quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

TALVEZ DA GLÓRIA

A chuva cai copiosa sobre a Sapucaí. A baiana vem rodopiando e capota como caminhão em ladeira. Solução para o problema? Teto retrátil. A Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro tem que contatar o mais rápido possível o nosso Petraglia, providenciar a cobertura da rua famosa, acabar com o desmilinguir de penas caríssimas, o furar dos surdos, o fim das cuícas, o pavor dos passistas.

Acaba o problema com São Pedro e corre-se o risco dos carros engastalharem no teto deslizante, o destaque ficar pendurado na estrutura, necessário um rapel para descer Cleópatra agarrada em tubos, parte do insuperável enredo “de como a víbora do Nilo pôs fim ao amor de César e Marco Antônio no esplendor da Sapucaí”.  

Para manter a harmonia, Cleópatra deslizará rapel abaixo remexendo as cadeiras, movendo os braços como figura de mural hindu, os dentes branqueados de véspera mostrando sorriso que encobre o terror apavorante. Pezinhos no chão, a serelepe rainha sapateará como gato em chapa quente, o Coliseu aplaudirá em pé, a câmera indiscreta pegará a lágrima furtiva do desdentado torcedor.

O carnaval acabou. Voltamos à bola. O Furacão volta da Europa com resultados pouco animadores, discurso de campeão na avenida. De certo para o ano só o teto retrátil. No futebol é tentar um desfile sem erros, sapecar um dez na harmonia. Sem as lágrimas do drama, talvez da glória.

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