quarta-feira, 19 de março de 2014

TEM QUE GANHAR

O amigo mais novo não vai acreditar, mas já houve tempo em que os treinadores ficavam sentadinhos no banco de reservas, usavam o intervalo e as substituições, quando se tornaram possíveis, para dar jeito no time. Eram treinadores, treinavam o time durante a semana, distribuíam as camisas e orientavam os jogos sem estrelismos.

Dizem que Feola, técnico da seleção campeã em 58, dormia no banco. Uma lenda, óbvio, dormir com aquele timaço em campo era uma impossibilidade física, mesmo que o gorducho sofresse de pressão baixa e tivesse acabado de arrematar feijoada poderosa no almoço da concentração.

É difícil para o jovem acreditar, e eu entendo perfeitamente, não tivesse vivido o passado, tivesse começado a ver futebol de alguns anos para cá, em que o treinador parece mais um boneco de posto, possesso a indicar quem deve receber o lateral, empurrar o volante para o ataque, usar todos os dedos da mão para apontar ações a realizar.

Já ouvi Falcão, o rei de Roma, contando história de treinador do Inter, um desses berradores de lado de campo. Para alívio dos colorados, o professor foi expulso, mas continuou berrando, escondidinho atrás da casamata. Assim, como quem não quer nada, jogador se aproximou do homem de preto e cochichou a posição do infeliz, finalmente afastado pelo apito salva ouvidos.

Eu fico só imaginando. Você pega na bola e o cara grita “Vira! Vira!”, você vira, o adversário corta teu lançamento e lá vem ele de novo “Volta! Volta!”, sebo nas canelas, “Marca! Marca!”, o condutor da bola está ao seu alcance, “Faz a falta! Faz a falta!”, você faz a falta, leva o vermelho, tira a camisa, dá para o boca de ferro e vai para o vestiário feliz da vida. Fim do tormento.

O treinador assumiu lugar no palco que nunca foi dele, passou a ser estrela, vedete da companhia. Entendo que a possibilidade de estar ao lado do campo, orientar, não se pode jogar fora, mas alguns passam dos limites, atrapalham os jogadores no difícil trabalho de parto que leva ao gol.

Por que entrei nesse papo sem Atlético. Porque gosto da postura de Don Miguel. Tem um time treinado, um esquema claramente definido, poucos chiliques à beira do campo, eu gosto. Infelizmente para ele, o meu gostar é um grão de areia no oceano, Don Miguel tem que ganhar,

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