Chego ao frigorífico, leio página de
esportes pronta para abraçar uma alcatra e fico sabendo que o Paraná arrendou
os salões de festas da sede da Kennedy por 20 anos, ao valor de 1 milhão de
reais por ano. O que significa o arrendamento para os velhos que acompanham o
futebol da terra?
Simplesmente o fim da parcela Água
Verde no time da gralha.
Quando se uniram Colorado e Pinheiros para
formar o Paraná Clube, o vermelho da camisa entrou com nada, para não dizer com
nada, trouxe na bagagem a carcomida Vila Capanema, pendurada na justiça, e o
azul com a grana, com o patrimônio, com a lisura nas negociações.
Enquanto o dinheiro durou, o Paraná
teve seus momentos de glória, ganhou campeonatos regionais, trouxe felicidade à
infância de uma torcida que hoje, na maturidade, morre de saudades.
O dinheiro acabou, sumiu, desapareceu,
o patrimônio definhou, o time voltou ao status original de seus formadores, a
segunda linha do futebol paranaense. Vive mais para as manchetes do noticiário
econômico, atrasos de salários, greves de jogadores e funcionários, da crônica
policial, ex-presidente andou desviando os poucos caraminguás disponíveis, do
que para as páginas esportivas.
Por que escrevo sobre o Paraná, neste
espaço destinado ao Rubro-negro do meu coração? Por que tenho pena da
italianada do Água Verde, do leão da Vila Guaíra. Aquela gente lutou pelo
crescimento do clube, criou o parque aquático, a sede social, para comprar um
lápis fazia uma licitação, e hoje vê todo seu esforço ir para o beleléu.
Se você perguntar para qualquer um
deles, a opção seria pelo fim do futebol, nunca do clube que lutaram para
construir. Sentem-se enganados.
Com um milhão de reais por ano não se
faz futebol no Brasil. A diretoria que não quis alugar a Vila Capanema para o
Atlético, fez beicinho, entrega o patrimônio que construiu para terceiros se
refestelarem, e promete entregar mais, a Vila Olímpica e a herança do saudoso
Palestra Itália, outro italiano.
O Paraná pensa viver de aluguel, sem
sequer ter casa para morar. Quando vejo a foto dos atuais dirigentes festejando
a parceria, penso que comemoram a morte do Água Verde, do Pinheiros, a raiz
forte que segurou a onda por muito tempo. Se eu fizesse parte dessa gente,
teria uma forte dor na consciência.
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