Levantou hoje com a
claridade entrando pelas frestas da persiana, espiou a manhã curitibana e
descobriu o dia lindo. Decidido como um César às margens do Rubicão disparou
confiante: Eu vou!
Deve ir. Além da
necessidade do apoio, o atleticano poderá ver um Furacão que pelo menos tenta
ser moderno. O time que jogou em Macaé mostrou qualidades, o longo período de
treinamento deixou marcas positivas.
Diminuindo a distância
entre a primeira linha de defesa e a posição dos atacantes, o time joga
compacto, os jogadores próximos têm facilidade para a troca de passes, a
movimentação constante desorienta a defesa adversária, as finalizações
acontecem, tudo conforme o manual da modernidade, sem desprezar o drible, a
jogada individual.
Aquele que desejar
carimbar o Atlético com um esquema tradicional tipo 4-4-2 terá dificuldades,
tantos e tão inesperados são os deslocamentos dos rubro-negros. O ataque me fez
lembrar o movimento browniano das partículas em choque que aprendi lá na minha
juventude. Tudo se move, muda de direção, se choca, mas não lembra o caos do
fenômeno físico, tem um objetivo, a finalização sobre o gol adversário. O
ataque é boa surpresa.
Infelizmente, impossível
atacar os noventa minutos. O adversário joga, ataca, tem pretensões. Então, a compactação
observada lá frente tem que acontecer também atrás da linha do meio de campo.
Aí o movimento browniano não funciona. A defesa é o lugar de guardar posições,
cuidar das coberturas, virou buscapé, saiu da quarta zaga para marcar na
lateral, a brecha se abre, todo o sistema fica comprometido.
Ter liberdade no ataque
é fácil, ter disciplina na defesa é complicado, até por que o bom do jogo é
atacar, dá uma vontade danada de ir lá na frente tentar um golzinho. Resistir à tentação de ser herói e
humildemente cumprir a servil missão de proteger é função para os 300 de
Esparta.
Aí é que o bicho pega no
Furacão. Nossa defesa não consegue recompor as duas linhas de quatro com
rapidez e de forma organizada. Os defensores se cruzam dentro da área, o
zagueiro é visto na lateral, o lateral ficou lá na frente, o central avançou
demais, o socorro tarda, o atacante aparece livre na cara do gol, olha o gol,
gol que obriga a atacar mais, se expor ainda mais. É um círculo vicioso.
Eu diria que o Furacão
está com meio caminho andado, o ataque funciona, vai fazer gols, falta acertar
a defesa. Estou certo de que Nhô Drub sabe como resolver o problema,
transformar nossos defensores em soldados do rei, calmos, decididos,
disciplinados, fortes mentalmente, conscientes de que salvar um gol vale tanto
quanto o ato do comemorado artilheiro.
Para dar certo, ficar 100%
moderno, virar time com jeito internacional, o valor que Nhô Drub tem que
cobrar é a disciplina tática. No Brasil varonil dos craques que tudo sabem,
tudo resolvem, é quase como impor a pena de morte.
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