terça-feira, 21 de junho de 2011

ADILSON MERECE

Numa noite fria, conversando com rubro-negros de fé, prezado amigo foi enfático: “eu não gosto do Geninho”. A frase que poderia chocar a grande maioria dos atleticanos fãs do trabalho do campeão permaneceu no ar, sem contestações evidentes. Eu entendi perfeitamente o companheiro de friagem.
Referia-se ele aos métodos de trabalho de Geninho, do esquema preferencialmente utilizado, das suas entrevistas, da sua forma de conduzir o time à beira do campo. Só se pode contestar o treinador por seu trabalho, nunca sua individualidade como pessoa, para os mortais como nós, algo desconhecido, sobre o qual não temos qualquer acesso.
Treinadores são seres extraterrestres. Para realizar trabalho em que é desnecessário qualquer diploma, nem o do ensino fundamental, ganham 100 mil, 200 mil reais, pairam sobre a ralé ignara e rude como donos absolutos da verdade, escalam culpados para suas derrotas, esnobam jornalistas, falam de química, alguns sublinham suas fanfarronices com o conhecido “eu já joguei bola”, para eles, atestado de competência inequívoca.
Sem conhecer, ter visto de relance no shopping, conviver com alguém do seu círculo de amizades, impossível falar sobre o indivíduo. Falar sobre o rendimento do trabalho é possibilidade confortadora. Mantém-se o ser humano fora da disputa e atacam-se ou aplaudem-se os números reveladores da qualidade do serviço.
Quando os números de Geninho sofrem amadora análise ficam evidentes o Campeonato Brasileiro de 2001, o vice da Copa Sul-Minas em 2002 e o milagre da fuga da segunda divisão em 2009. Quando o time naufragou sob seu comando em 2010, após dois jogos no Brasileiro, Geninho foi virtuoso, pediu para sair, tinha consciência de que, com ele, trilharíamos o caminho das dificuldades. Voltou este ano, teve rendimento acima de 80% e foi demitido. Números são números. À vista desarmada, deu adeus ao rubro-negro íntegro como pessoa e vencedor como treinador. Está na história.
Os números de Adilson são horripilantes. Cinquenta dias já se passaram desde a última vitória. Com jogadores como Wagner Diniz, Rômulo, Wendel, Manoel, Kleberson, Cleber Santana, Paulo Baier, Madson, Branquinho e Guerron monta times que sequer chutam a gol. Ele próprio admite desempenhos sofríveis. Quando o repórter pergunta da sua situação no clube, responde “isso é com a diretoria”.
A tradução dessa frase de poucas palavras é “eu não abro mão da multa rescisória”. Adilson ficará até ser mandado embora, com a burra cheia, para usar termo tão arcaico quanto honra. De certa forma, o treinador e o homem neste momento se confundem. O declarado amor pelo Atlético no início do trabalho perdeu-se em meio a empates e derrotas. O clube que se dane.
O presidente Malucelli, que tanto preza seus guardados, no que estou de pleno acordo, terá que abrir mão das economias para fazer o menino aqui iniciado esvaziar o armário e partir. 
Caso isso não aconteça, Adilson deverá enfrentar os jogadores, ir ao campo de treinamento e passar suas teorias, durar na ação até que nova derrota mobilize o Malucelli. Haja estômago.
Confesso que mesmo contrário à forma como Geninho foi demitido, achei que Adilson faria um bom trabalho no Atlético. Geninho estava com o time encaminhado, ele estava na arquibancada atento a todos os detalhes. Bastavam retoques na carroceria.
Errei feio. Se o Malucelli precisar passar a sacolinha para pagar a multa rescisória, eu, pecador confesso, pela falha humilhante, pelo erro gravíssimo, prometo contribuir com uns dez centavos. Da minha parte, é o que o senhor Adilson merece.

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