sábado, 12 de maio de 2012

SÁIMOS NA FRENTE


O noticiário aponta para a presença de Rafinha no clássico. Entro no prédio e puxo conversa com o meu porteiro coxa, falo no recuperado e ouço algo surpreendente: “O Rafinha nunca jogou bem contra o Atlético”. Os olhos do amigo mostram preocupação, ri tentando sair do baixo astral incompreensível e conclui esperançoso: “Temos que confiar no Carrasco, as substituições dele nos salvaram nos outros jogos”. O elevador chega e entro pensativo nas afirmativas do sábio de uniforme.

Dentro da cabine de aço inoxidável encontro outro coxa, outro boa gente, infeliz na escolha, mas boa gente. Um homem sério. Segue papo sobre viagem para a Europa que grupo de amigos fará ainda este mês. O Atletiba fica fora de foco até o elevador parar para a descida do verde viajante. Aberta a porta cutuco: “E o jogo?” A resposta é curta: “Confiamos no Guerrón”.

Chego em casa e vou para a varanda assistir o fim de tarde com a Arena em primeiro plano, um entardecer chuvoso, cinza, nebuloso como as afirmações dos coxas, para meu juízo estranhamente tensos.

A neta aparece no colo da avó e, estimulada pela mãe duas vezes, manda um beijo estalado para o velho pensativo. Na cabeça de nove meses uma larga fita preta coroada por enorme flor vermelha torna os olhos azuis turquesa ainda mais intensos.

O estalo do beijo angelical aclara meus pensamentos. Os coxas confiam nos erros do Atlético para vencer a partida. Desconfiam do seu melhor jogador. Concluo. O pequeno universo da torcida coxa ao pé da obra não tem fé no time, suspeita do treinador, receia o mau resultado dentro de casa.

Por quê? A virada no jogo passado assustou o torcedor alviverde confiante demais no time do seu Marcelo? A certeza absoluta de que o Atlético faz gols em todas as partidas lança sombras? A ideia de que o Rubro-negro tem perdido os clássicos vítima de seus próprios erros cria dúvidas? A consciência envergonhada pela chegada à final com o  real subsídio da arbitragem abala a crença?

O amigo pode ajudar com suas conjecturas. Certo é que o torcedor coxa perdeu a fé. Viu o jogo em Minas e tomou um susto. Sabe que o Atlético tem praticamente dois ataques para buscar a vitória. Vê Vanderlei tremendo embaixo das traves, Demersom um buraco na defesa, Tcheco com a cabeça em declarações pós-jogo, Rafinha um recuperado sem vigor para o clássico.

O sentimento do torcedor é termômetro eficaz. O coxa canta vitória e esconde no peito sentimento depressivo. O atleticano fala em campeonato e confia na ótima fase, nos tantos meninos cansados de ganhar do coxa nas divisões de base.

O neto chega da escola e lamenta o tempo ruim, não podemos descer para o futebol de fim de tarde. Ontem, representando o Atlético, vencemos por nove a zero a América Latina. Donde ele tirou essa América Latina não sei. Não me pergunte. Eu só ajudo. O guri já nasceu CapGigante.

Se você me perguntar sobre o resultado do clássico, tenho uma resposta fácil. Na cabeça da torcida, saímos na frente.

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