domingo, 25 de agosto de 2013

É HOJE

Tenho que ir ao litoral e resolvo almoçar em Morretes, comer um barreado, passear pela cidade que na infância conheci em viagem de ônibus para as praias, parada obrigatória no Bar Barril para comer uns pastéis, um milho verde, tomar uma garapa, encher o estômago para enfrentar mais um tempão de estrada de saibro até Matinhos.

Sento em mesa com vista para o Nhundiaquara ao lado de três chineses em início de batalha com a garçonete. O china aponta para a propaganda do cardápio e a menina diz “camarão”, os chineses se entreolham sem entender nada, novo apontar para a foto, a solícita avança um “peixe frito”, aparece garçom mais antigo cheio de sorrisos e ataca de “barreado”, a conversa não avança, até que chamam um versado na idioma de Shakespeare. Com ar de soldado da rainha diz o morreteano sem mais delongas: “Fish, shrimp, tudo à vontade”. Nunca vi um chinês com o olho tão aberto.

De alguma forma chegou-se à conclusão pelo rodízio e aí ficou perigoso. O mais velho e mais simpático resolveu demonstrar como se faz o barreado. Colocou a farinha no prato, a carne, misturou tudo, fez aquela paçoca que conhecemos, virou-se para a chinesinha, calada como coxa em final de Copa do Brasil, e disparou: “Olhe para cima”.

A china olhava para os dois amigos com cara de “que caceta is that”, até que o senhor empurrou seu queixo de porcelana Ming para cima e virou o prato sobre sua cabeça. A paçoca agarrada ao prato milagrosamente não cai. Demonstrada a mágica do barreado, risadas gerais, câmeras fotográficas em mãos, cada china tirou sua foto com o prato sobre a cabeça, seguiu-se a feliz comilança.

Espero que esses chineses não sejam médicos em vias de ocupar posto de saúde em Morretes. Somos um povo cego em idiomas. Quantas brasileiras não se espantarão quando os pajés cubanos em início de consulta as cumprimentarem com o clássico “Hola! Que tal?”, confundindo o olá com a ave columbiforme de pequeno porte.

Volto à capital e o Paraná ganhou do Sport, a Vila lotada, o amigo paranista, novo demais para ter catarata, jorra lágrimas em cascata, enaltece o time, a torcida, acha que desta vez vai. Torcemos por isso. Só espero que tenham preservado o gramado para nossa grande exibição de hoje à tarde.

Pelo que li, o Botafogo vem sem Seedorf, nem por isso é menos perigoso. O Atlético vai ter que jogar muito, a torcida vai bater o recorde paranista, ajudar o time a vencer o vice-líder. Estou confiante. Depois que vi o milagre do barreado suspenso sobre a cabeça da chinesinha temerosa pela sua progressiva Made in China, tudo pode. O Fogão está aceso demais, está na hora do Furacão soprar esse fogo. É hoje.

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