sexta-feira, 28 de março de 2014

MENINOS COMILÕES

Moro num 13º andar com vista privilegiada para os fundos da Arena magnífica. Administro a obra da minha janela, uma olhada no texto, troca uma vírgula por um ponto, uma sapeada no comentário do amigo que acha que o resultado do jogo de quarta deveria ser sete a três Furacão, uma espiada na obra, o guindaste se moveu, mais uma viga colocada, quando de repente, há vida no colosso.

Fixo os olhos, coloco os óculos e o que imagino é verdade. Alguém testa o telão da Buenos Aires. As imagens se agitam, algo que não consigo precisar, e em instantes aparece o símbolo do Atlético num fundo branco, inconfundível a uns seiscentos metros de distância. Largo tudo, giro a cadeira no sentido Arena e fico saboreando a novidade até o apagar da tela. Uma beleza, mal posso esperar o sábado para adentrar ao templo e me encharcar de encantamento.

Depois do almoço dos noventa anos em que revi o Adriano, o Assis, o Sicupira, o Alfredo, o Jackson, o Gustavo, o Luisinho Neto e grandes amigos atleticanos, os jogos de sábado serão o coroamento desta semana de intensas vibrações.

Só rever o Sicupa, o craque da camisa oito de tantos gols, o Assis do fantástico time de 83, o Adriano do campeão de 2001, o Jackson inventor do Furacão já valeu o ingresso. Sentar à mesa de uns meninos com aquela fome que todos temos aos dezoito anos, tão envolvidos com o Furacão, ouvi-los falar com esperança do jogo noturno foi um carinho para o meu velho coração, uma felicidade saber que eles vivenciarão o Atlético gigante.

Devem ter saído do jogo com a alma arrasada, como eu saí em tantos jogos na minha juventude, comendo um último pão com bife para acalmar o estômago revirado. É assim que funciona. Perde-se, ganha-se, queremos a utopia, o ganhar sempre, a derrota nos incomoda, às vezes sinaliza o fim do sonho, é duro ver morrer o sonho.

Para o atleticano o sonho está vivo. Num mundo em evolução tecnológica constante, o Atlético evolui, cresce, prepara-se para o futuro no ritmo alucinante da vida moderna, o telão está lá para provar.

Esses meninos assistirão jogos sensacionais, finais emocionantes, levantarão taças e lamentarão derrotas. É assim que a banda toca, as maçãs são poucas, as bocas muitas, o negócio é persistir, gastar a voz nas arquibancadas, um dia, quando menos se espera, uma maçã das mais saborosas cai na nossa boca.

O importante é que o Atlético se aparelha para a vitória. Se eu que parti do nada, vi o Furacão campeão brasileiro, vice da Libertadores, imaginem esses meninos comilões.

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