Com a certeza do título resisti a
voltar ao encontro de Madame Rosa Regina. Fiquei vagabundeando pelo apartamento,
espiando a Magnífica pela janela, lembrando os lances memoráveis do domingo que
passou, imaginando Paulo André recebendo a taça maravilhosa, a volta olímpica,
a cidade rubro-negra em festa, o jogo das faixas marcado em importante partida
do Brasileiro.
Resisti, resisti, mas voltei.
Repetiram-se os mesmos passos. O encontro de brecha na agenda lotada, a
impaciência na sala de espera, amenizada pelos cheiros dos incensos indianos, o
abrir da porta, a minha entrada triunfal na sala onde o futuro incerto se transforma
em certeza a um apertar de têmporas. “E então, acertei?”, perguntou Madame RR. “A
Madame sabe que sim, acertou em cheio”, respondi, “agora quero saber o
resultado de domingo”.
Madame sentou em sua cadeira
almofadada e abriu a caixa de madrepérola, tirou dela o baralho de tarô.
Embaralhou, esparramou sobre a mesa e me mandou tirar três cartas, deixando-as
viradas. Abriu a primeira. “O Mágico. Esta carta diz que se tem na mão todo o
necessário para o sucesso, inclusive a competência e a habilidade mental para o
alcance das metas ambicionadas”, explicou. Abriu a segunda. “A Força. Energias
favoráveis, pleno poder perante as circunstâncias e fortes possibilidades de
sucesso”. Faltava a última.
Abriu. Um menino segurava o Sol sobre
a cabeça. “O Sol. O Sol representa a glória, o brilho, o sucesso – puxou forte
a respiração –, quando esta carta sai num lançamento, dissipa dúvidas, traz
certezas e segurança. A vitória está praticamente certa”. Olhou para mim com
jeito de mãezona e perguntou: “Satisfeito filho?”. Eu não estava satisfeito, eu
delirava, ao fundo, bem ao fundo, os Beatles cantavam Hare Krishna.
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