O
“avisem essa molecada, tem volta” do seu Rafinha ficou no aviso, a volta
aconteceu e nada aconteceu. A verdade ficou claramente estabelecida, esses
meninos estão correndo muito, um vacilo e o caneco toma o rumo da Baixada. Por
isso, melhor valorizar o Super-23, ocorrido o maior vexame da história coxa, a
base da desculpa estará pronta, bastará um “fizemos o nosso melhor, eles
tiveram mais sorte” seguido de rápida corrida para o vestiário.
O
torcedor alviverde nas redes sociais tirou o pé, somente os mais desbocados
mantêm-se vociferando impropriedades, os menos primitivos, sempre é bom lembrar
que os coxas também são seres humanos, recolheram-se às orações, estão nas
igrejas, nas sinagogas, nas mesquitas pedindo a todos os santos e santas pelo
empate salvador.
E
eu fico imaginando um zero a zero aos quarenta e três minutos do segundo tempo,
Douglas Coutinho recebe de Hernani na frente da área, toca Crislan, recebe de
volta entre os zagueiros e manda o chute louco matador...
O
som desaparece, a imagem entra em câmera lenta, a bola gira tão vagarosa que dá
para ler as inscrições no couro machucado, milhares de bocas mudas estão
abertas, o goleiro salta em desespero, vai alcançar, ninguém respira, o momento
do encontro da luva com a bola se aproxima, a bola vai passar... Passou,
passou, passou, passou, goooooooooollllllllllllllll do Furacão.
O
médico é chamado nas arquibancadas para atender o seu Vilson, Rafinha se
ajoelha com as mãos na cabeça, Alex coloca as mãos na cintura, Escudero fica
com aquele olhar de vaca atolada que lhe é peculiar, o chororô começa soluçado,
meninas desmaiam, alguém dá início a uma quebradeira.
No
fundo do campo uma pilha de rubro-negros comemora o gol, nas arquibancadas os
fanáticos deliram, um casal se beija apaixonadamente, um grito vai tomando
conta do treme-treme: “Um, dois, três, freguês, do Super-23”. A festa começa
nas ruas de Curitiba, as pizzarias reforçam seus estoques de tomate e azeitonas
pretas, o crepúsculo avermelhado pelos últimos raios do sol é ponteado por
enormes nuvens negras, rojões imensos disponibilizados pela natureza para
comemorar a vitória magnífica.
“Vá
sonhando, vá”, diz o coxa indignado com a minha premonição. O coxa está cheio
de razão. Sonhar é bom, mas imprescindível o entendimento de que só com muito
trabalho, dedicação de noventa minutos, serenidade franciscana e atenção a
todos os detalhes, em todos os momentos, a vitória será alcançada.
O
jogo se ganha no campo, o sonho acompanha o deslizar do ônibus, mas não
desembarca. Quem desembarca são os homens e suas forças individuais e coletivas,
suas vontades superiores. O jogo é encontro de vontades. Por tudo que já vi,
acho que a vontade dos nossos meninos será superior, eles terão mais gana, mais
fé, mais arrojo ofensivo, mais segurança defensiva. Por isso eu acredito, é
Furacão na cabeça.
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