quinta-feira, 28 de abril de 2011

RUBRO-NEGROS DE AÇO

Segunda-feira, minha caixa de emails amanheceu uma horta. Todos os coxas conhecidos, e até alguns desconhecidos, resolveram usar suas criatividades para testar a paciência deste valente rubro-negro.
Ervilhas brincalhonas, adolescentes e mal-educadinhas couves de Bruxelas, insossos pepinos, intragáveis pimentões apaixonados pelo Marcelo, grisalhos alhos-porrós morrendo de amores pelo Petraglia do CEASA, pés de alface ditando sabedoria sobre tática – coitadinhos, vão ter que sofrer muita rega –, deixaram suas mensagens. Saboreei as divertidas, admirei as criativas, entendi as amargas escarolas, deletei e fui para a cozinha.
A ida ao varejão deixara a gaveta inferior da geladeira lotada de folhas verdejantes, como o treme-treme em dia de entrada permitida com lata de Nescau. Chamei minha cozinheira profissional e pedi para fazer uma salada completa, as foliáceas acomodadas suavemente sobre leito constituído de um saboroso molho cor de esmeralda, cuja receita darei ao final do texto.
Comi como um tamoio comeria náufrago português lançado às atlânticas margens deste nosso Brasil de escândalos e trambiques. Lambi os beiços, levantei o cálice de vinho chileno amadeirado com traço de frutas vermelhas acima da cabeça, em sinal de vitória, e tomei com gosto, encerrando ali o luto pela derrota.
À tarde, resolvi visitar amigo corinthiano que há muito me convidara para conhecer seu local de trabalho, uma trepidante empresa em Araucária.
Passeei entre as grandes instalações, entendi os processos, tomei um cafezinho delicioso e fui encaminhado ao coração do empreendimento, o alto-forno onde se produz o aço que alimenta a indústria nacional.
O calor dos infernos, os vapores emanados e o rubro do aço liquefeito a borbulhar como lava de vulcão desperto revelavam a rusticidade do trabalho e a fortaleza dos operadores. Os capacetes com viseiras, as roupas grossas, as pesadas botas fazem parte do equipamento de segurança obrigatório dos guerreiros do aço.
Junto a eles, no chão da fábrica, uma jaqueta entreaberta me chamou a atenção. Por baixo de toda aquela grossa indumentária resistia uma camisa rubro-negra, um coração escancarado para a luta contra a meia-dúzia de brócolis que certamente infernizavam seu dia naquele purgatório.
Tive que falar com ele, ouvir suas reclamações contra a arbitragem, “volantes que se alternam para expulsar nossos jogadores” contra o Coritiba, “um dia o careca, outro dia o Evandro”. Ri com a justa comparação e lembrei do dito, “contra o inimigo, o regulamento”. Proseei um pouco e outros atleticanos começaram a aparecer, vaidosos, certos da grandeza do Furacão. Foram três minutos de incomum alegria junto ao povo rubro-negro em tarde de velório.
Voltei para casa orgulhoso da nossa siderurgia e certo de ter conhecido uma nova qualidade de valentes rubro-negros.
Os rubro-negros de aço.
RECEITA DE MOLHO PARA SALADA
Ingredientes
- um maço de manjericão
-50 ml de azeite de oliva
- um dente de alho
- sal e pimenta a gosto
Modo de preparo: bata no liquidificador e está pronto.
Sirva em saladeira com alguma profundidade, despejando o molho no fundo, cama para tomates diversos – italianos, secos, os pequeninos cereja, etc –, e berinjelas e abobrinhas cortadas em fatias, e grelhadas.
Alimentos verdes são bons para a saúde. Para dar sabor à vida, os vermelhos e levemente tostados são os mais indicados.
Chef Star

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