Muitos anos
atrás um menino me chamou de tio. Pela primeira vez me senti um velho. A
infância brasileira trocava então o reverente senhor pelo amigável tio. Eu
gostei, mesmo entendendo que meus primeiros grisalhos não eram mechas cheias de
charme, eram evidentes sinais de velhice. O senhor afastava, impunha respeito,
o tio veio para aproximar, sem perder o respeito imprescindível.
Ontem,
estava conversando com amigos, quando moça – atleticana de avô, pai e mãe, que
a tudo ouvia – se aproximou e perguntou com ar carrancudo demais para a sua
idade: “O tio votou no Petraglia, não?
Ela aludia ao
referendo que deu mais um ano de mandato ao Presidente. Respondi que sim e ela
saiu sem dizer nada, obviamente contrariada com minha decisão. Não me passou
uma descompostura, foi respeitosa no seu silêncio, afirmativo no seu pensamento
oposto ao meu.
Existe uma
realidade que não se pode colocar debaixo do tapete. Há um percentual de
rubro-negros felizes com a Arena, com os ganhos patrimoniais, insatisfeita com
a ausência de contratações, com as saídas, com a demora do Atlético gigante
dentro de campo.
Essa gente
espera sem criticas, desgostosa com os rumos do futebol do Furacão. Pode-se
dizer que nada há reclamar, o Atlético está a poucos pontos do G4 e é verdade.
Uma vitória domingo e subimos a ladeira. Existe, entretanto, uma desconfiança
latente com a equipe, um sentimento de que um pouquinho mais e estaríamos bem
melhor, um medo de que tudo possa desandar de uma hora para outra.
Quem sabe
seja a distância do time, o olhar televisivo que parece nunca acabar. Quem sabe
seja um desconforto sem razão, que o continuar de bons resultados e o retorno à
Arena lançarão ao esquecimento. É possível.
Os
condutores da política atleticana têm que saber da existência desses muitos que
confiam desconfiando, torcem com o rosário na mão. Não se pode deixar de dar
valor àqueles que, na dúvida, mantêm o respeito e a fé.
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