domingo, 15 de fevereiro de 2015

COMO ERA BOM

A escola está pronta para iniciar o desfile, a repórter conversa com o menino vestido em prata da cabeça aos pés, pede para ele mostrar sua dança e o saci de duas pernas vira um capeta, mexe as perninhas a jato, balança as cadeiras, levanta os braços para emoldurar sua arte, sorri feliz como em noite de Noel.

Fico imaginando o treinamento desse menino. Cones de diversas cores são distribuídos pela sala, um apito é soprado e ele, disciplinado como chinês do cirque du soleil, sai trocando as pernas, tomando broncas, até ganhar a agilidade demonstrada em rede nacional. Claro que não. A arte do menino é um dom, ele vê o mais velho, copia, o talento natural o faz atingir níveis inimagináveis com alegria de dentes largos e brilhantes.

Passo pela praça que recebe minhas caminhadas e vejo menino pouco mais velho que o meu sambista ao comando de um “coach” que pretende lhe ensinar futebol. Os cones estão por toda parte. O apito soa e o talentoso segue o circuito desenhado na quadra velha, pula, gira, saracoteia, o exigente vai cobrando velocidade, agilidade, todas as “dades” do craque imberbe cansado e sem alegria.

Olho e lembro meus tempos de piá. Pedras catadas faziam dois gols no meio da rua e a pelada comia solta, grossura e talento forjados entre o raro passar dos carros. Imitados em cada gesto, Rivelino, Pelé, Bellini, todos estavam presentes. Os joelhos ralados, as canelas roxas davam o colorido sanguíneo ao entrevero. Ao final, todos ao boteco tomar Chicabon. Por muito tempo as pedras catadas forjaram craques maravilhosos. Acabou. Amigos, que saudades. Como era bom.


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