sexta-feira, 23 de setembro de 2011

AINDA DÁ

Estabeleceu-se um tiroteio entre os que, de porrete na mão, procuram os culpados pelo terrível insucesso do Atlético neste infeliz 2011, quando completaremos dez anos do nosso título de campeão brasileiro. Uns atacam a diretoria, outros os jogadores. Ambos estão cheios de razão, todos tem culpa, todos devem ser condenados pelos pecados que transformaram o Atlético numa Sodoma da bola.
O comandante Malucelli é o responsável pelo desastre, o gestor desta Sodoma. Inteligente já deve ter admitido o flagelo, nem olha para o campo, temeroso em ser transformado em estátua de sal. Com um pouco de consciência, estaria a meses sem dormir.
Mesmo Dan Brown, o escritor de Código Da Vinci e Anjos e Demônios, teria dificuldades para engendrar uma trama conspiratória tão espetacular como esta que nos leva ao túmulo. Tantos erros, tantas coincidências nefastas, tantos incompetentes assumidos na gerência do futebol rubro-negro, ali instalados sem se saber por que, não configuram apenas a realização de um trabalho de casa mal feito, como me disse o coxa babando de alegria, mas negligência, imprudência e imperícia, crime a ser registrado em triste boletim de ocorrência.
Os jogadores têm culpa? Claro que têm.
Um observador menos interessado perguntaria com ar ignorante: por que os jogadores do Atlético não trocam passes como os outros? Eu respondo. Porque não há união verdadeira. E exemplifico com outra pergunta: por que nos raros gols os abraços são tão poucos?
Não é a jogada individual que fortalece os laços entre os jogadores, cria a corrente que energiza o time. É o passe. O passe expressa a confiança no companheiro, assim como o apresentar-se para receber, o dar apoio ao cercado, o esforço superior para cobrir o ultrapassado. No Atlético, os jogadores não se apresentam nem para receber o lateral.
Ninguém venha me dizer que os rubro-negros são piores que seus colegas dos demais times do Brasileiro. Não são.
São jogadores no desvio, tentando um brilho solitário, uma jogada individual que os ilumine, prepare o caminho para futuro melhor. Assim, no ataque, o companheiro livre, surge o peteleco nos braços do goleiro. Assim, na frente do goleiro, a tentativa do gol tocado, bonito, quando o bico era o santo remédio. O individual acima do coletivo. Prioridade para os segundos na TV.
Até os jogadores já declararam ter colocado o time no buraco, os únicos a poder tirá-lo de lá. Demonstram lucidez na análise da situação. Falta-lhes coragem para resolver no campo de jogo. Reúnem-se, rezam, fazem juras e trotam pelo campo, insistindo no individual, sem qualquer objetividade. As lideranças se escondem, sem cobrar, nem estimular, quanto mais provocar o ânimo pelo exemplo, pela jogada corajosa, pela força no embate físico.
Que futebol é este que um senhor de idade tem que ficar à beira do gramado aos berros, empurrando elenco de muito bem pagos para que cumpram seus deveres com brio e valentia. Foram-se os tempos em que os técnicos dormiam no banco e deixavam para os atletas resolverem.
Não escrevo para jogar a pá de cal, para ser mais equânime na distribuição das culpas, para afundar ainda mais o moral já em pedaços. Escrevo por achar que ainda dá, a solução nos pés dos jogadores, os reais protagonistas do milagre se ele vier a acontecer.
Ainda dá se a união passar da palavra à ação. Se do trote surgir o galope, se o passe substituir a firula – substituída, jamais esquecida –, se o corpo for usado como arma de choque, se o ataque for prioridade coletiva. Enfim, se tivermos um time na real acepção da palavra, um grupo reunido, adestrado e motivado para a realização de objetivo comum.
Se isso acontecer, o amigo pode confiar, ainda dá. 

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