quarta-feira, 8 de junho de 2011

ÓRFÃO DE RONALDO

A apresentadora pergunta à expert em economia como ficam os empresários com a saída do Ministro da Casa Civil, o ex-Ministro da Fazenda que teve problemas com o caseiro, e a inquirida responde que o clima é desanimador. Nem poderia deixar de ser. O homem que articulou a campanha da Presidenta, colocou os empresários do seu lado, paralelamente aumentou seu próprio patrimônio em vinte vezes, perdeu o comando, as portas se fecharam para as benesses da República.
Sua substituta ressalta a importância do barbudinho no “processo de transformação do Brasil”. Podia ter passado em branco, elogiar o mal não beneficia o início de qualquer caminhada.
O Pacaembu assistiu ontem o fim de uma caminhada que nos deu muitas alegrias. Ronaldo, o Fenômeno, deu adeus à seleção brasileira.
Por muitos motivos, perdi o encantamento com a seleção. Torço, acompanho, me esforço e, normalmente, durmo antes do final da partida. Para aqueles que tiveram o privilégio de acompanhar o Brasil de 58 para cá, mesmo com distantes olhos infantis, maravilhados com as fotos da revista O Cruzeiro e as imagens do Canal 100 no cinema, o futebol nacional perdeu a graça, justamente pela falta de craques espetaculares, Ronaldo, um dos últimos remanescentes da legião de assombros que assisti jogar.
O menino magrinho do Cruzeiro, o sorriso enorme carimbando dribles e gols sensacionais, era a expressão da alegria de jogar, da malandragem de enganar o marcador, tomar a bola do goleiro desatento e dar motivo ao papo de segunda-feira, os cafés da manhã sempre iniciados com a frase: “viu o que o menino fez?”.
Na final contra a Itália em 94, quando o jogo pegou e a decisão nos pênaltis se encaminhava, torci para que Parreira colocasse o dentuço, via nele a solução para aquele impasse, que nem Romário e Bebeto davam jeito. Se bem me lembro, o professor preferiu Viola. Ganhamos nos pênaltis e o menino aprendeu a gostar da amarelinha.
Na Holanda, na Espanha, na Itália, Ronaldo maravilhou os estádios, suas imagens correram o mundo, tornaram o Brasil mais querido, levaram um mínimo de alegria a populações em desespero, os haitianos que o digam, trouxeram orgulho ao meu combalido coração brasileiro.
Na seleção, fez os gols que precisávamos, foi abençoado com a Copa de 2002, prêmio para todo o seu empenho em recuperar-se de múltiplos e dolorosos problemas, que o vitimaram em insuportável sequência para um ser humano normal. Ronaldo não era normal, era um fenômeno. Seu passeio pelo campo com a Bandeira às costas, o corte Cascão emoldurando o sorriso vencedor jamais será esquecido.
Ontem, resisti ao sono e esperei ansioso o momento de Ronaldo entrar em campo, torcendo por um último gol, justa homenagem do Deus da bola ao craque da camisa nove. As chances apareceram, o ataque o cumulou de presentes, mas o gol que eu queria, não aconteceu. Uma pena.
Nem tanto. Depois de cada defesa do goleiro, do chute para fora, renasceu o sorriso do menino no rosto do homem que aprendeu a brincar com a bola, entendeu o espírito do jogo e só desistiu por que o corpo maltratado impediu o seu e o nosso contentamento. Tanto quanto os gols e jogadas memoráveis, o sorriso fará falta.  
O Brasil amanheceu com dois tipos de orfandade. Os empresários órfãos de Palocci e o povo órfão de Ronaldo. Eu, pobre mortal, brasileiro em desalento, sou um órfão de Ronaldo.

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