quinta-feira, 2 de maio de 2013

A ONDA DOS MENINOS

Está para começar o jogo do Barcelona e a esposa me pede para comprar ingredientes para um prato que está finalizando. Argumento que está tudo fechado, é dia do Trabalho, faço uma pergunta absurda sobre substituições e não consigo convencê-la. Vou ter que sair e assim sendo, é melhor sair rápido.

Boto o pé na rua e me lembro do armazém na frente do cemitério da Água Verde, o último representante dos antigos armazéns da área, um herói da resistência cercado de supermercados por todos os lados. Sobrevive dedicado à venda de flores, vasos, os sacos de feijão, arroz, milho, o vidro com ovos coloridos boiando, a pinga com mentruz servida em copinhos ficaram no passado.

Viro a esquina e o estabelecimento está aberto. Entro e vejo o casal no fundo da casa antiga com os olhos na televisão. Faço um ruído para não assustá-los e a senhora vem me atender. Vou fazendo minhas perguntas impossíveis e obtendo os esperados nãos como resposta. Enfim, consigo um sim e já me dou por satisfeito. Antes de sair vitorioso com um maço de salsinha resolvo saber sobre o jogo, imaginando a semi-final em Barcelona o motivo de tanta atenção na TV.

– O jogo já começou? – pergunto.

– Não sei – A resposta vem acompanhada de um passar de pano sobre o balcão.

– Hoje tem um jogo muito bom do Barcelona – continuo.

– Desses times não quero nem saber, o que me interessa é o meu Atlético. – Para quem que ela foi falar isso.

– E nós vamos ganhar –, atiro rápido. – Os olhos azuis da vendedora se iluminam, o ambiente envelhecido se renova, ela quer saber se temos chances, e eu fico a motivá-la, dizer que tudo pode, que é futebol, que os meninos farão tudo pela vitória.

À noite, no jantar para os sobrinhos queridos, o afilhado pergunta: “E aí tio, acha que vai dar?”

O atleticano de todas as idades está assim, desconfiado, meio com a viola no saco, esperando por um sopro de esperança, um Barack Obama que lhe diga: “Sim, nós podemos”.

E podemos mesmo, o Furacão do Prof. Berna já deu provas disso.

Terminada a noite, o maço de salsinha lá na cozinha intocado, vou sapear os sites, saber quanto foi o jogo do Furacão do Nhô Drub. Um a zero, contra o Grêmio Esportivo Osasco Ltda. Por que nada com relação ao time titular me entusiasma?

Melhor esquecer, olvidar meu milhão de perguntas, acreditar que lá na frente tudo vai dar certo, deixar esse barco rolar na minha maré de incertezas, viver a esperança iluminada pelas vitórias raçudas do passado, aproveitar a onda dos meninos

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