A escola está pronta para iniciar o desfile, a repórter conversa
com o menino vestido em prata da cabeça aos pés, pede para ele mostrar sua
dança e o saci de duas pernas vira um capeta, mexe as perninhas a jato, balança
as cadeiras, levanta os braços para emoldurar sua arte, sorri feliz como em
noite de Noel.
Fico imaginando o treinamento desse menino. Cones de diversas
cores são distribuídos pela sala, um apito é soprado e ele, disciplinado como
chinês do cirque du soleil, sai trocando as pernas, tomando broncas, até ganhar
a agilidade demonstrada em rede nacional. Claro que não. A arte do menino é um
dom, ele vê o mais velho, copia, o talento natural o faz atingir níveis
inimagináveis com alegria de dentes largos e brilhantes.
Passo pela praça que recebe minhas caminhadas e vejo menino pouco
mais velho que o meu sambista ao comando de um “coach” que pretende lhe ensinar
futebol. Os cones estão por toda parte. O apito soa e o talentoso segue o
circuito desenhado na quadra velha, pula, gira, saracoteia, o exigente vai
cobrando velocidade, agilidade, todas as “dades” do craque imberbe cansado e
sem alegria.
Olho e lembro meus tempos de piá. Pedras catadas faziam dois gols
no meio da rua e a pelada comia solta, grossura e talento forjados entre o raro
passar dos carros. Imitados em cada gesto, Rivelino, Pelé, Bellini, todos
estavam presentes. Os joelhos ralados, as canelas roxas davam o colorido
sanguíneo ao entrevero. Ao final, todos ao boteco tomar Chicabon. Por muito
tempo as pedras catadas forjaram craques maravilhosos. Acabou. Amigos, que
saudades. Como era bom.
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