quarta-feira, 14 de maio de 2014

ESPIAR A LUA

As nuvens apiedadas correram ao findar do dia para cobrir a cidade dos sorrisos, impedir que a ascendente e toda glamourosa lua plena se irritasse com a concorrência de seu terreno reflexo, a Arena magnífica.

A noite ganhou corpo, a irmã lua com sua autoestima protegida ganhou altura, saiu do quadro da minha janela, restou a brilhante caixa prateada para lembrar que hoje há jogo, tem fim a distância que o progresso necessário alongou uma imensidade, transformou em tempo o que era medido em metros.

Chegamos lá. Dia de voltar para casa, caminhar resoluto pela nova entrada, passar pela algaravia dos corredores, sentir seus cheiros doces e salgados, entrar no caldeirão abarrotado de luz, acomodar-se, apreciar o ritual da FIFA, emocionar-se.

Dia de reconhecer esforços desmedidos, noites insones, saúdes perdidas com armadilhas lançadas a cada passo do caminho, com indecisões só afastadas pela corda nos pescoços.

Dia de esperar vestígios do Atlético dos meus pensamentos a laborar na esmeralda grama, sem deixar que a bola afaste meus sentimentos da obra em arremate.

Sei que muitos se preocupam com a bola, os resultados. Eu também, sejamos sinceros, todos nos preocupamos. Minha preocupação ficará aquém das portas do maravilhoso templo.

Ficará para depois. Hoje vou à Arena para fazer festa, render homenagem, sentir orgulho e, se as nuvens permitirem, espiar a lua.

Nenhum comentário:

Postar um comentário