O noticiário aponta para a presença de Rafinha no clássico.
Entro no prédio e puxo conversa com o meu porteiro coxa, falo no recuperado e
ouço algo surpreendente: “O Rafinha nunca jogou bem contra o Atlético”. Os
olhos do amigo mostram preocupação, ri tentando sair do baixo astral
incompreensível e conclui esperançoso: “Temos que confiar no Carrasco, as
substituições dele nos salvaram nos outros jogos”. O elevador chega e entro
pensativo nas afirmativas do sábio de uniforme.
Dentro da cabine de aço
inoxidável encontro outro coxa, outro boa gente, infeliz na escolha, mas boa
gente. Um homem sério. Segue papo sobre viagem para a Europa que grupo de
amigos fará ainda este mês. O Atletiba fica fora de foco até o elevador parar
para a descida do verde viajante. Aberta a porta cutuco: “E o jogo?” A resposta
é curta: “Confiamos no Guerrón”.
Chego em casa e vou para
a varanda assistir o fim de tarde com a Arena em primeiro plano, um entardecer
chuvoso, cinza, nebuloso como as afirmações dos coxas, para meu juízo
estranhamente tensos.
A neta aparece no colo
da avó e, estimulada pela mãe duas vezes, manda um beijo estalado para o velho
pensativo. Na cabeça de nove meses uma larga fita preta coroada por enorme flor
vermelha torna os olhos azuis turquesa ainda mais intensos.
O estalo do beijo angelical
aclara meus pensamentos. Os coxas confiam nos erros do Atlético para vencer a
partida. Desconfiam do seu melhor jogador. Concluo. O pequeno universo da
torcida coxa ao pé da obra não tem fé no time, suspeita do treinador, receia o
mau resultado dentro de casa.
Por quê? A virada no
jogo passado assustou o torcedor alviverde confiante demais no time do seu
Marcelo? A certeza absoluta de que o Atlético faz gols em todas as partidas
lança sombras? A ideia de que o Rubro-negro tem perdido os clássicos vítima de
seus próprios erros cria dúvidas? A consciência envergonhada pela chegada à
final com o real subsídio da arbitragem
abala a crença?
O amigo pode ajudar com
suas conjecturas. Certo é que o torcedor coxa perdeu a fé. Viu o jogo em Minas
e tomou um susto. Sabe que o Atlético tem praticamente dois ataques para buscar
a vitória. Vê Vanderlei tremendo embaixo das traves, Demersom um buraco na
defesa, Tcheco com a cabeça em declarações pós-jogo, Rafinha um recuperado sem
vigor para o clássico.
O sentimento do torcedor
é termômetro eficaz. O coxa canta vitória e esconde no peito sentimento
depressivo. O atleticano fala em campeonato e confia na ótima fase, nos tantos
meninos cansados de ganhar do coxa nas divisões de base.
O neto chega da escola e
lamenta o tempo ruim, não podemos descer para o futebol de fim de tarde. Ontem,
representando o Atlético, vencemos por nove a zero a América Latina. Donde ele
tirou essa América Latina não sei. Não me pergunte. Eu só ajudo. O guri já
nasceu CapGigante.
Se você me perguntar
sobre o resultado do clássico, tenho uma resposta fácil. Na cabeça da torcida,
saímos na frente.
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