quarta-feira, 19 de junho de 2013

PERDER O SONO

Estou em Ciudad de Mexico. Depois de comprar artesanias na Ciudadela, pego um táxi no Paseo de La Reforma e toco para casa da filha para ver o jogo do Brasil. Cidade de 20 milhões de habitantes, um tráfego pesadíssimo, todo deslocamento dura de hora para mais. No caminho vou conversando com o motorista, falando da história do México, um país que não foi descoberto, já existia como povo, tinha uma cultura rica, muito bem demonstrada nas pirãmides e no maravilhoso Museo de Antropologia.

Passamos por um outdoor onde Chicharito Hernandez faz propaganda de aparelho de barba e aproveito para perguntar sobre a Tri, a tricolor, é assim que chamam a seleção nacional na terra de toltecas, astecas, maias e tantas outras raças que povoaram este país abalado por terremotos. Outro dia acordei estremecido por um de intensidade 6.0. Mais intimidante que um final de jogo do nosso Furacão.

O rapaz chora as pimentas, reclama do treinador, fala dos maus resultados na Concacaf, não tem esperanças contra o Brasil. Vou elogiando, falando do passado com Hugo Sanchez, de Giovani dos Santos, de Chicharito, enchendo a bola do condutor que me vai cobrar em pesos o que lhe der na cabeça, não há taxímetro no velho Nissan que atravessa sinais vermelhos, toureia os luxuosos carros da nata mexicana. Comparando preços de veículos aqui com os do Brasil dá vontade de chorar. Pagamos uma fortuna por micro-carros.

Chego a tempo de almoçar, aqui se almoça às duas da tarde, hora local do início do jogo, e ver o começo fulminante do Brasil, o gol de Neymar. O comentarista mexicano chega a pedir faltas, algo que impeça o Brasil de jogar, teme a goleada. O tempo passa e a "tri" domina, faz um final de primeiro tempo claramente superior, o pessoal do "fútbol picante" vai se entusiasmando, acreditando no empate. Vendo o mesmo jogo dos mexicas, torço pelos 45 minutos, alguma orientação de Felipão que nos tire da roda.

De alguma forma, o Brasil sai da pressão, transforma o jogo numa grande pelada, não consegue jogar, pero também deixa de levar sustos, embora a avenida Don Marcelo seja convite ao desespero. Feiipão faz as substituições de praxe, que nada resolvem, o jogo coletivo inexiste, o gol de Jô é apenas o coroamento da bela jogada individual de Neymar. Nada a comemorar.

Por que fomos tão mal? Na minha opinião temos um esquema estático demais, os jogadores pouco se movimentam, não se apresentam para jogar, a marcação é facil, a retomada da bola imediata. Sem movimentação as opções são poucas, o passe fica difícil, volta para o zagueiro, para Julio Cesar, então o chutão para frente, bola nos pés dos mexicas novamente.

O que se viu de bom. Nada além do placar que nos possibilita passar de fase, continuar a jogar, treinar, algo extremamente necessário. Claro que Neymar brilhou e em dois lances salvou a Pátria. Os mexicas colocam a culpa no calor do segundo tempo, enaltecem o controle do jogo no primeiro, diminuem a pressão sobre o treinador.

Felipão não é tolo, sabe que o time foi mal, viu o domínio do toque-toque mexica, a individualidade se sobrepor ao passe óbvio para o artiheiro Fred, as substituições fracassarem. Vai dormir com a pulga atrás da orelha. Não é um terremoto, mientras tanto dá para perder o sono.

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