Até os 40 do segundo tempo, quando decidi abandonar o campo, assisti a
um dos Atléticos mais desorganizados de todos os tempos. E olhem que eu vi
coisas terríveis. Fossem as regras que regem a permanência de um treinador de
Sub-23 as mesmas que prevalecem para o semelhante da equipe titular, o seu
Bernardes estaria com o emprego em risco.
O Atlético foi amplamente dominado pelo Toledo, em nenhum momento teve
algum predomínio, trocou quatro passes, articulou jogada que pudesse incomodar
a defesa do porco. Aos trinta minutos ainda da primeira fase cabiam no mínimo
duas substituições, alguns jogadores mostravam-se visivelmente fora do jogo,
sem condições de contribuir sequer com a marcação.
O empate acontece na bola aérea bem aproveitada por Crislan. Fico
imaginando que os dois gols do Toledo impactaram os meninos, razão do caos
observado em campo. Penso que o empate e a palavra do vestiário vão colocar
ordem na casa, o segundo tempo será melhor.
Amigos, nem pensar. Jogado na defesa o Atlético sofre, o Toledo perde
gols. No ataque o bom Douglas Coutinho tenta resolver sozinho, solidário volta
para a defesa para marcar, cortar cruzamentos, o onze está em todo o campo.
Marcos Guilherme entra com o mesmo espírito, jogar em toda parte, defender,
atacar, enfim, ver se quebra o galho de pau ferro. Aos trinta entra Harrison,
ali pela meia esquerda, em poucos minutos coloca Héracles por três vezes livre
pelo lado, dois cruzamentos mal executados, um chute a gol para fora.
Acendeu-se uma luz. Aos 40 entra Edigar Junio. Outra luz.
Dá-se a impressão que o treinador começa a escalar pelo banco.
“Harrison, você sabe jogar, vai para o banco. Marquinhos, você também. Edigar,
senta ali. Agora vamos ver quem vai para a escolinha”. O jogo uma peneirada
valendo três pontos e a paciência da torcida. Só não entendo o por quê de
colocar Zezinho para carregar o piano indefinidamente. Por que só ele não tem
vaga no banco?
Saio do Ecoestádio com a entrada de Edigar. No portão ouço a torcida
gritar o gol de Crislan. Sigo propositalmente quieto, devagar, ouvindo o
praguejar dos passantes, o reclamar de tudo aquilo que vi, sem poder para
advogar a causa de ninguém. O torcedor está cheio de razão.
O time ganhou porque em meio à selva luta com unhas e dentes. Sem norte,
é forte, sendo forte, tem sorte.
Chegando ao automóvel vejo o guardador ser esquecido pelo rubro-negro à
minha frente, tão aborrecido que nem moedinhas sobraram para o vigilante. Então
entendo tanta fé no Furacão. É fé necessária. Se com a vitória o bendito
trocado não cai, perdendo vai dormir de barriga vazia.
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