sexta-feira, 6 de maio de 2016

HARE KRISHNA

Com a certeza do título resisti a voltar ao encontro de Madame Rosa Regina. Fiquei vagabundeando pelo apartamento, espiando a Magnífica pela janela, lembrando os lances memoráveis do domingo que passou, imaginando Paulo André recebendo a taça maravilhosa, a volta olímpica, a cidade rubro-negra em festa, o jogo das faixas marcado em importante partida do Brasileiro.

Resisti, resisti, mas voltei. Repetiram-se os mesmos passos. O encontro de brecha na agenda lotada, a impaciência na sala de espera, amenizada pelos cheiros dos incensos indianos, o abrir da porta, a minha entrada triunfal na sala onde o futuro incerto se transforma em certeza a um apertar de têmporas. “E então, acertei?”, perguntou Madame RR. “A Madame sabe que sim, acertou em cheio”, respondi, “agora quero saber o resultado de domingo”.

Madame sentou em sua cadeira almofadada e abriu a caixa de madrepérola, tirou dela o baralho de tarô. Embaralhou, esparramou sobre a mesa e me mandou tirar três cartas, deixando-as viradas. Abriu a primeira. “O Mágico. Esta carta diz que se tem na mão todo o necessário para o sucesso, inclusive a competência e a habilidade mental para o alcance das metas ambicionadas”, explicou. Abriu a segunda. “A Força. Energias favoráveis, pleno poder perante as circunstâncias e fortes possibilidades de sucesso”. Faltava a última.

Abriu. Um menino segurava o Sol sobre a cabeça. “O Sol. O Sol representa a glória, o brilho, o sucesso – puxou forte a respiração –, quando esta carta sai num lançamento, dissipa dúvidas, traz certezas e segurança. A vitória está praticamente certa”. Olhou para mim com jeito de mãezona e perguntou: “Satisfeito filho?”. Eu não estava satisfeito, eu delirava, ao fundo, bem ao fundo, os Beatles cantavam Hare Krishna.

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