sábado, 2 de agosto de 2014

O RESPEITO E A FÉ

Muitos anos atrás um menino me chamou de tio. Pela primeira vez me senti um velho. A infância brasileira trocava então o reverente senhor pelo amigável tio. Eu gostei, mesmo entendendo que meus primeiros grisalhos não eram mechas cheias de charme, eram evidentes sinais de velhice. O senhor afastava, impunha respeito, o tio veio para aproximar, sem perder o respeito imprescindível.
Ontem, estava conversando com amigos, quando moça – atleticana de avô, pai e mãe, que a tudo ouvia – se aproximou e perguntou com ar carrancudo demais para a sua idade: “O tio votou no Petraglia, não?
Ela aludia ao referendo que deu mais um ano de mandato ao Presidente. Respondi que sim e ela saiu sem dizer nada, obviamente contrariada com minha decisão. Não me passou uma descompostura, foi respeitosa no seu silêncio, afirmativo no seu pensamento oposto ao meu.
Existe uma realidade que não se pode colocar debaixo do tapete. Há um percentual de rubro-negros felizes com a Arena, com os ganhos patrimoniais, insatisfeita com a ausência de contratações, com as saídas, com a demora do Atlético gigante dentro de campo.
Essa gente espera sem criticas, desgostosa com os rumos do futebol do Furacão. Pode-se dizer que nada há reclamar, o Atlético está a poucos pontos do G4 e é verdade. Uma vitória domingo e subimos a ladeira. Existe, entretanto, uma desconfiança latente com a equipe, um sentimento de que um pouquinho mais e estaríamos bem melhor, um medo de que tudo possa desandar de uma hora para outra.
Quem sabe seja a distância do time, o olhar televisivo que parece nunca acabar. Quem sabe seja um desconforto sem razão, que o continuar de bons resultados e o retorno à Arena lançarão ao esquecimento. É possível.

Os condutores da política atleticana têm que saber da existência desses muitos que confiam desconfiando, torcem com o rosário na mão. Não se pode deixar de dar valor àqueles que, na dúvida, mantêm o respeito e a fé.

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