Dizem que Feola, técnico
da seleção campeã em 58, dormia no banco. Uma lenda, óbvio, dormir com aquele
timaço em campo era uma impossibilidade física, mesmo que o gorducho sofresse
de pressão baixa e tivesse acabado de arrematar feijoada poderosa no almoço da
concentração.
É difícil para o jovem
acreditar, e eu entendo perfeitamente, não tivesse vivido o passado, tivesse
começado a ver futebol de alguns anos para cá, em que o treinador parece mais um
boneco de posto, possesso a indicar quem deve receber o lateral, empurrar o
volante para o ataque, usar todos os dedos da mão para apontar ações a realizar.
Já ouvi Falcão, o rei de
Roma, contando história de treinador do Inter, um desses berradores de lado de
campo. Para alívio dos colorados, o professor foi expulso, mas continuou
berrando, escondidinho atrás da casamata. Assim, como quem não quer nada,
jogador se aproximou do homem de preto e cochichou a posição do infeliz,
finalmente afastado pelo apito salva ouvidos.
Eu fico só imaginando.
Você pega na bola e o cara grita “Vira! Vira!”, você vira, o adversário corta
teu lançamento e lá vem ele de novo “Volta! Volta!”, sebo nas canelas, “Marca!
Marca!”, o condutor da bola está ao seu alcance, “Faz a falta! Faz a falta!”,
você faz a falta, leva o vermelho, tira a camisa, dá para o boca de ferro e vai
para o vestiário feliz da vida. Fim do tormento.
O treinador assumiu
lugar no palco que nunca foi dele, passou a ser estrela, vedete da companhia.
Entendo que a possibilidade de estar ao lado do campo, orientar, não se pode
jogar fora, mas alguns passam dos limites, atrapalham os jogadores no difícil
trabalho de parto que leva ao gol.
Por que entrei nesse
papo sem Atlético. Porque gosto da postura de Don Miguel. Tem um time treinado,
um esquema claramente definido, poucos chiliques à beira do campo, eu gosto. Infelizmente
para ele, o meu gostar é um grão de areia no oceano, Don Miguel tem que ganhar,
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