vai buscar...”
Atingiu a luminosidade do campo dos sonhos com a boca trêmula, a frase repetida. Quem o viu naquela solidão religiosa pensou que estava rezando. Viu o time entrar sob o foguetório e encontrou Manoel na fila de heróis. Melhor assim.
Apertou o botão minúsculo do velho relógio quando o juiz apitou o início do jogo e seguiu mandingando. O jogo nem tinha se acomodado e, aos cinco minutos, Cleber Santana entrou pelo meio da área do Peixe, foi pedindo licença e não teve pena de Rafael. Mandou uma bala na forquilha, um a zero. Goolaaaaaaaçoooooo!
O atleticano de Esparta nem levanta. Com as mãos em prece assiste o espetáculo emocionado, mandinga, quer mais gols que acabem o encanto medonho. Rapidamente é atendido. Aos nove, escanteio cobrado, Manoel sobe livre na pequena área e cabeceia forte. Olha o Manoel que ele queria fazendo gol. Tudo vai dar certo.
Ai! Ai! Ai! Aos doze, Neymar, a cacatua de chapinha japonesa livra-se de dois e chuta colocado. Um a um. Hora de trocar de mandinga.
“Sai praga de coxa-branca. Reboteia e te arranca. Sai praga de coxa-branca, reboteia...”
Até o final do primeiro tempo, o atleticano mandinguento some na cadeira. O Atlético com dificuldades na saída de bola, lançando longo para Garcia marcado por dois, toma sufoco. Aos vinte e sete Renan faz defesa espetacular em falta batida por Elano. Na sequência, segura firme cabeçada no chão de Edu Dracena. Aos trinta sai de soco em nova falta batida por Elano.
O jogo é difícil. As poucas oportunidades do Rubro-Negro acontecem em lances de individualidade. Manoel arranca e passa a Garcia dentro da área que se choca com o goleiro. Edilson lança Garcia que é desarmado. O Atlético não tem jogada de contra-ataque articulada, com objetivo bem definido. Defende-se e tenta o lance de sorte. A novidade é que consegue acumular jogadores dentro da área do Peixe nos poucos lances de ataque.
Outro cabeceio a gol de Manoel em falta batida por Edilson e grande desarme de Deivid sobre Ganso animam o torcedor antes de travar o cronômetro aos exatos quarenta e cinco. Está com a boca seca, como dizem os jovens, precisa de um refri.
O jogo recomeça cheio de esperança para o seca olho gordo. Renato organiza o contra-ataque. Junta Cleber Santana, Marcinho e Edilson pela direita e explora o avanço de Leo. Isto Renato, você sabe, o gol tem seu caminho. Branquinho aparece para o jogo e a partida fica igual, o sufoco acaba. Paulinho entra pela esquerda e chuta na rede pelo lado de fora. Vai dar. Aos dezesseis sai Branquinho e entra Rodriguinho. Mais fogo à frente, mais gente sobre Leo. Vai dar.
Qual o quê? Pará dispara pela direita, perseguido por Paulinho, toca para Borges que gira sobre Manoel e finaliza. Gol do Santos. Aos vinte, Renan faz ótima defesa em chute de Ganso à queima-roupa e Neymar finaliza na trave no rebote. Vai lá outra mandinga.
“Sai praga de ex-jogador, vai atrás do lançador. Sai praga de ex-jogador, vai atrás...”. O corpo cansado balança pra frente e para trás ao ritmo dos versos.
Neymar tenta passar por Deivid que toma a bola e lhe dá uma volta. O coração do rubro-negro se aquece. Vamos menino!
Cleber Santana resolve tomar conta do jogo. Calmo, organiza, acerta os passes, indica o caminho da vitória. Marcinho bate mal falta da entrada da área. Ai! Marcinho! A torcida começa a pegar no pé de Paulinho. O antiagourentos tem solução para tudo.
“Sai praga de torcedor, onde está o seu amor. Sai praga de torcedor, onde está o....”
Sai Garcia entra Edigar. Uma incógnita. Kleberson chuta de fora e a bola é desviada. Rodriguinho cabeceia fraco no escanteio. Cruzamento de Santana no chão, quase Marcinho chega. A chapa esquenta. O jogo fica aberto. Neymar entra pela direita, passa a Ibson na marca do pênalti, caído finaliza, é bloqueado, a jogada segue, Deivid faz a parede e Fabrício afasta o perigo. O Santos vai para a bola aérea, o Atlético segue forçando pela direita.
Sai Edilson, entra Wagner Diniz. Diniz chuta a gol, Edigar não passa por Leo, Edigar dribla e chuta sobre Dracena. Quarenta e seis minutos, a bola sai da esquerda, vai parar nos pés de Diniz à frente de Leo, olha para a área, cruza, Edigar raspa, Marcinho se abaixa e cabeceia certeiro. Gooooooooooolllllllllllllll!
O mandinguento joga o corpo para trás, coloca as mãos na nuca e assiste o espetáculo da maravilhosa torcida. Olha para os céus e agradece. Só falta agora acender uma vela.

Nenhum comentário:

Postar um comentário