sábado, 11 de maio de 2013

FURACÃO NA CABEÇA

A pergunta está na cabeça de todos os jogadores coxas-brancas: “E se nós perdermos o título para essa piazada?” Se a pergunta foi verbalizada, ninguém sabe. Se ali num canto do Atuba um grupelho de jogadores discutiu o assunto, improvável que alguém tenha conhecimento. O assunto é tabu. Prefere-se valorizar o time rubro-negro, esquecer idades, no fundo, preparar as desculpas para a provável derrota.

O “avisem essa molecada, tem volta” do seu Rafinha ficou no aviso, a volta aconteceu e nada aconteceu. A verdade ficou claramente estabelecida, esses meninos estão correndo muito, um vacilo e o caneco toma o rumo da Baixada. Por isso, melhor valorizar o Super-23, ocorrido o maior vexame da história coxa, a base da desculpa estará pronta, bastará um “fizemos o nosso melhor, eles tiveram mais sorte” seguido de rápida corrida para o vestiário.

O torcedor alviverde nas redes sociais tirou o pé, somente os mais desbocados mantêm-se vociferando impropriedades, os menos primitivos, sempre é bom lembrar que os coxas também são seres humanos, recolheram-se às orações, estão nas igrejas, nas sinagogas, nas mesquitas pedindo a todos os santos e santas pelo empate salvador.

E eu fico imaginando um zero a zero aos quarenta e três minutos do segundo tempo, Douglas Coutinho recebe de Hernani na frente da área, toca Crislan, recebe de volta entre os zagueiros e manda o chute louco matador...

O som desaparece, a imagem entra em câmera lenta, a bola gira tão vagarosa que dá para ler as inscrições no couro machucado, milhares de bocas mudas estão abertas, o goleiro salta em desespero, vai alcançar, ninguém respira, o momento do encontro da luva com a bola se aproxima, a bola vai passar... Passou, passou, passou, passou, goooooooooollllllllllllllll do Furacão.

O médico é chamado nas arquibancadas para atender o seu Vilson, Rafinha se ajoelha com as mãos na cabeça, Alex coloca as mãos na cintura, Escudero fica com aquele olhar de vaca atolada que lhe é peculiar, o chororô começa soluçado, meninas desmaiam, alguém dá início a uma quebradeira.

No fundo do campo uma pilha de rubro-negros comemora o gol, nas arquibancadas os fanáticos deliram, um casal se beija apaixonadamente, um grito vai tomando conta do treme-treme: “Um, dois, três, freguês, do Super-23”. A festa começa nas ruas de Curitiba, as pizzarias reforçam seus estoques de tomate e azeitonas pretas, o crepúsculo avermelhado pelos últimos raios do sol é ponteado por enormes nuvens negras, rojões imensos disponibilizados pela natureza para comemorar a vitória magnífica.

“Vá sonhando, vá”, diz o coxa indignado com a minha premonição. O coxa está cheio de razão. Sonhar é bom, mas imprescindível o entendimento de que só com muito trabalho, dedicação de noventa minutos, serenidade franciscana e atenção a todos os detalhes, em todos os momentos, a vitória será alcançada. 

O jogo se ganha no campo, o sonho acompanha o deslizar do ônibus, mas não desembarca. Quem desembarca são os homens e suas forças individuais e coletivas, suas vontades superiores. O jogo é encontro de vontades. Por tudo que já vi, acho que a vontade dos nossos meninos será superior, eles terão mais gana, mais fé, mais arrojo ofensivo, mais segurança defensiva. Por isso eu acredito, é Furacão na cabeça.

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