quinta-feira, 21 de abril de 2011

SEMPRE É BOM PREVENIR

– Vão ganhar hoje? – pergunta um baixinho com o sorrisão escancarado, ao me ver com minha linda camisa rubro-negra, pronto para o jogo, esperando-o à porta para receber a encomenda.
– Hoje e domingo – respondo com a minha certeza de valente rubro-negro.
– Espero que esse remédio aí seja para dor de cabeça, por que domingo quem vai ganhar é o coxa –, disse com a imensa boca aberta. Não é que o miserável era um pé de alface.
– Vocês estão pensando que o Atlético é o Caxias, ou esses times paranaenses, mulheres de malandro, que gostam de perder para vocês, que levam gol no primeiro minuto, os goleiros sempre tomam um de fora e, quanto mais pancada levam, mais felizes ficam? – O baixinho risonho queria responder, mas tinha pressa, ganhava o sustento da família, correndo de moto.
– Vamos ver, acho que vai dar de novo 4 a 2 – Tive que rir.
– Espera aí – Entrei, abri a caixa nova de aspirina, peguei duas e dei a ele junto à gorjeta graúda. – Pega essas duas pequeninas e toma antes do jogo de domingo, só para te livrar do infarto. – Os dentes apareceram todos novamente, agradeceu com os olhos brilhando, desejei saúde e bom trabalho, e ele desapareceu no elevador, cuja porta segurava com o pé.
Voltei à caixinha mágica, tomei uma e fui para a Baixada, pensando no Bahêa, acreditando que a pílula pudesse ajudar meu coração, mais frechado do que talba de tiro ao alvaro.
Nem precisou. Aos quarenta do primeiro tempo, já estava quatro a zero e eu me beliscava para acordar do sonho, que não era sonho, era a mais pura e inacreditável realidade.
Nem todas as mandingas do mundo poderiam ter salvo o Bahêa. O Atlético foi intenso desde o primeiro minuto, jogou no ataque e usando sua fortaleza, a bola parada, contra a vulnerabilidade do tricolor de aço, a bola aérea, construiu o resultado com facilidade.
Na verdade, os baianos entraram em choque ao surgir no campo da magnífica Arena e tomarem contato com a poderosa torcida do Furacão. Ali começou a se desenhar a vitória.
Antes do primeiro gol, clara a estratégia de defender e contra-atacar do time da boa terra, confesso que fiquei um pouco preocupado com o posicionamento de Robert entre os nossos dois zagueiros jogando em linha, sem qualquer cobertura. Se isso se repetir contra os coxas, estaremos em perigo.
Com os laterais chegando ao ataque, Branquinho e Baier fazendo a ligação, e Guerron e Adailton se alternando pelos lados, o Atlético confundiu a marcação, dificultou a saída baiana e foi recebendo as faltas e escanteios geradores da maioria dos gols. O de Adailton, roubando a bola, entrando na área pela esquerda e colocando-a com maestria longe do alcance do goleiro, a cereja do bolo. Justa a felicidade do menino, a boca maior que a do meu entregador de farmácia.
Gostei de Baier, um pintor de gols, e de Deivid, só para escalar dois de um time de notas oito.
Importante ressaltar. Quando Adilson resolveu substituir entraram Wendel, Madson e Lucas, todos jogadores de qualidade e experiência. Um pecado o chute de Lucas na trave.
Uma observação. Guerron, com toda a velocidade que tem, gosta de se aproximar do lateral para driblar, quase que parando à sua frente. Se tocasse a bola de primeira, longa, e saísse em disparada, nem o Usain Bolt, o filho do vento, iria alcançá-lo.
Tenho certeza que lá pela meia noite, o entregador de farmácia soube o resultado e ganhou um ar de preocupação. Passou a mão no bolso da camisa e sentiu as duas aspirinas. É bom tê-las à mão. Contra o Furacão, sempre é bom prevenir.

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