domingo, 3 de julho de 2011

FUTEBOL IGUAL À GUERRA

“O soberano poderá levar o exército à desgraça tentando comandá-lo da mesma forma que administra o reino, ignorando as condições inerentes no meio militar. Isso provoca a inquietação na mente dos soldados. Humanidade e justiça são os princípios com os quais se governa o Estado, não o exército. Oportunismo e flexibilidade são as virtudes a utilizar na condução das ações militares”
                                                                                                                                             Sun Tzu
O presidente ao assumir clube de futebol deverá ter bem claro que está entrando em mundo de decisões rápidas, onde o oportunismo impera e aquilo que foi dito hoje será provavelmente esquecido amanhã. A ética, indispensável ao grande estadista, não é boa companheira do dirigente futebolístico. Os exemplos reais são muitos e merecem ser assinalados.
Todos sabem que a busca do melhor treinador não arrefecerá ante a perspectiva de que a conquista fará desmoronar trabalho duramente levado a termo por outra agremiação. A investida ocorrerá com a única finalidade de se obter o melhor, custe o que custar. O dirigente sabe que aquele treinador que hoje aceita suas condições, amanhã poderá abandoná-lo por melhor proposta. Entende as regras do jogo. Seu objetivo único e imediato é o sucesso do seu reino.
Da mesma forma, a contratação de grande jogador exige que adversários sejam ultrapassados no tempo e na compensação financeira. As sondagens se iniciarão cedo, à revelia do clube que o acolhe, dentro do sigilo necessário a essas negociações. O fim desejado explodirá como uma bomba, desgastando todos os envolvidos. Não importa. Aquele que se melindrar nesse tipo de jogo, terá apenas insucessos. Sobrarão para ele os esforçados e os em fim de carreira, ambos investimento de futuro duvidoso.
A fraqueza financeira do adversário deverá ser aproveitada sempre. O jogador e seu empresário são mercadores por excelência. Irão para onde a paga for alta, onde outras portas mais interessantes possam ser abertas com superior destreza, independente da cor da camisa.
De forma alguma se deixará de aproveitar a ingenuidade dos dirigentes de outras equipes. Trocas de jogadores devem ser propostas, ofertando-se os menos capacitados em permuta do melhor qualificado. Avança-se em qualidade, desfazendo-se de medianos.
Em todos os sentidos, o futebol é jogo em que as portas devem ser mantidas abertas, procurando-se a flexibilidade e o oportunismo no comportamento.
O entendimento da sua capacidade relativa deve imperar na tomada de decisões. Se pequeno, estar de acordo com todas as normas capituladas em lei, não lhe dá certeza da vitória. Se de “tradição”, “grande”, o distanciamento da lei causará apenas parcos aborrecimentos. Alguém já disse que “em futebol tem coisas que a gente vê e coisas que a gente não vê”. A solução é manobrar para se tornar “grande”.
Estudar a situação, mover-se habilmente em terreno minado, perder pouco para ganhar muito, unir-se aos fortes esquecendo os fracos, utilizar todas as oportunidades para crescer, pouco importando a culpa emocional e financeira que cause, preocupando-se apenas em estar enquadrado na letra da lei, tudo isso, por mais impróprio que possa parecer, ainda é o jogo a ser praticado pelo presidente vencedor. A esperança é que um dia tudo se modifique. Por enquanto, o futebol ainda é igual à guerra.
(FUTEBOL IGUAL À GUERRA é artigo do Capítulo I – O SOBERANO PRESIDENTE – do livro SUN TZU E A ARTE DO FUTEBOL, de autoria de Ivan Monteiro, registrado na Biblioteca Nacional sob número 329.967 – livro 605 – folha 127 –, não publicado e em constante atualização)

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